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O núcleo do Índice de Preços ao Consumidor - Disponibilidade Interna (IPC-DI) de maio subiu 0,61%, taxa levemente maior do que a registrada no núcleo anterior, de 0,60%, referente a abril. | JONATHAN CAMPOS/GAZETA DO POVO
O núcleo do Índice de Preços ao Consumidor - Disponibilidade Interna (IPC-DI) de maio subiu 0,61%, taxa levemente maior do que a registrada no núcleo anterior, de 0,60%, referente a abril.| Foto: JONATHAN CAMPOS/GAZETA DO POVO

A combinação entre o aumento dos preços de alimentos in natura e a alta de commodities como soja e milho tem provocado uma pressão extra na inflação. Numa época do ano em que o ritmo de expansão dos preços de alimentos já costuma arrefecer, esse grupo está entre as principais influências para a alta da inflação. A expectativa é que, nos próximos meses, ainda haja impacto em outros alimentos, já que o aumento de soja e milho acaba afetando os preços de outros produtos, como carnes e ovos, pois são usados na ração.

“Tivemos, no início do ano, a alta dos alimentos in natura, que é um movimento sazonal. Agora, estão subindo os preços de commodities: o milho disparou, e a soja também aumentou. E isso acaba afetando o preço de frango, carne suína, ovos e até carne bovina, porque há uma substituição. Nos últimos dois, três anos, os preços de grãos estavam muito baixos, mas, de repente, a situação mudou”, explica o professor da PUC Luiz Roberto Cunha.

Este ano, a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerada a inflação oficial no país, subiu 3,25% até abril. Nos alimentos, a alta foi quase o dobro, 5,79%. Em abril, os alimentos foram responsáveis por metade da alta geral.

As frutas foram o principal impacto até agora, com alta de 33,78% no 12 meses até abril. Problemas climáticos - chuva em alguns lugares e seca em outros - e a concorrência do mercado externo - com aumento de demanda e dólar mais alto - são as principais razões apontadas para o movimento.

A funcionária pública Yana Gonzaga tem gasto 50% a mais por semana com as compras na feira livre. Por isso, tenta diminuir o desperdício e reduziu o consumo de legumes e verduras orgânicos. “As frutas encareceram muito. O caso mais gritante foi o mamão, mas tudo ficou bem mais caro”.

Só em 2016, o preço do mamão subiu 80,90%, para uma alta média dos preços das frutas de 23,92%. Já o preço da manga avançou 31,43%. Nas frutas, há influência das condições climáticas e desvio da produção para o mercado externo. A alta do dólar tornou o preço das frutas mais competitivo para as exportações.

A artesã Edna Heringer está comprando menos frutas e diminuiu o número de vezes que vai à feira. “Tenho sentido menos gente circulando na feira também”.

Como explica Francisco Queiroz, da consultoria MB Agro, soja e milho - além do algodão - encareceram após falta de chuva e temperaturas elevadas. Já no caso do feijão, faltou chuva durante o plantio, e a colheita enfrenta excesso de chuva. “Temos um mercado internacional mais firme, com uma boa demanda e quebras de produção em alguns países, inclusive o Brasil, por causa de problemas climáticos. Isso reduz a oferta e pressiona preços”, afirma o sócio-diretor da MB Agro, José Carlos Hausknecht.

No caso da soja, as safras do Brasil e da Argentina foram prejudicadas por seca. No país, isso ocorreu principalmente numa área de produção nova, destaca Salomão Quadros, da Fundação Getulio Vargas (FGV), conhecida como Mapitoba, palavra que une Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia. O problema na Argentina foi umidade em excesso. Além disso, é época de plantio de soja nos Estados Unidos, o que desperta incerteza sobre qual será a extensão da área plantada.

A seca também atingiu a produção de milho, e os preços praticamente dobraram em relação a um ano atrás. No IPCA, o preço do fubá de milho avançou 9,85% no ano, ante variação de 5,79% de alimentos e de 3,85% do índice geral.

Os preços no atacado indicam que a inflação de alimentos talvez não dê trégua tão cedo. A alta de produtos agropecuários acelerou de abril para maio, segundo o Índice de Preços ao Produtor do IGP-M. A pressão aqui veio principalmente da soja, com alta de 12,38%, e do milho, de 17,03%, puxados por quebra na safra não só no Brasil, mas em outros lugares do mundo.

“Está difícil contar com os alimentos para ajudar na redução da inflação. No caso dos alimentos in natura, os preços ainda estão fortes em maio, ainda não voltamos para o que seria normal nessa época do ano”, diz Salomão Quadros, da FGV.

A projeção da MB Associados é que o IPCA encerre 2016 em 7,1%, com uma alta de 11,1% dos preços de alimentos. Em quase dez anos, entre janeiro de 2007 e abril de 2016, os preços de alimentos subiram 129%. Nesse mesmo período, a inflação medida pelo IPCA foi de 77,40%. Eulina Nunes dos Santos, responsável pelos índices de preços do IBGE, atribui o movimento a problemas climáticos e ao aumento da demanda dos países emergentes. Nos 12 meses encerrados em abril, os preços de alimentos subiram 13,40%, frente a um IPCA de 9,28%.

Apesar da pressão dos alimentos, economistas argumentam que este fato não deve ser uma justificativa para retardar o início da redução da taxa básica de juros da economia. Para Luiz Roberto Cunha, o momento não é de “terrorismo com a inflação”. Ele acredita que a alta nos preços de alimentos in natura deve desacelerar, e, mesmo com a continuidade dos reajustes em commodities, este movimento não deve impedir uma queda da taxa Selic. “A alta das commodities deve perdurar por alguns meses, mas não se deve fazer terrorismo. Devemos fechar 2016 com uma inflação de 7%, o que representa queda forte frente à taxa de 10,67% do ano passado e que permite a redução dos juros. O juro não afeta o preço dos alimentos”.

O sócio-diretor da MacroSector Consultores, Fabio Silveira, avalia que a inflação de alimentos incomoda a curto prazo, mas lembra que o efeito de um corte dos juros na economia leva cerca de nove meses. Se a queda dos juros demorar a ocorrer, diz Silveira, há risco de nova recessão em 2017.

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