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| Foto: JONATHAN CAMPOS/Gazeta do Povo

O mercado de carnes busca saídas para o vácuo que a JBS deixou na comercialização de gado. A empresa teve reduzida a sua participação nas compras de animais após o acordo de delação premiada de seus donos.

O foco do setor é desconcentrar esse mercado, que está nas mãos de poucos frigoríficos. A JBS, por si só, detém 49% dos abates de Mato Grosso, Estado que tem o maior rebanho do país. No país todo, a capacidade de abate da empresa chega a 25% do total nacional.

Os objetivos dos produtores são reativar frigoríficos parados, incentivar a chegada de novas empresas ao setor e montar cooperativas de pecuaristas.

Mesmo com grande sucesso na agricultura, as cooperativas dificilmente vingavam na pecuária. Boa parte do rebanho bovino era negociada sem nota fiscal, e os pecuaristas não aceitavam a ideia de criar cooperativas.

Os tempos mudaram e o controle sobre os frigoríficos está mais rigoroso, o que permite o surgimento desse tipo de empresa.

Foco

A viabilização de cooperativas é um dos objetivos da Acrimat (Associação dos Criadores de Mato Grosso). Luciano Vacari, diretor-executivo da entidade, diz que a associação não vai montar cooperativas. “Esse não é nosso negócio.”

A Acrimat vai procurar consultorias, bancos e modelos atuais de cooperativas para “construir planos de negociações”, diz ele. Levantadas essas informações, a associação vai disponibilizá-las para os produtores. “Mato Grosso tem espaço para reativar plantas fechadas ou até abrir outras. O lugar de fazer isso é aqui”, afirma Vacari.

As cooperativas regionais serão importantes, uma vez que, em algumas regiões, o produtor, quando não quer vender o gado para a JBS, precisa viajar até mil quilômetros com o animal.

Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura e entusiasta do sistema de cooperativas, diz que agora há espaço para esse sistema no setor de carnes. Rodrigues adverte, no entanto, que algumas condições são necessárias para a concretização do projeto.

Uma delas é as pessoas participantes se conscientizarem de que a cooperativa é essencial para elas. É uma empresa e, portanto, tem de ter viabilidade econômica. Na avaliação de Rodrigues, o processo de constituição de cooperativas exige liderança.

Além das cooperativas, projeto que exige investimentos, a Acrimat quer medidas emergenciais do Estado para o setor. Uma delas é a redução para zero -atualmente é de 7%- da taxa de ICMS para o gado que será abatido em outros Estados.A Acrimat quer também que o governo de Mato Grosso adira ao Sisbi (Sistema de Inspeção de Produtos de Origem Animal). Com isso, as carnes com inspeções municipal, estadual ou federal poderiam ser comercializadas no país todo.

Jorge Pires, pecuarista e presidente do Sindicato Rural de Cuiabá, acredita no desenvolvimento de cooperativas. Cresce o número de produtores que praticam integração lavoura-pecuária, o que, segundo ele, aumenta o interesse pelas cooperativas. Pires diz que é importante a reativação de frigoríficos parados. Alguns passos nessa direção já começam a ser dados. Ele cita o frigorífico de Mirassol D’Oeste (MT), que volta funcionar em julho.

Capacidade

Pedro Camargo Neto, pecuarista e vice-presidente da Sociedade Rural Brasileira, afirma que o retorno de unidades paradas é importante para a atividade.

Segundo ele, a JBS tem capacidade de abate de 35 mil animais por dia no Brasil, mas está abatendo menos de 20 mil. Os frigoríficos atuais não têm capacidade de assumir o total de animais que a JBS está deixando de abater. Daí a necessidade de novas unidades industriais para viabilizar essa comercialização. O problema é que tudo isso está acontecendo às portas do inverno, período de piora das pastagens.

Na avaliação de Camargo Neto, a mudança da forma de comercialização da JBS, para apenas compras a prazo, acabou trazendo um ônus para o pecuarista. O pagamento à vista das 35 mil cabeças de gado gerava um gasto diário de R$ 87,5 milhões para a empresa. Ao fazer o pagamento apenas a prazo, a JBS tem um capital de giro próximo de R$ 2 bilhões por mês “à custa do pecuarista”, diz ele.

Consultada, a JBS emitiu nota afirmando que “padronizou todos os processos de compra de gado no Brasil, com pagamento no prazo de 30 dias, o que já ocorria em 97% das praças onde atua”. “O pagamento em 30 dias sempre foi o padrão no mercado brasileiro. A companhia prossegue trabalhando normalmente”, informa a nota

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