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No caso dos animais, são 24 raças de 14 espécies diferentes, entre bovinos, equinos, caprinos, ovinos, abelhas e até tartaruga. | Divulgação/Embrapa
No caso dos animais, são 24 raças de 14 espécies diferentes, entre bovinos, equinos, caprinos, ovinos, abelhas e até tartaruga.| Foto: Divulgação/Embrapa

A comparação é inevitável. Ainda que as circunstâncias e, obviamente, os métodos sejam muito diferentes, lá no fundo o objetivo de um banco de germoplasma e a Arca de Noé – sim, a Arca de Noé - é o mesmo: preservar espécies.

A Arca, é claro, dispensa explicações, já com o banco de germoplasma é diferente, começando pelo nome: afinal, o que é germoplasma? Basicamente, uma definição técnica para material genético ou o conjunto de informações que dão as características a todo e qualquer ser vivo.

O Brasil tem se destacado com trabalhos de ponta. Um deles é desenvolvido pela Embrapa em parceria com instituições de ensino, de pesquisa, produtores e criadores de todo o país. O banco genético da instituição é um dos únicos no mundo e reúne a base da vida de plantas, microrganismos e animais, tudo no mesmo prédio, em Brasília (DF).

Tesouro genético é investimento no setor privado

Preservar espécies é um objetivo muitíssimo amplo, passa pelo lugar do ser humano na história do planeta, mas tem também um forte apelo comercial. Tanto que não são apenas empresas públicas que apostam na criação de bancos de germoplasma. “Dentro da área de melhoramento genético, é uma das coisas mais importantes”, afirma o pesquisador Eduardo Pagliosa, da cooperativa Agrária, de Guarapuava (PR).

Ele é uma das pessoas que cuidam de um banco com aproximadamente 200 genótipos (cultivares e linhagens) de cevada, uma das especialidades da instituição. “As pragas também evoluem. O banco é uma fonte de genes, aos quais podemos recorrer para ter mais produtividade, qualidade, sustentabilidade e rentabilidade. A lógica vale para todas as culturas”, complementa Pagliosa.

No caso dos animais, são 24 raças de 14 espécies diferentes, entre bovinos, equinos, aves, peixes, abelhas e até tartaruga.

O material genético fica guardado em três tanques criogênicos. Estão armazenados ali 451 embriões e 96 mil doses de sêmen, congelados em nitrogênio líquido a 196 graus negativos. Significa que, se houvesse um dilúvio agora (bata na madeira), estaríamos preparados para recomeçar praticamente do zero.

“Simbolicamente sim, existe essa relação. É um material supervalioso, então não deixa de ser uma Arca”, diz a pesquisadora da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Maria do Socorro Maués. Ela explica que o trabalho de conservação das espécies animais começou em 1983. “Algumas raças localmente adaptadas estavam sendo extintas”, conta.

Brasil

“Localmente adaptadas” é um termo padronizado que define as raças conhecidas como “crioulas”, que não são nativas de um lugar, mas acabaram se adaptando. É o que há em comum entre os animais de criação conservados pela Embrapa. Quando os portugueses chegaram aqui, eles encontraram apenas bichos soltos, ou seja, era muita capivara, muito pássaro, mas nada de boi.

“Nós sabemos disso por causa da própria carta do Pero Vaz de Caminha. Essas raças passaram séculos se adaptando ao Brasil e por isso possuem genes muito valiosos, com características de adaptação e de resistência. Mas, com a demanda de carne, raças mais produtivas foram importadas e as nossas foram acabando”, ressalta a pesquisadora da Embrapa.

Estão armazenados ali 451 embriões e 96 mil doses de sêmen, congelados em nitrogênio líquido a 196 graus negativos.

Daí a importância do banco. Mesmo que a humanidade não enfrente um desastre na proporção de um dilúvio em escala global, o planeta está em transformação constante, seja por mudanças climáticas ou pelo aumento da população, o que interfere na oferta e demanda por comida.

O valor do banco genético chega a ser social e cultural. Existem raças que são símbolos para algumas regiões. São motivo de orgulho para os criadores.

Maria do Socorro Maués pesquisadora da Embrapa e coordenadora do banco de germoplasma da instituição

Por isso o perfil das raças localmente adaptadas pode ser a chave para garantir a segurança alimentar. Por exemplo, o cavalo pantaneiro é acostumado à água, que não maltrata seus cascos, além de não ter seu desempenho afetado pela anemia infecciosa equina, uma das doenças mais graves da espécie; e o boi curraleiro pé-duro, que é mais rústico e não sofre com o calor. “Nós tentamos manter a maior variabilidade possível. Ela é a nossa maior riqueza e estava acabando”, completa Maria do Socorro.

Serviço

Recentemente, a Embrapa lançou um inventário de mais de 100 páginas, com informações detalhadas sobre as espécies conservadas pela instituição. O trabalho está disponível no site da empresa.

  • O trabalho de conservação de animais pela Embrapa começou em 1983, com raças localmente adaptadas.
  • São raças que foram trazidas pelos europeus durante a colonização e passaram séculos se adaptando ao Brasil. É o caso do boi curraleiro pé-duro, rústico e resistente ao calor.
  • O cavalo pantaneiro é uma das raças mais famosas. O bicho é acostumado à água, que não maltrata seus cascos, além de não ter seu desempenho afetado pela anemia infecciosa equina, uma das doenças mais graves da espécie.
  • Ao todo, são 24 raças de 14 espécies diferentes, entre bovinos, equinos, caprinos, ovinos, aves, peixes, abelhas e até tartaruga.
  • O objetivo é preservar as espécie, que, em alguns casos, por conta do mercado, corriam risco de extinção.
  • Dois dos três tanques criogênicos ficam na sede da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, em Brasília (DF). O terceiro está numa fazenda experimental e também deve ser transferido para a unidade.
  • A intenção da Embrapa é garantir que os genes de rusticidade e resistência estejam disponíveis no futuro. Ou, no caso de emergências, como dilúvios (bata na madeira), ter a chance de recriar nossos animais.
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