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Produção de silagem de milho no Paraná | HENRY MILLEO/GAZETA DO POVO
Produção de silagem de milho no Paraná| Foto: HENRY MILLEO/GAZETA DO POVO

A supersafra com montanhas de milho espalhadas pelo interior do Brasil não representam um problema apenas para a agricultura. Elas podem ser um risco para a pecuária, uma vez que a silagem úmida de milho é uma suspeita de conter a doença que levou à morte de mais de mil cabeças de gado no Mato Grosso do Sul.

O alimento é utilizado para favorecer o ganho de peso do gado. Contudo, “essa técnica é usada de forma cíclica. Quando o preço do milho está favorável, seu uso é mais frequente”, afirma Luiz Orcírio, médico veterinário, agrônomo e pesquisador da Embrapa.

Dessa forma, com o maior uso, há risco de haver algum estoque de milho inadequado para consumo. “O que pode ocorrer é o micro-organismo estar presente quando a ensilagem foi processada, e as condições permitiram que ele continue se multiplicando. Como isso é tudo muito rápido, tem que ser controlado. Não é possível enxergar a contaminação”, explica o especialista.

O agrônomo comenta também se existe a probabilidade de contaminação quando o grão fica exposto ao ar livre. “O risco é o milho não estar sendo utilizado da forma correta. Mesmo sem estar antes em um armazém, pode ser feito um material de qualidade, mas no momento em que ‘se abre’ o risco de contaminação, isso pode levar ao aumento de toxinas”, comenta, revelando a importância da estocagem adequada.

Prazo de validade

Quando feita da maneira correta, a silagem do milho pode durar anos, explica Sergio Raposo, agrônomo e também pesquisador da Embrapa. “Tenho conhecimento de uso até três anos depois”, afirma Raposo, um dos autores do livro Nutrição de bovinos de corte. Ele explica que para obter o milho úmido, ele é colhido antes do tempo e compactado para ter alterações de conservação e desconhecia problemas de intoxicação animal.

Perto de 1,5 mil cabeças de gado morrem com suspeita de botulismo

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Ambos os especialistas detalham que a silagem pode ser produzida na própria propriedade ou adquirida. “Mas é preciso um teor de umidade adequado, com a retirada do ar do ambiente. O que aconteceu [na fazenda atingida] é que o as condições permitiram que os micro-organismos continuassem se multiplicando”, diz Orcírio.

Ele também comenta o botulismo bovino (doença suspeita de ter provocado as mortes no Mato Grosso do Sul): a toxina liberada pela bactéria geradora da doença age muito rápido e qualquer pequena quantidade pode ser letal. “É importante que as fazendas que produzem [a silagem de milho] realizem a técnica com controle eventual, levando amostras para análises”, constata.

Risco presente

Orcírio afirma nunca ter presenciado uma mortandade tão elevada de animais, mas conta que já acompanhou casos em confinamentos menores, com outros materiais utilizados para silagem - que pode ser produzida até mesmo misturada junto ao bagaço da cana-de-açúcar. Por isso, ele destaca que o caso não é um incentivo a parar a técnica de silagem de milho úmido, relativamente nova no Brasil, com menos de 20 anos.

“Este é um alerta para que sejam seguidos todos os cuidados do ponto de vista nutricional, vacinas de boa eficácia e controle [de produção]. O caso aconteceu com um produtor reconhecido, tradicional. Realmente foi uma fatalidade, mas que mostra que qualquer descuido pode levar a problemas”, completa.

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