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Quando a crise extrapola a crise
Quando a crise extrapola a crise| Foto:

 

É interessante como ficou fácil novamente jogar a corda em uma árvore, como os filmes de “bang-bang” mostram, e enforcar o ladrão de cavalos, mesmo que ele nunca tenha montado em um e mais, que nunca tenha roubado um cavalo. Ou então, que tenha roubado, mas que precisa do devido tempo pra falar “mãe, me desculpa, foi sem querer” ou algo do gênero, antes de ser enforcado.

Por vezes imaginava como seria o dia a dia de um advogado criminalista e em algumas vezes, olhei torto para alguns quando sabia do caso que defendiam.

Oras, trabalhar com gestão de crises me fez estar mais próxima desta realidade. Normalmente quem nos procura é justamente aquele que a maioria cospe nele.

Sempre num primeiro momento de análise de aceito tal contrato ou não, lembro que todo cidadão tem direito a defesa jurídica, perdão divino e expressar seu pensamento. Neste momento procuro me lembrar qual meu papel como gestora de crises.

Muitas vezes pensam em me contratar como porta-voz ou para a defesa do indivíduo que gerou a crise. Não é esse o papel de um gestor de crises, é muito mais complexo e até complicado de explicar, tanto para quem contrata, como para quem julga porque você aceitou tal contrato.

Vamos por partes. Quem está com a corda no pescoço precisa compreender que o papel do gestor de crises é de auxiliá-lo com técnicas e treinamentos, assim como pesquisas e estratégias de como poder ganhar espaços e oportunidades para que tenha seu direito de expressão garantido.

Para julgar e defender, é preciso que seja contratado outro profissional, um advogado. Que pode e deve fazer parte da equipe que irá gestionar a crise de imagem.

Contratar assessoria de imprensa para um caso onde só o dedinho do pé está segurando pro banquinho não cair e a pessoa ser enforcada, é no mínimo ingenuidade.

Esperem, meus colegas de assessoria, não me enforquem. Assessoria de imprensa deve ser contratada por toda empresa e individuo que irá lidar com o público e precisa estabelecer um diálogo com ele. Uma dessas formas é por meio das notícias nos veículos de comunicação e quem faz a devida ponte é o jornalista ou relações públicas, que trabalha com assessoria de imprensa.

Depois da cacaca estar estabelecida, não adianta comprar um tapete maior pra colocar embaixo. Quando ela já acontece ou está na iminência de acontecer, tem que contratar um profissional com experiência e capacidade para fazer a gestão de crises, que também irá ter como uma das estratégias, a assessoria de imprensa. Que é justamente ensinar como erguer esse tapete, em que momento, como e por quem.

Só que a cacaca já está ali, a forma de expor, em que momento, como, quem irá fazer (sei, já escrevi isso, mas é que quero reforçar pra não ter dúvidas), é que é diferente de uma estratégia de assessoria quando não está instalada a crise. Quando há crise, não é um relacionamento que se estabelece com os meios de comunicação de um dia para outro. Não é uma nota na imprensa ou X releases por mês, que irão reverter a percepção de imagem e a possibilidade de falar algo além do que já está sendo dito. Um passo em falso, por falta de análise do risco e subjugando a situação com soluções simplificadas, pode gerar uma crise na crise.

Como hoje todos crucificam nos meios digitais e nem em grupos de família há o espaço de diálogo quando se pensa diferente, fica mais difícil fazer a gestão de crises. É preciso isenção do gestor que necessita ficar como terceira pessoa no caso e não se envolver emocionalmente ou tomando partido (que muitos jornalistas, inclusive, deveriam resgatar esse compromisso).

Há que se ter muito jogo de cintura e erguer o dedo várias vezes antes de ser ouvido. Há que se respirar fundo até conseguir pela milésima vez terminar uma frase. Há que se suar muito a camisa pra conseguir espaço no cérebro de quem já está bombardeado com tantas informações contra.

Isso faz parte do planejamento de como gestionar a crise estabelecida.

“Joga b. na Geni, ela é feita pra apanhar, ela é boa de cuspir, ela dá pra qualquer um, maldita Geni”, já diz a canção do musical Ópera do Malandro, de Chico Buarque.

Deixa primeiro ela falar, depois você decide o que fazer, mas decidir culpabilidade é dever do juiz. Defender inocência, é dever do advogado. Defender o direito de se expor, é dever do gestor de crises.

Então, noutro dia falo do outro lado da crise. Pule Carnaval e depois nos falamos!

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