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O mico do show dos Scorpions
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Notívagos, é com profundo pesar que eu antevejo o fim dos grandes shows internacionais em Curitiba – incluindo Pinhais e arredores da capital. Sim, porque o Oasis já havia falado cobras e lagartos sobre ter de tocar num “estacionamento” (o Expotrade), em maio do ano passado. E o que aconteceu na última terça-feira, no show da turnê de despedida do Scorpions, no mesmo local, terminou de queimar a nossa cara no mercado das turnês planetárias.

Para quem não estava lá ou não tomou conhecimento: nos primeiros acordes do show, ouviu-se um estrondo e os PAs (as caixas viradas para o público) deixaram de funcionar. A banda emendou a faixa-título do álbum mais recente, Sting in the Tail, apenas com o som do palco – enquanto Klaus Meine parecia estar cantando com a tecla “mute” acionada: não se ouvia absolutamente nada do seu microfone.

Antônio More/Gazeta do Povo
O baixinho Klaus Meiner é erguido pelos guitarristas Rudolf Schenker e Matthias Jabs: descontração para disfarçar a decepção.

A cena era surreal: como o som do palco aparentemente estava OK, a banda alemã começou tocando como se nada estivesse acontecendo. Klaus urrava no microfone, enquanto os guitarristas Rudolf Schenker e Matthias Jabs saracoteavam pelo palco, acompanhados do baixista Pawel Maciwoda, aos pés do empolgado baterista James Kottak. Só que na plateia ninguém estava ouvindo nada, o que levou o público a vaiar a produção do show no fim da música. O vocalista foi até a passarela montada na frente do palco e explicou que eles cogitaram cancelar a apresentação por causa dos problemas técnicos, mas resolveram ir em frente em consideração às quase 10 mil pessoas que estavam no local.

O som ainda estava bastante prejudicado na segunda música, “Make it Real”, e melhorou um pouquinho na terceira – “Bad Boys”, de acordo com o set list. Mesmo assim, ficou chocho durante toda a apresentação. Tanto que eles nem tocaram “Wind of Change”, um dos maiores sucessos dos 45 anos de carreira da banda, apesar dos apelos do público.

Segundo a Prime Promoções e Eventos, a produtora responsável pelo show, quem pisou na bola foi a empresa contratada para fazer o som e a luz do evento – e que teria sido previamente aprovada pela produção da banda. Mas além de sublocar equipamentos, esse fornecedor ainda teria levado uma mesa de som com uma placa queimada (!!!). Confira a íntegra do comunicado oficial da Prime:

“Venho através deste esclarecer fatos importantes com relação aos problemas do show Scorpions, realizado dia 21 de setembro de 2010 na Arena Expotrade.

De forma explícita todos os problemas originaram-se pela questão do som e luz do show. Isso tanto durante quanto antes da apresentação. Os atrasos nas filas se deram pelo motivo do som e luz não estarem prontos para a abertura do portão, bem como a não ligação correta pela empresa de som e luz da energia do backline da banda. A produção do Scorpions ordenou que os portões não fossem abertos antes das 20h00. Mesmo assim, abrimos bem antes.

A mesa de som estava com uma placa queimada e foi o que deu o início à série de problemas. Nem passava pela nossa cabeça isso. Como podemos ser culpados desta forma? Nós que pagamos para que o serviço fosse realizado de forma correta.

A empresa de Sonorização e Iluminação chamada Rocca, que infelizmente foi contratada e também aprovada pela produção da banda, não correspondeu com o que foi comprometido para a adequada realização do evento. Inclusive descumprindo cláusulas do contrato onde fala da qualidade do serviço prestado e bom funcionamento de todos os equipamentos de maneira incondicional:

DISPOSIÇÕES GERAIS:
E) É de responsabilidade do Contratado (Rocca) fornecer o equipamento em ótimo estado de conservação e perfeita manutenção evitando assim possíveis imprevistos, assim como cumprir com horários e estar sempre a disposição da organização do evento.

Estamos tão indignados quanto o grande público, mas de forma torturante somos agredidos como culpados pelo que ocorreu. O que não é verdade. Claro que nossa marca está lá, mas é importante esclarecer os fatos e é o que tentamos assim fazer.

A empresa Rocca, além de não cumprir o contrato de prestação dos serviços, sublocou sem nosso conhecimento serviços e equipamentos de terceiros, comprometendo ainda mais o serviço pela falta de conhecimento do equipamento locado.

É extremamente importante que se entenda que a Prime realiza shows, contratando serviços dos mais diversos fornecedores de equipamentos e mão de obra, e que espera desta forma o resultado mais satisfatório possível, tanto para nós, artistas e público. É isso que desejamos e de forma alguma [pretendemos] desrespeitar o público ou as bandas.

Infelizmente maus prestadores de serviço fazem descaso com isso, pois ninguém nunca vai reclamar com eles, pois as coisas só chegam para a empresa realizadora do evento, no caso, a Prime.
O que nos resta é lamentar o ocorrido e jamais trabalhar novamente com este fornecedor, que nos prejudicou moralmente de forma incontestável, pois sempre desejamos fazer o melhor.

Pedimos a compreensão de todos, em pelo menos entender como as coisas funcionam. E friso mais uma vez que nossa indignação é muito grande.

Atenciosamente,
PRIME PROMOÇÕES E EVENTOS”

***

O comunicado da Prime ajuda a explicar, mas não justifica o fiasco no Expotrade e nem a falta de profissionalismo com uma das principais bandas de hard rock do mundo – e de consideração com os milhares de fãs que pagaram para assistir à apresentação.

A fornecedora do som e da luz pode ter sido a responsável pelo problema, como alega a Prime; pode ter sublocado equipamentos, levado aparelhos defeituosos (como a tal mesa com a placa queimada) e descumprido o contrato. Mas quem a contratou foi a própria Prime, a realizadora do evento. Ela devia ter tido mais critério e se cercado de maiores cuidados nessa negociação.

E não cabe a alegação de que a fornecedora havia sido previamente aprovada pela banda, porque os gringos do Scorpions não têm como saber se a empresa X da cidade Y do país Z tem competência ou não para fazer o show. Essa seleção cabe à produção local.

Confusão à parte, eu considero a Prime uma empresa séria e comprometida, com muita experiência na área – é a responsável por alguns dos maiores eventos que já passaram pela cidade, como o último show realizado na saudosa Pedreira Paulo Leminski, em agosto de 2008: a gravação do DVD do grupo Inimigos da HP, uma produção bem maior do que o show do Scorpions. E exatamente por isso não podia ter errado desse jeito.

E pensar que Curitiba já foi a terceira maior praça de shows do país… que já recebemos Paul McCartney, os três tenores, David Bowie, Ramones, Sepultura, AC/DC, Iron Maiden, Pearl Jam, INXS e tantas outras estrelas nacionais e internacionais. Espero que os vizinhos da Pedreira que ajudaram a fechá-la estejam satisfeitos com aquele buraco abandonado e com a agonia da vida cultural em Curitiba. E vocês, não vão dizer nada?

***

P.S.: Este espaço está aberto tanto para a Prime quanto para a Rocco (a empresa citada no comunicado da produtora), e quem mais quiser se manifestar sobre o assunto.

Esclarecimento:

Não autorizei a publicação de dois comentários que continham acusações criminais a um dos produtores, por possíveis implicações jurídicas. Seria leviano da minha parte expor assim uma pessoa que não está sendo questionada pela Justiça. Agradeço a compreensão.

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