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Árvores de Natal produzidas nos Estados Unidos podem ficar restritas ao mercado doméstico | cs/lwc/rix/CHIP SOMODEVILLA
Árvores de Natal produzidas nos Estados Unidos podem ficar restritas ao mercado doméstico| Foto: cs/lwc/rix/CHIP SOMODEVILLA

Nos piores dias da recessão global, há menos de dez anos, os norte-americanos estavam gastando menos com árvores de Natal. Naquele período, os produtores de árvores do estado do Oregon descobriram uma oportunidade.

Quando os Estados Unidos tiveram excedente de produção, o México cresceu a demanda por um pinheiro chamado abeto. Oficiais de agricultura de ambos os países criaram, então, um relacionamento que praticamente dobrou as exportações dessas árvores nos últimos quatro anos, chegando a US$ 22,6 milhões em 2015. Agora, uma em cada seis árvores produzidas pelo estado do Noroeste do país é transportada para a fronteira do sul dos Estados Unidos.

Neste fim de ano, contudo, os oficiais estão preocupados que seus lucros sejam perdidos por conta da decisão do presidente Donal Trump de renegociar o NAFTA - Tratado Norte-Americano de Livre Comércio. Caso os Estados Unidos se retirem do acordo internacional, o resultado pode ser uma retaliação do México, com a imposição de novas tarifas ao produto estadunidense e favorecendo o envio de pinheirinhos do Canadá.

“O governo não entende a importância das exportações agrícolas e os bilhões de dólares que estão em risco, e de forma desnecessária”, afirma Tim O’Connor, diretor executivo da Associação Nacional de Árvores de Natal. O redesenho do NAFTA “pode ser devastador para agricultura e para a economia dos EUA”.

Oficial do Departamento de Agricultura do Oregon e responsável pela construção do ‘relacionamento natalino’ com o México, Helmuth Rogg afirma que isso pode desfazer anos de um extenso e duro trabalho. O estado é atualmente o maior fornecedor de árvores de Natal para o México.

“O risco de termos o produto devolvido nas fronteiras, perdendo árvores, e pagando um imposto de 20% não compensa para nossos produtores”, afirma Roog.

Um trilhão em jogo

A administração Trump está forçando mudanças no NAFTA, um acordo estabelecido pelas três nações da América do Norte em 1994 e que agora movimenta cerca de US$ 1 trilhão em negócios por ano. Grupos corporativos como a Câmara de Comércio dos Estados Unidos já se manifestaram contra propostas-chave do governo, como o aumento obrigatório de itens locais para a fabricação de carros e a proposta de expiração do acordo em cinco anos - a menos, claro, que os países concordem em estender o acordo.

Grupos de produtores agrícolas - que apoiaram fortemente a eleição de Trump - tentaram prevenir os Estados Unidos da saída do NAFTA e de outros acordos de livre-comércio, com a Parceria Transpacífico. Em um de seus primeiros atos como presidente, Trump tirou os Estados Unidos desse último tratado.

“Nossa indústria precisa realmente de acordos de comércio internacional, como o Transpacífico e o Nafta, para manter o movimento do mercado”, afirma Chris Aldrich, da Natives Northwest Company (Empresa Nativos do Noroeste), um dos fornecedores de árvores que fica no estado de Washington.

Se o NAFTA for deixado de lado, isso pode levar cada país a determinar suas próprias tarifas sobre as importações, o que deixa os produtores de árvores de Natal ainda mais ansiosos. Eles afirmam, inclusive, que há evidências de que uma nova taxação iria impactar os negócios.

Se a administração Trump decidir sair do NAFTA , produtores de pinheiros norte-americanos podem ser prejudicadosNICHOLAS KAMM/AFP

Em 2009, o governo mexicano impôs uma taxa de 20% sobre as árvores de Natal em retaliação ao fato de os Estados Unidos terem proibido a venda de caminhonetes do país vizinho. O resultado dessa batalha comercial foi a queda de 10% nas encomendas de árvores para a McKenzie Farms, afirma o CEO da empresa, Ken Cook. No ano passado, ele enviou 250 carregamentos de árvores para o México.

Ainda que um redesenho do NAFTA possa gerar grande impacto, Cook afirma que, pelo menos neste ano, ele ainda não está preocupado com sua sobrevivência, já que a menor disponibilidade da árvore fez a demanda doméstica crescer, elevando os preços. Apesar disso, grande parte do produto ainda tem o México como destino.

“Vamos precisar encontrar outro lugar para vender montes de árvores”, diz Rogg.

Colheita de Natal

Bob Schaefer realiza a colheita de árvores de Natal na propriedade Noble Mountain Tree Farm com o auxilio de drones e helicópteros. Segundo ele, o governo do México fez a indústria norte-americana atravessar alguns obstáculos para autorizar as exportações. “Eles tentaram proteger a indústria local com restrições às importações”, afirma.

No último ano, o Ministério do Meio Ambiente e de Recursos Naturais do México introduziu novas exigências para as árvores de Natal importadas, ao adicionar dez novos testes de inspeção de pragas nas árvores, e reiterando os requisitos de pulverização com inseticidas antes do envio.

“O México, em particular, é um mercado enorme”, diz Schaefer. Referindo-se às negociações do NATFA, ele afirma: “Não acredito que vão parar de comemorar o Natal no México”.

Os produtores mexicanos estimam as vendas em cerca de 700 mil árvores neste ano, número praticamente igual ao das importações vindas dos Estados Unidos, segundo dados da Comissão Nacional de Silvicultura local.

“Esperamos que o processo de modernização do NAFTA traga resultados positivos”, destaca Raul Urteaga Trani, coordenador geral de negócios internacionais do Ministério da Agricultura do México. “Mesmo assim, o atual debate e as ameaças dos Estados Unidos da retirada do acordo fez com que os produtores mexicanos de árvores de Natal aumentassem a produção doméstica”.

Além disso, ele afirma, os fornecedores do Canadá podem satisfazer a demanda do país para os próximos anos.

Ao olhar para os resultados do último fim de ano, a possível saída dos Estados Unidos do NAFTA pode ter impactos em toda a cadeia agrícola estadunidense, segundo O’Connor, da Associação Nacional de Árvores de Natal do país norte-americano.

“Se nossos especialistas em comércio exterior constatarem que a negociação não está funcionando, todo o comércio da agricultura irá naufragar. Caso isso aconteça, esses produtos vão sobrar para o fornecimento do mercado doméstico”, completa.

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