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 | Marco Andre Lima / Gazeta do Povo
| Foto: Marco Andre Lima / Gazeta do Povo

Perene, de rápido crescimento (algumas espécies crescem até 20 centímetros por dia) e de fácil regeneração, o bambu pode produzir por mais de 30 anos, sem a necessidade de replantio.

O pesquisar da Embrapa Acre, Elias Miranda, conta que uma das principais particularidades do manejo dessa gramínea é a colheita seletiva, com retirada anual de colmos maduros.

Colmo é o caule de alguns tipos de gramíneas, como bambu e cana-de-açúcar, em que os nós e entrenós são bastante visíveis.

Em bambuzais nativos, deve ser colhida metade das plantas por touceira (o agrupamento mais denso das plantas). Em cultivos plantados, a partir dos cinco anos é possível colher de 20% a 50% dos colmos com potencial econômico, dependendo da espécie e finalidade de uso.

O pesquisador explica, ainda, que a extração regular, com base em orientações técnicas, ajuda a planejar a produção, facilita a colheita e permite o surgimento de novas plantas, aspecto que garante a manutenção do bambuzal e sustentabilidade à atividade.

“Como se trata de uma planta ainda em fase de domesticação, existe um longo caminho até desvendar plenamente a sua biologia”, afirma.

De praga a fonte de renda

Na propriedade do agricultor Assis Oliveira, em Assis Brasil (AC), a família investiu na comercialização de colmos (varas) e esterilhas (pranchas aplainadas utilizadas para a confecção de painéis). “O aprendizado prático ajudou a transformar em fonte de renda uma planta vista como praga. Em três anos, faturamos 80 mil reais com a venda desses produtos. Uma pena não ter despertado antes para o valor do bambu”, revela. O faturamento corresponde a R$ 26,6 mil anuais.

Os resultados motivaram outros produtores rurais a pensar na gramínea como atividade produtiva, entre eles Francisco da Silva, de Porto Acre (AC), que há dois anos tem o apoio de pesquisadores no manejo da planta. “Aprendi a realizar a colheita na floresta e tratar a madeira de forma adequada. Hoje atendo encomendas de empresas de Rio Branco e São Paulo. Cada vara de quatro metros custa entre R$ 8 e R$ 12, de acordo com o diâmetro”, diz. A meta do agricultor é ampliar o negócio com o cultivo de bambu consorciado com açaí.

No Brasil, há mais de 200 espécies

De acordo com a Lista de Espécies da Flora Brasileira, existem 258 espécies de bambu no país, distribuídas em 35 gêneros e encontradas nos diferentes biomas brasileiros. Essa diversidade, correspondente a cerca de 20% do total dos bambus no mundo, favorece a realização de pesquisas para o melhoramento genético da planta e conservação da espécie, o que é feito pela Embrapa desde 2013, em parceria com a Universidade de Brasília (UnB). Um dos enfoques desses estudos é a produção de mudas, a partir de materiais genéticos de interesse comercial coletados em localidades da Amazônia e Cerrados.

Entre os resultados dos estudos está a definição de protocolos para a produção de mudas em laboratório, por propagação in vitro, com uso de biorreatores. O método, de acordo com o pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (DF), Jonny Everson Pereira, permite multiplicar as plantas de forma semi-industrial.“Isso garante a oferta de mudas de qualidade, em larga escala, e reduz tempo e custos com mão-de-obra”, enfatiza.

Além da técnica in vitro, no Acre a produção de mudas ocorre também em viveiros instalados em propriedades rurais parceiras, atividade que avalia a capacidade reprodutiva de espécies do gênero Guadua. “Por ser um processo simples, a propagação natural, por brotação de estacas, pode ser realizada pelos agricultores para obtenção de plantas tanto para aplicação em benfeitorias na propriedade rural como para gerar renda extra”, salienta Elias Miranda.

Mapa do bambu

A maior reserva natural de bambu do planeta, localizada no sudoeste da Amazônia Legal, abrange cerca de 180 mil quilômetros quadrados de florestas com a presença da planta, que se iniciam na Cordilheira dos Andes e se estendem até o Acre e parte do Amazonas. Essa imensa mancha verde cobre cerca de 40% das florestas acreanas, o equivalente a 4,5 milhões de hectares com bambus nativos, conforme dados do Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) do estado. Para conhecer de perto esse recurso natural, desde 2009 um grupo de pesquisadores realiza o mapeamento de diversos municípios.

No Brasil, existem 258 espécies de bambu no país, distribuídas em 35 gêneros e encontradas nos diferentes biomas brasileiros.Antônio More / Agência de Notícias Gazeta do Povo

Mercado em expansão

Presente em diversas partes do mundo, o bambu é utilizado para diferentes finalidades - da produção de brotos comestíveis à execução de projetos inovadores em arquitetura e engenharia. Segundo a Rede Internacional de Bambu e Rattã (Inbar), entidade que reúne mais de 43 países em iniciativas voltadas para o uso desses vegetais, incluindo o Brasil, o mercado mundial do bambu movimenta cerca de US$ 60 bilhões por ano.

No Brasil, conforme a Associação Brasileira de Produtores de Bambu (Aprobambu), há cultivos da planta no Maranhão (22 mil hectares) destinados à produção de biomassa para geração de energia para o setor industrial, principalmente cervejarias e cerâmicas. Na Paraíba e Pernambuco, os 15 mil hectares com bambu destinam-se à produção de celulose e papel para embalagens de cimento. São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Bahia e Paraná investem em cultivos comerciais com foco na produção de painéis, broto e fitocosméticos.

Guilherme Korte, presidente da Aprobambu, considera as pesquisas essenciais para direcionar investimentos para suprir a demanda crescente por bambu no mercado interno e de outros países. “Temos imensas reservas naturais com espécies de Guadua tão resistentes, leves e flexíveis quanto a madeira convencional, que podem ser aproveitadas, e um clima propício para o cultivo da planta em todas as regiões, inclusive como alternativa para recuperação de áreas degradadas. O caráter renovável e os usos múltiplos fazem do bambu uma excelente alternativa de produção para agricultores familiares e uma opção de negócio sustentável para a região, com benefícios econômicos, sociais e ambientais”, destaca.

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