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Bolívia faz Greve Geral contra novo mandato de Evo Morales – entrevista EXCLUSIVA
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Amanhã, 21 de fevereiro, dia em que se completam 2 anos do referendo em que o povo boliviano decidiu que Evo Morales NÃO pode concorrer a mais um mandato a Bolívia faz greve geral. Instituições da sociedade civil dos 9 Estados estão envolvidas na organização e dispensaram a participação de partidos políticos.

Nós recebemos nos estúdios da Protagonista em São Paulo Anelín Suárez, líder do Las Calles, esposa de um dos 1,5 mil refugiados políticos perseguidos por Evo Morales que conseguiram essa condição no Brasil durante o governo de Dilma Rousseff.

O processo deles todos corre no CONARE, Comitê Nacional para os Refugiados, órgão técnico, povoado por funcionários de carreira da estrutura governamental, que analisam provas concretas de perseguição política. O do marido de Anelín durou um ano. Ela acredita que as provas eram tão contundentes que deixaram o governo petista contra a parede: a alternativa à negativa seria enviar a requisição a outro país.

Eu, como acompanhante de um refugiado, foi uma opção muito difícil para ela, mas no final ela e o governo do PT acabaram obrigados a entregar o refúgio para 1,5 refugiados.

Na Bolívia não existe mais a mesma segurança jurídica que temos no Brasil, com independência entre os poderes e funcionários de carreira que asseguram o andamento das instituições.

Os 3 Poderes pertencem ao governo socialista de Evo Morales, não existe mais independência de poderes, não existe mais segurança jurídica.

É por isso que pouco vale o referendo em que o povo decidiu pela inviabilidade de uma nova tentativa de mandato presidencial: o judiciário, controlado pelo presidente, sobrepôs a decisão popular no final de 2017.

Houve um julgamento no Tribunal Constitucional Plurinacional no ano passado dizendo que Evo Morales pode tentar um novo mandato a um novo mandato.

Amanhã o referendo em que a população decidiu não mais ter Evo Morales como candidato faz 2 anos e a sociedade civil organizada (estudantes, entidades empresariais, de trabalhadores e sindicatos) resolveram se organizar para demonstrar nas ruas a instatisfação com a sobreposição da decisão do governo ao veredito popular.

Por isso mesmo, os 9 estados da Bolívia estão organizando um Paro Cívico (Greve Geral), a Bolívia vai parar totalmente, vai parar fronteira, vai parar tudo, mostrando a insatisfação do povo boliviano.

No discurso oficial, difundido pela imprensa, já tomada pelo governo, tenta-se fazer a guerrilha ideológica, dando uma ideia de que a direita quer apear o atual presidente do poder imediatamente, antes mesmo do final do mandato.

Ele fala da direita, que está tratando de fazer um golpe contra as políticas sociais que ele está fazendo, mas mesmo o pessoal que confiou nele no passado está falando que o opositor não é de direita, é o povo. Não querem mais porque a popularidade do Evo Morales está praticamente no chão.

Uma dúvida que fica é: se ninguém quer Evo Morales no poder, por que a oposição a ele tem tanto medo de ir a voto?

O Evo Morales foi a resposta muito tempo atrás às más políticas de outros governos. Ele ganhou por votos do povo, mas os outros mandatos foram por fraude. Apesar de a gente ter uma votação impressa, eles conseguem mudar os resultados. (…) Eles aproveitam as populações que são analfabetas.

Anelín Suárez diz que até para assegurar o resultado do referendo em que o povo disse não querer uma quarta candidatura do presidente foi necessário fazer vigília com celulares em punho e flagrantes a todo momento.

Agora o povo, por exemplo, na votação, nós tivemos que fazer vigília, durante o referendo, tirar fotos, teve uma pressão. Qual é a nova ordem do governo? Dizer que o resultado será dito a partir das 21h.

A intenção é ter a contabilidade dos votos e fazer as manobras necessárias antes da divulgação.

É um governo totalmente astuto, mas o povo conhece as táticas.

Os bolivianos têm queixas sobre os serviços de saúde, as reservas financeiras, a guarda de fronteiras e a política de destruição de valores da sociedade.

O que está acontecendo agora, no governo de 12 anos de Evo Morales, é uma destruição de recursos, é uma destruição de valores muito piores do que em governos anteriores.

Ao valorizar publicamente a cultura da folha de coca, típica de algumas regiões do país, Evo Morales parecia tentar barrar a discriminação de algo típico de seu povo. Mas o efeito na totalidade da população boliviana é a estigmatização.

O governo nos colocou na frente o selo do narcotráfico. É muito triste isso. Agora, quando a gente viaja de avião, os bolivianos têm que ir para outra fila (na alfândega) porque são suspeitos de narcotráfico. (…) Estamos sendo praticamente estigmatizados com a cultura do narcotráfico, com a cultura dos coitados, com a cultura de que não tem outra solução.

Além disso, o que parecia restrito ao cultivo fugiu completamente do controle porque estamos falando de um produto que vicia e um ambiente em que crianças estão envolvidas no cultivo familiar.

É inacreditável ver crianças de 7, 8, 9 anos viciadas em folha de coca.

Para os governantes, de qualquer ideologia, é muito conveniente e tranquilo adormecer a juventude. Além disso, há um efeito colateral extremamente desagradável: o turismo do consumo de drogas. A disponibilidade de maconha e cocaína é o sonho de jovens estrangeiros que se amontoam pelas cidades bolivianas em busca de tudo o que as pessoas que vivem no país querem evitar.

