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Facebook e a “censura do bem”
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Numa decisão unilateral e autocrática na última quarta, fui bloqueado pelo Facebook por sete dias e tive um post sumariamente deletado. Ainda estou impedido de usar a rede.

O Facebook é a minha principal plataforma de comunicação nas redes sociais desde 2013, tenho mais de 130 mil seguidores na minha página oficial, meus posts atingem milhões de usuários e a truculência da decisão é realmente espantosa. Ela tem a mesma essência da demissão de James Damore pelo Google, episódio comentado num texto anterior deste blog.

A publicação que gerou o banimento temporário e a impossibilidade de usar qualquer funcionalidade da rede, até o messenger, está reproduzida abaixo. Como o post original foi apagado, consegui a imagem no cache do Google.

Usei a plataforma para fazer o que sempre fiz, oferecer um posicionamento claro sobre uma questão política polêmica para contribuir com o debate. Você pode ou não estar do lado dos que apoiaram o boicote à exposição, o que importa é podermos ter uma conversa franca, aberta, plural, racional e ponderada sobre tudo que envolve as questões que preocupam a sociedade civil, entre elas a erotização precoce da infância.

apparatchik do Facebook Brasil pode concordar ou discordar do conteúdo acima, mas a punição, sem qualquer possibilidade de recurso, apelação ou defesa, num rito sumário e jacobino, deveria fazer você avaliar o poder da rede hoje sobre como as pessoas se conectam no país e no mundo. O Facebook tem o dever de combater conteúdos que cometam crimes previstos em lei, dentro do arcabouço legal do país, mas não é disso que se trata.

Não me importo de pagar um preço por falar a verdade. Não foi a primeira vez, não será a última. A alternativa, podem acreditar, custaria muito mais para a alma.

Como o tribunal do Facebook não dá oportunidade para questionar a sentença neste caso, acabei condenado à revelia e o que sobra é apenas o jus esperneandi em outras plataformas como neste blog. O Facebook, ao sair da necessária avaliação de conteúdos potencialmente criminosos e entrar na patrulha ideológica pura e simples, quando cala opiniões políticas contrárias às dos seus militantes internos, quebra um acordo tácito de confiança em relação à impessoalidade e a isenção com que seus usuários deveriam ser tratados.

Meu ponto no post deletado, como vocês podem ver na imagem acima, foi questionar os que fingem que o debate do caso Santander não é sobre a exibição de conteúdo pornográfico para crianças. O caso foi o tema do meu último podcast que pode ser ouvido aqui.

Nesta sexta, procuradores do Ministério Público do Rio Grande do Sul visitaram a exposição e disseram que a “erotização de crianças era objetivo”. A avaliação, portanto, não é fruto de “moralismo” de “ultraconservadores”, como afirmou a revista Época, a mesma que recentemente deu capa para Joesley Batista, o maior criminoso do Brasil. O tom da imprensa foi quase todo o mesmo, com honrosas exceções como a Gazeta do Povo.

Há um claro movimento de patrulhamento ideológico e cerceamento da liberdade de expressão nas universidades e na imprensa ocidental, um retrocesso civilizacional absurdo e inaceitável. Numa pesquisa da Pew Research Center em 2015, nada menos que 40% dos “millenials” americanos, hoje na faixa entre 20 e 35 anos de idade aproximadamente, concordam que governos devem ter o poder de censurar “discursos ofensivos a minorias”. E quem avalia o que é “ofensivo”, fiscais do governo? A morte de qualquer liberdade, evidentemente, pode ser vendida com um pretexto nobre, mas a essência da censura não muda quando vem acompanhada de uma desculpa.

No caso da exposição do Santander, a polêmica ganha contornos orwellianos e os bloqueios nas redes sociais, processos kafkanianos. Houve uma manifestação legítima de parte da sociedade civil que apoiou um boicote, instrumento liberal e democrático de pressão, que gerou uma reação coordenada e uníssona da grande imprensa e dos porta-vozes tradicionais do establishment recheada de xingamentos absurdos e tentativas torpes de assassinato de reputação. Ricardo Boechat chegou a comparar o MBL a um movimento nazista, um flagrante desrespeito às vítimas do Holocausto, gerando uma resposta indignada de um líder da comunidade judaica.

Vimos censores abortando o debate e calando cidadãos em nome do combate a um boicote, rotulado por eles de censura, evidenciando como os megafones da sociedade têm poucos donos e como eles não conhecem limites éticos, morais ou legais quando querem deixar claro que as liberdades individuais são meras concessões temporárias e podem ser retiradas a qualquer momento e pelos motivos mais fúteis.

Não me importo de pagar um preço por falar a verdade. Não foi a primeira vez, não será a última. A alternativa, podem acreditar, custaria muito mais para a alma.

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