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Nasa quer replicar fora da Terra o plantio de batatas. | HENRY MILLEO / 
Gazeta do Povo
Nasa quer replicar fora da Terra o plantio de batatas.| Foto: HENRY MILLEO / Gazeta do Povo

Quando a Nasa disser que pretende levar astronautas a Marte na década de 2030, mande-a plantar batatas. Ou, pelo menos, é o que o Centro Internacional da Batata, no Peru, já está fazendo.

A organização se emparceirou com a agência espacial americana para realizar um experimento que criará uma plantação de batatas num ambiente simulado que se assemelhe ao planeta vermelho, ainda que aqui na Terra.

O solo será retirado do deserto Pampas de La Joya, no Peru, que os pesquisadores acreditam ser uma aproximação razoável do que existiria em Marte.

O material será colocado numa estufa fechada contendo uma versão da atmosfera marciana, composta por 95% de dióxido de carbono.

“Estou empolgado de colocar batatas em Marte e ainda mais que possamos usar um terreno marciano simulado saído de tão perto da área onde as batatas se originaram”, afirmou Julio Valdivia-Silva, pesquisador do Instituto SETI (instituto de busca por inteligência extraterrestre, na sigla em inglês), ligado à Nasa, que lidera a equipe científica do projeto.

Nativas de uma região na divisa do sul do Peru com o noroeste da Bolívia, as batatas são um dos alimentos mais nutritivos e calóricos que se pode plantar.

Por isso, podem ser uma importante fonte de energia para tripulações que tenham de passar longos períodos longe da Terra - como será o caso dos astronautas que no futuro explorarão Marte.

Aliás, uma plantação de batatas marciana foi exatamente a forma que o fictício astronauta Mark Whatney, interpretado pelo ator Matt Damon, encontrou para sobreviver no planeta vermelho, no filme “Perdido em Marte”.

Será que poderia funcionar também na vida real?

Desafios

“Quando trabalhamos com simulação ambiental, é bem difícil mimetizar todas as condições ao mesmo tempo”, comenta Fabio Rodrigues, astrobiólogo do Instituto de Química da USP que não participa do estudo. “Por isso, é muito difícil prever o comportamento exato do objeto de estudo no ambiente real.”

Por exemplo, o trabalho do Centro Internacional da Batata com a Nasa não pretende simular os efeitos da radiação cósmica sobre as plantações --e em Marte, por conta da falta de um campo magnético global e da atmosfera rarefeita, isso pode ser um problema para plantações.

Ainda assim, Rodrigues considera o estudo fundamental para futuras pretensões de colonização espacial, além de poder nos ajudar aqui mesmo.

“É bem difícil prever se o resultado final será positivo quanto à possibilidade de crescimento das batatas nas condições de Marte, mas certamente nos trará avanços no entendimento de como esse modelo cresce em condições extremas.”

E esse é um benefício imediato do estudo, como apontam os autores. Conhecer os limites para o plantio de batatas pode perfeitamente ajudar a aprimorar os cultivos aqui na Terra.

E isso se torna ainda mais urgente com a mudança climática, que afeta as condições do solo em várias partes do planeta e pode alterar de forma significativa o desempenho da agricultura.

Julio Valdivia-Silva, da Nasa, defende que, ao aprendermos a plantar em Marte, um lugar sabidamente mais inóspito que qualquer região do nosso planeta, estaremos prontos para qualquer eventualidade por aqui.

E o pior que poderia acontecer seriam as batatas não germinarem.

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