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Durante 11 dias, a Expedição Safra percorreu 6,2 mil quilômetros em 18 regiões nos quatro estados do Matopiba. | JONATHAN CAMPOS/Gazeta do Povo
Durante 11 dias, a Expedição Safra percorreu 6,2 mil quilômetros em 18 regiões nos quatro estados do Matopiba.| Foto: JONATHAN CAMPOS/Gazeta do Povo

Na safra 2014/2015, a região do Matopiba, que reúne Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, produziu aproximadamente 10 milhões de toneladas de soja. Para a safra 2015/2016, a Expedição Safra Gazeta do Povo projeta uma redução de 30%, número que pode ser ainda maior caso as chuvas previstas para os próximos dias não se confirmem, o que muito provavelmente acontecerá. O histórico de chuvas para a região aponta que a partir da segunda quinzena de março o período chuvoso é bastante reduzido.

Durante 11 dias, a Expedição Safra percorreu 6,2 mil quilômetros em 18 regiões nos quatro estados do Matopiba. A maioria das lavouras foram castigadas com a seca e altas temperaturas. É notório que teremos áreas com boa produtividade, no entanto, em outras, não haverá nem se quer viabilidade econômica para pagar o custo da operação de colheita. Em toda região do Matopiba, as chuvas demoraram à chegar. Nos anos anteriores, o plantio começou em meados de outubro, e nesta safra, a janela de plantio começou em novembro estendendo-se até final de janeiro.

O maior problema da safra 2015/2016 no Matopiba foi a forte influência do El Niño: falta de água e má distribuição das chuvas. A água é o insumo mais importante de uma lavoura e o fator mais limitante ao desenvolvimento das plantas. Por isso, sem umidade no solo, a planta de soja tem seu potencial produtivo reduzido desde o plantio:

- A água tem papel fundamental na germinação das sementes, e na sua ausência, a germinação ocorre de forma desuniforme, além de reduzir o vigor das sementes;

- Durante os estádios vegetativos, a água é indispensável em todos os processos fisiológicos como a fotossíntese, regulação de temperatura e balanço energético. Sem água, por exemplo, as plantas acumulam menos nutrientes e produtos da fotossíntese, os quais seriam redistribuídos para os grãos nos estádios reprodutivos, refletindo em produtividade;

- No estádio do florescimento, a água é fundamental para a produção e o transporte de compostos que vão garantir bom pegamento de flores de soja. Porém, na ausência de flores não há vagens, e sem vagens não há como produzir grãos;

- A falta de água também reduz a qualidade dos grãos colhidos, seja por peso, granulometria e qualidade fisiológico para o caso de soja sementes.

Além da seca, muitos produtores rurais relataram a incidência de altas temperaturas durante todo o dia, além da alta incidência de irradiação solar, que somado a falta de umidade no solo, causaram a senescência prematura de folhas e ramos, e o abortamento de vagens. Estes processos ocorrem quando não há água suficiente no solo para regular o fluxo de gases e temperatura da planta, paralisando os principais processos fisiológicos fundamentais à produção de grãos.

Os problemas de seca e altas temperaturas forma agravados em regiões de solos arenosos e com histórico recente de cultivo. Na região do Matopiba o cultivo da soja expandiu-se para áreas marginais com terras mais baratas e solos arenosos que, em muitos casos, não apresentam viabilidade técnica e econômica ao cultivo de grãos. Durante o roteiro do Matopiba, foi encontrado inúmeras regiões com solos bastante pobres, sem perfil de solo construído nos quais verificou-se baixa fertilidade do solo e presença de acidez, com pouca ou nenhuma palhada na superfície do solo.

Solos arenosos originalmente possuem baixa capacidade para acumular água e matéria orgânica, por isso, o manejo do solo nestas áreas deve ser intensificado durante todo o ano, adotando estratégias e tecnologias para a cobertura permanente do solo, com adição constante de carbono ao solo. Certamente, acumular água e matéria orgânica em solos pobres de Cerrado demanda muito trabalho, investimento e dedicação, e este é um dos grandes desafios do Matopiba para minimizar os efeitos climáticos adversos.

A época de plantio também contribuiu para agravar os problemas da safra no Matopiba. Em muitas regiões, o plantio da safra de soja iniciou-se a partir da segunda quinzena de novembro e o período do florescimento ocorreu no mês de janeiro, mês em que foram registrados altos volumes de chuva, principalmente na região Oeste da Bahia. No entanto, após as chuvas no estádio do florescimento, muitas regiões do Matopiba ficaram até 38 dias sem chuva, concidentemente nos estádios de formação e enchimento de vagens. Com isso, as lavouras foram fortemente castigadas e o potencial produtivo reduzido pela metade.

Adicionalmente, a qualidade das sementes para o plantio não agradou muitos produtores. Houve relatos em todas as regiões do Matopiba com relação a baixa porcentagem de germinação das sementes entregues nas fazendas, com casos de até 40% a menos do que os padrões exigidos por lei. Em função disso, a germinação das sementes no campo ocorreram de forma desuniforme, prejudicando o estande inicial da lavoura. Para os produtores que conseguiram realizar o plantio apenas em janeiro, o problema foi ainda maior, pois muitas sementes não foram armazenadas de forma correta nas fazendas, principalmente por não terem infraestrutura para armazenar produtos devido ao atraso das chuvas, prejudicando a qualidade fisiológica das sementes.

Resistência ao controle químico de herbicidas por parte de algumas plantas daninhas como o capim-amargoso também foi amplamente relatado em todas as regiões, principalmente nesta safra na qual não houve fechamento de dossel da soja devido ao seu desenvolvimento limitado, proporcionando condições favoráveis ao crescimento do amargoso.

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