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O agricultor Eduardo Guedes com sementes de alta produtividade em Ventania, no Paraná. Tecnologias exigem cada vez mais investimento no campo | Josua© Teixeira/gazeta Do Povo
O agricultor Eduardo Guedes com sementes de alta produtividade em Ventania, no Paraná. Tecnologias exigem cada vez mais investimento no campo| Foto: Josua© Teixeira/gazeta Do Povo

Parte da história centenária da soja no Brasil pode ser contada pela evolução das sementes. O grão lançado no campo no Noroeste do Rio Grande do Sul em 1914 rendia menos da metade do volume oferecido pelas novas variedades, que carregam um histórico de décadas de pesquisa e investimentos milionários.

E as novas tecnologias se alastram cada vez mais rapidamente. Prova disso é a soja geneticamente modificada (GM), que foi lançada pela norte-americana Monsanto e, na última década, passou de 40% para mais de 90% das lavouras do Brasil. Nos últimos anos, a preferência por lavouras de ciclo mais curto e com menos folhas fez tecnologias argentinas da Nidera e da Don Mario se alastrarem por 40% das plantações, ou 12 milhões de hectares.

As novas variedades avançam em diversas frentes, da adaptação a condições ambientais severas como a seca até a resistência a insetos. Para desenvolver as cultivares de soja, a indústria percorre um longo processo, que mobiliza profissionais de diversas áreas, como biologia, química e engenharia.

O primeiro passo é a busca de eventos de interesse para a pesquisa. Segundo o setor, um mesmo projeto chega a realizar mais de 100 mil experimentos, que envolvem a seleção de sementes já existentes e simulações em estufas na procura por perfis genéticos ideais. Se o resultado é positivo nesta etapa, passa-se para um ciclo de pré-desenvolvimento. Caso o investimento seja considerado viável, a pesquisa segue adiante. A última etapa é o lançamento e a comercialização.

Esse processo custa em média US$ 136 milhões (ou R$ 345 milhões) e leva 13 anos, aponta a multinacional Dow AgroSciences, que tem sede em Indianápolis (Estados Unidos). “É cada vez mais caro desenvolver uma molécula ou novo evento genético e há muitas barreiras, como a burocracia. Isso tem levado o mercado a reduzir o número de lançamentos”, resume Ramiro de La Cruz, diretor de Negócios em Proteção de Cultivos da empresa.

No campo, o acesso às tecnologias também exige mais recursos. Dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) mostram que em uma década o custo médio da semente dobrou, saindo de R$ 2 para R$ 4,65 para produção de uma saca de 60 quilos. Os reajustes se sustentam no aumento da produtividade, mas podem estar perto de um limite. “O mercado se autorregula. Se o custo subir demais o produtor simplesmente não vai comprar essa variedade mais cara” avalia o pesquisador da Embrapa Soja e integrante do Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB), Elíbio Rech.

Futuro

Os pesquisadores avaliam que os avanços da soja estão longe de um ápice. Além das empresas que pesquisam sementes, multinacionais como Bayer e Basf desenvolvem sistemas de proteção das lavouras que elevam os índices de produção.

Problemas no campo abrem espaço a tecnologias específicas. A soja Intacta RR2 PRO, da Monsanto, ganha mercado com promessa de incremento na produtividade e principalmente por ser resistente a lagartas numa época de aumento da pressão dos insetos. Foram mais de 10 anos de pesquisa e investimentos que passam de US$ 150 milhões (ou R$ 382 milhões), conforme o diretor do projeto e do setor de soja da Monsanto para a América do Sul, Ernst Sanders.

Eficiência exige compromisso coletivo

O desempenho das sementes depende de rigor no manejo e as pesquisas requerem segurança institucional, conforme a indústria. Além da promessa de maior rendimento, a disciplina no campo prolonga a vida útil das novas tecnologias, evitando o aparecimento de plantas daninhas resistentes a determinados herbicidas, por exemplo.

O pesquisador da Embrapa Soja e membro do Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB) Décio Luiz Gazzoni defende que é preciso mais integração entre governo, empresas e setor produtivo. “Sem isso, coloca-se em risco tecnologias muito boas para os produtores”, indica. Medidas como a obrigatoriedade de plantio de refúgio vêm sendo discutidas. Nessas áreas, insetos não resistentes a uma tecnologia específica se reproduzem com insetos resistentes, gerando descendentes suscetíveis ao controle.

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