Na pecuária, sempre há uma taxa de perda animal aceitável para os produtores. O problema é quando elas acontecem por causas que poderiam ser evitadas simplesmente pelo fornecimento adequado de energia.
“Está acontecendo uma mortalidade de aves anormal na região Sudoeste e Noroeste do Paraná devido à queda de energia elétrica”, comenta Cicero Bley, agrônomo, mentor em energias renováveis e ex-presidente do Centro Internacional de Energias Renováveis - Biogás (CIBiogás), que conta com 11 unidades de produção de biogás no Brasil.
Segundo o Relatório Anual da Adapar (Agência de Defesa Agropecuária do Paraná), o estresse térmico foi a principal causa das mortes de aves em 2016: das 7,5 milhões nas granjas do estado, 2,6 milhões (35%) foram por esse motivo.
Para melhorar a situação, Bley traz uma sugestão: a conversão de carcaças de aves, suínos e bovinos em energia elétrica para abastecer as propriedades rurais.
“Os produtores que têm perdas de lotes estão fazendo boletins de ocorrência e acionando a Copel [na Justiça]. Essas ações indenizatórias entram no próprio custo da Copel de tarifa de energia e podem impactar o consumidor. É um ciclo vicioso que precisa ser interrompido”, defende ele, que também atuou como superintendente de Energias Renováveis da Itaipu Binacional.
A prática já é realizada em países da Europa e nos Estados Unidos, e poderia ser adaptada no Brasil, explica o especialista: “Já temos recursos e equipamentos para isso”. O atual uso do biogás produzido a partir de dejetos animais seria um exemplo disso.
O problema é que, em pequenas fazendas, esse investimento pode ser inviável. Como a legislação não permite o trânsito de animais mortos, tudo precisaria ser feito na propriedade. “Como a segurança técnica e sanitária [do transporte de animais mortos] não é garantida, deslocar equipamentos e a indústria até lá custa caro”, afirma o diretor presidente da Adapar, Inácio Kroetz.
Sustentabilidade
Segundo Kroetz, o tema está constantemente sendo debatido, inclusive em grupos de saúde animal do Ministério da Agricultura, mas atualmente é permitida ‘apenas’ realização de técnicas de compostagem (transformações de restos orgânicos em adubo, por exemplo) e o enterro dos cadáveres. “Várias propostas já chegaram, como a conservação a frio, mas nem mesmo a Embrapa encontrou uma solução”, afirma o diretor.
Apesar dessa dificuldade, o uso de carcaças para gerar energia é ambientalmente correto, explica Cícero Bley, que mostra os riscos de enterrar ou incinerar animais mortos:
“É muito grande o risco da ruptura de norma biológica. São cadáveres orgânicos que vão apodrecer e criar condições biológicas para determinadas espécies de micro-organismo, o que pode causar desequilíbrio e grande impacto biológico”, revela o especialista, alertando para riscos de contaminação de solo e fontes de água potável por conta do chorume.
Cícero Bley conta que apresentou a solução em uma palestra no 4º Fórum de Biogás de São Paulo, e que conversou com o presidente da companhia energética, Antonio Souza Guetter. “Ele se mostrou surpreso com o numero de animais mortos”, diz. Por meio de sua assessoria de imprensa, a Copel informou que ainda não possui essa alternativa, mas que realiza outras ações de energias renováveis:
“A Copel, em parceria com Governo do Estado, FAEP (Federação da Agricultura do Estado do Paraná) e outras entidades, está desenvolvendo um Plano Estratégico de Biomassa que contempla, entre as alternativas de produção de energia, a biodigestão dos mais diversos insumos e resíduos agropecuários e agroindustriais. Contudo, ainda não temos nenhum projeto ou estudos com biodigestão de carcaças”.



