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João K. recebeu o prêmio nesta semana, em São Paulo | Gerardo Lazzari /Abag
João K. recebeu o prêmio nesta semana, em São Paulo| Foto: Gerardo Lazzari /Abag

O homem que descobriu um jeito de dobrar o tamanho das terras agrícolas brasileiras sem derrubar uma árvore não conteve as lágrimas ao receber nesta semana o prêmio Norman Borlaug, em reconhecimento à contribuição revolucionária dada por ele ao desenvolvimento da agricultura tropical sustentável.

O engenheiro agrônomo João Kluthcouski, conhecido como João K. (para evitar dificuldades com o sobrenome ucraniano), é o principal idealizador do sistema de integração lavoura-pecuária, uma revolução “Made in Brazil” que hoje ocupa 12 milhões de hectares e recolocou no mapa da produção terras degradadas por pastagens, antes dadas como perdidas para a agricultura.

Basicamente, a ideia da integração é não deixar o solo descoberto, semeando junto grãos e o capim para o gado (braquiária). Depois de colher o milho ou a soja, o capim que já está na terra vira pasto nutritivo para os bois, não sem antes arejar o solo e aumentar o nível de matéria orgânica. O ciclo se repete com o plantio direto. Agregando ainda mais valor ao sistema, muitos produtores incluem no consórcio fileiras de eucalipto que, além da produção da madeira e do sequestro de carbono, trazem à superfície os nutrientes profundos e proporcionam sombra e conforto para o gado.

A pesquisa de João K. demonstrou que a emissão de gases de efeito estufa pela criação de gado, no sistema integrado, cai quase pela metade. A cobertura verde nos 365 dias do ano absorve carbono, em vez de emitir.

“Graças à pesquisa brasileira e à ousadia do nosso produtor, estamos vivendo a maior revolução de todos os tempos em nossa agricultura. Tem produtor que já não está contente em produzir 12 mil quilos de milho por hectare, quer chegar a 18 mil. Não sei onde vamos parar, eu fico meio perdido com tudo isso”, disse João K. ao receber o troféu no auditório lotado do 16º Congresso Brasileiro do Agronegócio, em São Paulo (8).

João K. nasceu em Apucarana, no Norte do Paraná, cursou agronomia no Rio Grande do Sul e fez dos solos de todo o Brasil seu objeto de estudo. Para ele, a integração lavoura-pecuária-floresta representa “juntar todas as revoluções anteriores num só sistema, o que permite quatro safras por ano, e só nós podemos fazer isso”. “O Brasil solucionou o problema dos solos arenosos. Estamos trazendo à produção 50 milhões de hectares, que antes dávamos como perdidos. O campeão paranaense de produtividade de soja veio do Arenito Caiuá, uma região de solo arenoso. Tá resolvido o problema”, aponta o agrônomo.

Atualmente João K. comanda a pesquisa na Embrapa Cerrados para incluir o girassol no sistema de integração: “Já temos 27 mil hectares cultivados, produzindo 46 sacas por hectare. Estamos tirando o pedestal da Rússia e da Ucrânia na produção do girassol”.

O prêmio Norman Borlaug, concedido a João K., leva o nome do norte-americano considerado o pai da agricultura moderna e Nobel da Paz de 1970. O biólogo Borlaug dedicou a vida ao desenvolvimento de variedades de cereais mais produtivas e resistentes a doenças, com a intenção de dar autossuficiência a países pobres, como o Brasil, na produção de alimentos. “Quando comecei na Embrapa, em 1970, o Brasil era importador de alimentos e, hoje, somos agroexportadores. O Norman participou muito desta nossa revolução”, aponta João Kluthcouski.

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