O governo desvencilhou-se do controle da DEA, agência norte-americana de combate ao narcotráfico e conseguiu financiamento brasileiro para fazer um aeroporto internacional em Timore, estado de Chapare, que não embarca passageiros, não tem nem atendentes, e é apelidado localmente de aeroporto do narcotráfico.

Além disso, a forma de administrar o dinheiro público boliviano faz com que a população procure subempregos em outros países: o Brasil é destino prioritário e apadrinhados dos governo se aproveitam principalmente de indígenas analfabetos que não falam espanhol

Eu acompanhei vários casos aqui. Inclusive, dentro da comunidade boliviana eles têm os dirigentes a favor do governo que trazem as pessoas da Bolívia para cá, tiram os documentos deles e submetem a um trabalho escravo. Eu já acompanhei casos de estupro dentro das mesmas casas. E eles preferem um estupro porque lá não tem nada.

O povo boliviano tem uma cultura familiar, de muito trabalho e pouco descanso, não é dado a festas nem a excessos, tem muitas habilidades manuais. Não precisaria de tanta oferta do governo para desenvolver o país.

O talento tem, o trabalho tem, o boliviano é trabalhador, não tem essa coisas de festa, gosta de trabalhar de sol a sol.

No Brasil, quem se aproveita do trabalho escravo boliviano desfruta da ignorância daqueles que têm seus documentos retidos. Eles não sabem que, por serem nascidos em um país membro do Mercosul, podem tirar outro documento e seguir com suas vidas. Anelín Suárez viu vários deles mendigando a liberdade em um terminal rodoviário de São Paulo.

Vai lá na Barra Funda, tem um monte de pessoas tratando de fugir, aguardando se o motorista da Andorinha dá ou leva ela de graça para voltar porque elas fogem.

O mais deprimente é que muitos trabalhadores bolivianos, mesmo depois de libertos pela justiça brasileira, voltam à condição de trabalho análogo à escravidão, conscientes da degradação a que se submetem. O regime político em que vivem os obriga a trocar a dignidade pela sobrevivência: aqui, se eles se sacrificam, os filhos estão na creche e podem ir ao posto de saúde.

Muitos deles preferem essa realidade a voltar ao país. Na Bolívia, se você não tiver dinheiro, você morre. As gazes dos hospitais são fervidas para ser reutilizadas. Não tem aspirina, não tem diclofenaco, não tem nada.

Enquanto isso, na Bolívia, os que protestam sofrem represálias tão pesadas que até o Vaticano fez protestos contra os métodos do governo.

Pelo menos na guerra você respeita o que é a Cruz Vermelha e as igrejas, né?, pontua Anelín Suárez.

A situação em questão beira o surreal. A população protestava contra o Código Penal revogado pelo presidente e a passagem de um rally iria coincidir com a rota do protesto. O esporte é um gosto pessoal do presidente, que mandou uma tropa garantir a segurança dos carros. Os manifestantes resolveram se esconder na Igreja de São Francisco. Os policiais entraram atrás deles, metralharam a igreja e quebraram quem estava envolvido no protesto.

A ação, que não é típica de comandos militares, tem uma origem, segundo Anelín Suárez: mudanças recentes, nos 3 primeiros escalões das Forças Armadas.

Eles fundaram a Escola Militar Antiimperialista, que fica no Estado de Santa Cruz, que eles têm aulas do pessoal da Venezuela, de Cuba, que vêm instruir os militares numa escola socialistas.

O ensino ideológico se estende também aos civis. No ano passado, quando se completaram os 100 anos do comunismo, os estudantes da Universidade Federal de La Paz, a Universidade Mayor de San Andrés, tiveram aulas especiais.

Não é estranho ver o Timochenko chegar para falar de paz para os estudantes da maior universidade da Bolívia?

Timochenko é o líder maior das FARC, Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia.

Aliás, sobre o Código Penal, tão polêmico, que causou protestos em todo o país até ser revogado por Evo Morales, Anelín Suárez tem uma observação interessante.

Se fosse um Estado de Direito, de independência de Poderes, o Presidente não tem por que mandar revogar, seria uma análise dos setores da câmara de deputados e da câmara de senadores, né?

Anelín Suárez vê a Venezuela como espelho do amanhã, como algo a 5 anos do ponto onde a Bolívia está no momento. Por isso crê na importância da mobilização da sociedade civil como freio para os anseios do governo.

Têm violado todas as normas, têm demonstrado que o governo o mesmo que quer é diálogo. (…) O vice-presidente falou: eu sou comunista e, se vocês querem guerra, vão ter.

Mas ela não crê que seja possível uma guerra.

As pessoas perguntam: vai ter guerra civil na Bolívia? Não. Guerra Civil é quando os dois lados estão armados. Nós, da oposição, não temos armas. O que vai acontecer na Bolívia é um massacre, como aconteceu na Venezuela. As manifestações foram claras, para um pouco de população, mandaram um exército para nos atacar.

Para Anelín Suárez, o principal problema do governo atual na Bolívia é a impossibilidade de aceitar qualquer visão que não seja a sua própria.

O socialismo é totalitário, é ditatorial e é a antesala do comunismo. E acho que, na Bolívia, estamos na fase do comunismo neste momento.

 

 

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