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A greve nacional dos caminhoneiros, que, nesta quarta-feira (23) entrou no terceiro dia, pode levar a uma crise de abastecimento de comida no Paraná. Com os motoristas de braços cruzados e estradas bloqueadas em mais de 100 pontos de manifestação no estado, é praticamente impossível trazer e levar alimentos às centrais de distribuição.

Na Ceasa de Curitiba, o movimento vinha caindo desde segunda-feira (21), segundo o técnico e orientador de mercado, Evandro Pilatti, mas ainda havia produtos disponíveis de entregas anteriores. Nesta quarta-feira, porém, os estoques foram acabando e a atividade despencou.

“Hoje, caiu praticamente 70%. Só os produtores que vêm mais de perto, com hortaliças e folhosas, estão conseguindo, mas o pessoal do litoral, do Norte do Paraná, de São Paulo, Espírito Santo... nesses casos, não tem como sair ou chegar. Amanhã, teremos 80% das atividades paradas”, afiram Pilatti. “Muitos produtos estão com os estoques zerados e alguns que estão aqui há quatro dias estocados já perderam a qualidade, estão sem condições de comercializar. O mamão, por exemplo, amanhã já não serve mais. Para tomate, limão e batata que vêm de fora, amanhã o estoque estará zerado.”

Por dia, a Ceasa Curitiba movimenta 2,5 mil toneladas de alimentos e recebe até 8 mil caminhões, entre os que trazem e levam frutas, verduras hortaliças. “E para o pessoal de fora, de Ponta Grossa e até de Santa Catarina, que depende da Ceasa daqui, hoje não saiu nenhuma carga. Eles vão ter que quebrar o galho provisoriamente com a produção que tiverem por lá.”

Enquanto o abastecimento fica comprometido, os preços disparam: produtos mais procurados, como batata, cenoura e tomate ficaram 50% mais caros. “A batata hoje aqui na Ceasa estava em R$ 150 o saco de 50 kg; o tomate passou para R$ 70 caixa de 20 kg; e a caixa de cenoura para R$ 50”, complementa Pilatti.

Leite jogado fora

Cena comum (e considerada inevitável pelo setor) quando há greves do tipo, imagens de leite sendo jogado fora circularam nas redes sociais nos últimos dias. Extremamente perecível, a bebida pode ser armazenada 24 horas na propriedade rural e mais 24 horas na indústria, explica Frans Borg, presidente da cooperativa Castrolanda, de Carambeí, uma das maiores produtoras do país. Passado esse período, já não é mais adequado para o consumo. “Aí arrebenta a corda, com certeza vai se perder”, salienta. Enquanto isso, as vacas não param de produzir mais leite. “É a natureza, se não tirar esse leite, ela fica doente.”

O produtor Mayke Boldt, da colônia Witmarsum, em Palmeira, tem um plantel de 80 vacas. Nesta terça, ele tinha sido obrigado a jogar fora 2 mil litros de leite, o que corresponde a toda a produção diária da fazenda e um prejuízo de R$ 2.700. Um dia depois, a mesma quantidade foi pelo ralo. “Nós não temos mais lugar para armazenar. A nossa perda é grande, mas teve produtor que teve que jogar 75 mil litros de leite fora”, lamenta.

Segundo Frans Borg, a Castrolanda conversou com lideranças dos grevistas na região dos Campos Gerais e, por lá, foi possível chegar a um consenso, liberando a passagem de cargas com animais vivos, ração e produtos perecíveis, como o leite. Mas em outras regiões essa pendência, de acordo com ele, ainda não foi resolvida. “O movimento organizado, nós apoiamos. O que não podemos apoiar é o que não diferencia a produção de animais vivos, que não podem ficar numa fila, eles morrem; o produto perecível estraga; as rações, diariamente esses animais precisam ser alimentados. E se a ração não chega: como fica? Imagine a situação do produtor vendo animais morrendo por falta de comida”, questiona. “A gente espera que isso leve a um bom senso o quanto antes, a sociedade não vai aguentar nem mais dois dias, vai ser catástrofe.” Ainda não é possível estimar prejuízos, frisa o presidente, o que deve acontecer com o fechamento das contas na próxima semana.

Ao todo, a união das cooperativas Castrolanda, Capal e Frísia – a Unium – tem aproximadamente 5 mil associados, metade deles trabalhando com leite. A produção total é de 3 milhões de litros por dia.

Produtor encurralado

Motivada pela sucessiva alta do preço dos combustíveis, a greve dos caminhoneiros tem ganhado o apoio de muitos produtores rurais, afinal, eles também usam diesel e gasolina. “Eu não estou nem colhendo”, diz o presidente do Sindicato Rural de São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, Paulo da Nova. A região é um dos principais polos produtivos de hortaliças do Paraná e manda seus produtos até para fora do estado.

“O agricultor não suporta mais. Há 15 anos um caixote de alface pagava 15 litros de diesel, hoje paga no máximo 3 litros. Um caixote de alface comprava dois sacos de adubo, hoje são dez caixas de alface para comprar isso. Fora o nosso frete, nossos caminhões, nossos tratores. Quando você vai ver, consumiu quase todo o valor em combustível. Facilmente chega a 30% dos custos totais de produção”, complementa Da Nova.

Ele chegou inclusive a participar de um bloqueio na BR-376, região de Inhaíva, onde está concentrada a produção olerícola de São José dos Pinhais. “Quem vem com carga viva, cavalos, bois, está sendo liberado. O pessoal tem segurado dentro do maior consenso. A Polícia Rodoviária também está auxiliando, sinalizando os bloqueios e evitando confronto”, garante.

Para Mayke Boldt, apesar do prejuízo, a saída é o apoio ao movimento. “Estamos apoiando a greve, porque assim como eles, nós usamos também o diesel. Vai ser difícil recuperar esse dinheiro perdido, vai ser demorado, mas apoiamos a greve”, resume.

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