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O Ministério da Agricultura (Mapa) convocou para amanhã uma entrevista para apresentar o balanço da viagem de 25 dias do ministro Blairo Maggi por sete países da Ásia. A expectativa, no entanto, é que o ministro apresente um balanço maior, que contemple desde o primeiro dia que assumiu o comando do Mapa, em 11 de maio. Ele precisa explicar e justificar porque em pouco mais de quatro meses ficou pelo menos dois meses fora de Brasília. A conta considera os dias em que Maggi estava fora do país ou então em viagens nacionais, portanto, ausente do gabinete. Terça-feira Blairo completa 140 dias à frente do ministério.

Na linha do temos que vender e não apenas ser comprados, importante e necessária a investida comercial do Brasil em outros países. Assim como é imprescindível conhecer a realidade e o momento do agronegócio nacional em suas diversas regiões e inúmeras cadeias produtivas. As motivações das viagens, então, são inquestionáveis. Apenas não dá para tratar do assunto como se o ministro e o ministério estivessem descobrindo o Brasil e o mundo do agronegócio pela primeira vez. Assim como é preciso renovar essas relações políticas, comerciais e institucionais, também é preciso valorizar e reconhecer aquilo que já foi feito.

O agronegócio moderno teve grandes ministros. Se o Brasil é um dos principais produtores e exportadores mundiais, isso não começou há quatro ou cinco meses, mas há décadas. Quem não se lembra do ministro Pratini de Moraes, responsável pela maior abertura comercial do agronegócio brasileiro no mercado internacional. Movimento que continuou com Roberto Rodrigues, se fortaleceu com Reinhold Stephanes e transformou o Brasil no grande player do mercado de grãos e carnes. Inclusive com a participação do então ministro Neri Geller, hoje secretário de Política Agrícola do próprio Maggi.

E Blairo sabe disso. Porque antes de ser ministro, senador e governador do Mato Grosso ele é produtor rural e empresário do agronegócio. E como tal, foi um dos beneficiados por esse processo de fortalecimento da produção e da exportação nacional. Se ele já foi o maior produtor individual de soja do país e um dos maiores do mundo é porque havia ambiente favorável para isso. Mérito dele, claro. Mas também tem a ver com o governo e com os ministros que o sucederam.

Em uma de suas viagens, com dois meses no Ministério da Agricultura, o ministro disse em Curitiba “que muitas coisas que devem ser feitas e não foram, não serão enquanto formos um governo provisório”. Isso no começo de julho, há quase três meses. Ele se referia ao governo do presidente Michel Temer, no processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Como Temer foi confirmado no cargo, talvez é chegada a hora de fazer acontecer as coisas que deveriam ter sido feitas e que não foram.

Espera-se então que na coletiva de amanhã o ministro Maggi traga dados concretos de mercado, negócios e oportunidades. Porque se este ou aquele país abriu o mercado para produtos brasileiros, ou como diz o ministro em seus posts no facebook, que “hoje abrimos o mercado” aqui ou ali, a cadeia produtiva precisa entender o que isso realmente significa. Se este é o início de um processo demorado e burocrático de credenciamento e certificação. E principalmente se começamos a vender mais em um ou dois meses ou em um ou dois anos. No discurso, os números podem contar a história que nos for mais conveniente. Na prática, porém, é um pouco diferente.

Também é preciso destacar que muitos dos acordos anunciados ou assinados começaram a ser costurados antes mesmo da atual gestão do Mapa. A indiana UPL, por exemplo, não decidiu investir R$ 1 bilhão em uma fábrica no Brasil porque o ministro Maggi foi à Índia. Isso ajudou. Mas a decisão do investimento no país já estava tomada. A investida do Mapa na Ásia foi inédita? No formato como foi concebida, sim, uma operação singular. E tem seu mérito. Agora, a Ásia não se transformou no maior parceiro comercial do agronegócio brasileiro ontem e também não foi à toa. Ações e aproximações, de maneira pontual ou ampliada foram desenvolvidas inúmeras vezes, por vários ministros e ministérios.

Mas como ainda tem muito a ser feito – a considerar o dinamismo do agronegócio, sempre haverá muito por se fazer – Blairo Maggi e seus predicados são mais do que bem-vindos. Só que agora, em um governo confirmado e definitivo, será preciso mais do que discurso e credenciais. Será preciso entregar. E se para entregar é preciso viajar, não há problemas. Mas é preciso entregar mais do que selfies. Viajar é preciso. Mas governar também. E que venham novos mercados. Porque produzir é preciso. Mas exportar também.

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