• Carregando...
 | DANIEL CASTELLANO/DANIEL CASTELLANO
| Foto: DANIEL CASTELLANO/DANIEL CASTELLANO

O Brasil está entre os dez principais países que mais perdem e desperdiçam alimento. De acordo com a coordenadora de Mudanças Climáticas do World Resources Institute (WRI) do Brasil, uma instituição de pesquisa internacional, Viviane Romeiro, são desperdiçados todos os dias 40 mil toneladas de alimentos. “Estamos falando da cadeia de perda e de desperdício. Perda que tem a ver com a colheita, a pós-colheita, com a distribuição e o desperdício que já vem no final da cadeia, que é no varejo, no supermercado e com o hábito do consumidor”, disse Viviane.

Segundo o representante da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) no Brasil, Allan Boujanic, cerca de 30% de tudo o que é produzido no mundo é desperdiçado e perdido antes de chegar à mesa do consumidor. “Isso provoca um prejuízo econômico estimado em US$ 940 bilhões por ano, o que corresponde a cerca de R$ 3 trilhões”, reitera Boujanic.

As consequências desse desperdício são bastante sérias, com impacto econômico e social, além de problemas com a segurança alimentar. “Hoje temos aproximadamente 7 bilhões de pessoas no mundo e a estimativa é que, em 2050, seremos 9 bilhões. Enquanto isso, aproximadamente 1 bilhão de pessoas não tem acesso adequado e sofre com desnutrição e falta de alimento adequado”, comenta Viviane.

Outras implicações dizem respeito aos aspectos econômico e ambiental. “Destacamos essencialmente a perda e impactos na biodiversidade, impactos no uso do solo, na escassez da água e também a questão do clima, das emissões de carbono”, disse. Segundo Viviane, se essa perda mundial com os alimentos fosse um país, ela seria o terceiro maior país do mundo por emissão de gás de efeito estufa, por exemplo, ficando atrás apenas da China e dos Estados Unidos.

Soluções

Para buscar alternativas para evitar o desperdício de alimentos no país foi criada a rede Save Food Brasil, com apoio da FAO, da WRI e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), entre outros. “Essa e outras campanhas da FAO para combater o desperdício de alimentos têm como principal mensagem a mudança de atitude. Temos que ser mais eficientes no uso dos alimentos, mais cientes de que o desperdício é uma realidade e produz muitos efeitos colaterais. É necessário um forte engajamento da sociedade civil, dos produtores e dos governos para fixar metas concretas de redução do desperdício e das perdas de alimentos não só no Brasil, mas em todo o mundo”, disse Boujanic.

A Rede foi criada pela ONU em diversos países no ano passado. Segundo o membro do corpo diretivo da Rede Save Food Brasil, Alcione Silva, em um primeiro momento o objetivo é trazer instituições, empresas e simpatizantes que trabalhem o tema de perdas e desperdícios no Brasil. “Conforme essa rede for crescendo, se tornar forte o suficiente para poder atuar em políticas públicas e inovações, trazendo soluções para o Brasil”, disse.

Alcione citou iniciativas como o Disco Xepa, de distribuição de sopas feitas com sobras de alimentos; a produção de tecnologia pela Embrapa; o Comida Invisível, que pretende fazer um food truck para conscientizar crianças e escolas sobre o reaproveitamento de sobras na cozinha; e o Fruta Imperfeita, que comercializa alimentos considerados “imperfeitos”, tais como uma batata ou cenouras tortas. “A gente precisa de 50% a mais de demanda de oferta de alimentos até 2050 para alimentar essas 9 bilhões de pessoas. Deveria ser até uma preocupação muito maior por parte de todos os atores”, afirma.

Marco Regulatório

Para Viviane, uma das ações que poderia ajudar a reduzir o desperdício e a perda de alimentos no país seria a adoção de um marco regulatório. “Hoje temos vários projetos de lei mas que não foram aprovados ou promulgados. É muito importante que tenhamos um marco regulatório específico e que proporcione segurança jurídica para que as empresas realizem suas doações de forma adequada e para que haja incentivos e subsídios para a redução desse problema”, afirma a coordenadora.

Alcione acredita que a grande dificuldade diz respeito à cadeia logística. “Tanto a cadeia de distribuição quanto a de armazenamento e o consumidor final tem uma grande perda de alimentos por falta de infraestrutura. Nossas centrais de abastecimento não tem uma infraestrutura adequada. Faltam cadeias e câmaras frias e falta conscientização na parte de manipulação e embalagens. Diria que esse é o problema mais grave que a gente tem no desperdício de alimentos”, disse.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]