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Cantada ou assédio? Entenda a diferença e fuja do debate vazio
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A questão está sendo tratada como uma guerra de celebridades ou como um bate-boca de internet, mas é uma discussão para ser feita de forma madura, dentro da família, porque afeta ou pode vir a afetar de forma grave pessoas de quem a gente gosta.

No Globo de Ouro, a grande maioria das atrizes usou roupas pretas em protesto contra o escândalo que revelou a submissão à perversa realidade de abusos e assédio sexual na indústria do entretenimento. Houve uma espécie de resposta assinada por atrizes francesas, preocupadas com a criminalização da liberdade de aproximação entre duas pessoas, do ato natural da cantada, que pode ser oportuna ou não, aceita ou não.

Nesse ponto surge o pânico, dele vêm o ódio, a revanche, a gritaria e todos os outros sentimentos que em nada ajudam na convivência e na construção de uma sociedade melhor para as futuras gerações.

Há uma linha objetiva e muito clara que divide o ASSÉDIO, um crime, da CANTADA, uma interação normal entre as pessoas: a VONTADE. Se os dois querem ou se o não é respeitado, é cantada. Se uma das partes deixa claro que não quer e a outra não aceita e insiste de forma a perturbar, é assédio.

É mais comum na vida real que seja um homem assediador aterrorizando a vida de uma mulher, mas há de tudo. Quem não se lembra do filme Atração Fatal, da década de 90?

Quando uma pessoa não consegue aceitar o não da outra, ou a negativa de um primeiro avanço romântico ou o ponto final em uma relação e começa a forçar insistentemente sua presença, de forma desagradável, na vida da outra pessoa.

O movimento pode escalar para atos piores, como no filme, um esquema sistemático para desestabilizar, aterrorizar e destruir a pessoa que disse não aos avanços românticos ou sexuais. Geralmente o autor ou autora opera nas sombras e mina a credibilidade da vítima pouco a pouco enquanto executa a vingança.

É comum que esse tipo de monstruosidade, o assédio sexual, seja minimizado como cantada, paquera ou briguinha cotidiana de relacionamento em um país onde nem assassinos, traficantes e corruptos são punidos como deveriam. Juntos, precisamos virar a página.

Não podemos diminuir o sofrimento de vítimas reais de ASSÉDIO, as que são perseguidas, aterrorizadas, sofrem perdas psicológicas, morais, pessoais e materiais por dizer não a um avanço ao colocar todo tipo de manifestação romântica ou sexual no mesmo balaio de uma conduta criminosa.

Igualmente, é profundamente injusto classificar como algo maléfico ou sequer mal intencionado a tentativa natural de um adulto de aproximar do outro de forma romântica, seja um flerte, uma cantada, um convite, ainda que feitos de forma desajeitada, ainda que mal recebidos, desde que não haja represália, desde que o não seja respeitado.

Todos temos famílias. Nas famílias, há gerações instruímos as meninas a tomarem cuidados para que não se tornem presas fáceis de predadores sexuais. É injusto, é quase indecente, mas é necessário e a maioria das mulheres repassa as instruções às mais novas, protege as amigas.

Só que também não queremos ver nosssos irmãos, filhos, tios, sobrinhos, cunhados sendo acusados injustamente de algo que não fizeram, carregando o peso do erro e do medo.

A rivalidade entre homens e mulheres não vai acabar com o assédio. A cultura do medo muito menos. O que vai acabar com o assédio é a união das pessoas que têm princípios, o acolhimento, a atenção maior aos nossos jovens, mais diálogo e mais franqueza dentro das famílias.

Que tenhamos a sabedoria de não condenar as próximas gerações a viver os traumas que não superamos. As lutas só fazem sentido quando a gente considera que os seres humanos e o mundo podem mudar para melhor.

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