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Mil dias pelas Américas: Minas Gerais e suas atrações naturais e históricas
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Fotos: Arquivo pessoal
Ana e Rodrigo na Caverna do Janelão, no Parque Nacional Cavernas do Peruaçú, em Januária (MG).

Minas Gerais possui uma imensa diversidade de atrações, de Parques Nacionais que preservam belezas naturais magníficas até a região que guarda um dos maiores patrimônios histórico-culturais brasileiros. Esta semana a Expedição 1000dias pôde explorar do Parque Nacional do Peruaçu até a região de Diamantina, suas belezas e suas memórias.

A área do Vale do Peruaçu faz parte de um mosaico de preservação, entre APAs, parques nacionais, estaduais, florestas e reservas Indígenas. A APA do Vale do Peruaçu foi criada em 1989 e possui em torno de 254 mil hectares. O Parque Nacional foi criado 10 anos mais tarde, sobrepôs parte da APA e ainda somou uma nova e grande área com formações calcárias, onde já foram catalogadas mais de 180 cavernas. A Área de Proteção Ambiental, APA do Vale do Peruaçu, engloba também as veredas do Peruaçu e a comunidade de Caraíbas, onde aconteceu o primeiro terremoto com vítimas no Brasil. Em 2008, o tremor de terra atingiu 4,9 pontos na escala Richter, 70 famílias ficaram desabrigadas e 1 criança morreu.

O Parque Nacional Cavernas do Peruaçu está fechado, pois ainda não possui infra-estrutura própria para o turismo. O seu plano de manejo está pronto desde 2005, porém a resolução de várias questões, inclusive fundiárias, está em andamento para que ele possa sair do papel. O seu quadro de funcionários é formado apenas por um responsável, Evandro, Chefe do PNCP pelo ICMBio. Ele se desdobra para atender as demandas da comunidade, dos turistas, da área do parque, treinamentos e viagens, além das questões políticas e projetos que estão em andamento para abertura do parque. Possui também um quadro de terceirizados temporários, onde se encaixam os 15 brigadistas que trabalham nessa época de seca, prevenindo e apagando incêndios.


Caverna do Janelão: estalactites e paredes com mais de 100 metros de altura.

O ICMBio está desenvolvendo um trabalho que visa o ecoturismo sustentável, garantindo a segurança dos turistas e cientistas que o visitam e, principalmente, a preservação das riquezas naturais e do patrimônio histórico e antropológico que o parque abriga. Para conseguir uma liberação de entrada deve-se submeter um projeto especial de pesquisa à aprovação do ICMBio, com pelo menos 15 dias de antecedência para avaliação e possível liberação.

Há 10 mil anos estava terminando a última Era Glacial e o mundo já era habitado pela nossa espécie. Eles lutavam para sobreviver ao frio, utilizando as cavernas como abrigo. As cavernas por sua vez possuem outra perspectiva do tempo e do mundo. A terra existe há 4,5 bilhões de anos, desde então passou por diversas eras geológicas, se transformando e evoluindo com a passagem dos milhões de anos, até hoje. As cavernas presenciaram e fazem parte desta história, pois o processo de formação destas cavidades segue há alguns milhões de anos. Todo este processo fica claro quando entramos em um monumento natural como a Caverna do Janelão, no Vale do Peruaçu. São paredes de mais de 100m de altura, formações espeleológicas gigantescas, como o cogumelo ou a perna da bailarina, que está no Guiness Book por ser a maior estalactite do mundo com 28 metros de comprimento.

A natureza vem trabalhando há 2 ou 3 milhões de anos esculpindo nesta rocha calcária as mais variadas formas, túneis e salões que hoje nos deixam boquiabertos por sua grandeza. Ali dentro devem ter passado preguiças gigantes e toda a grande fauna que um dia já habitou o nosso continente. Não é à toa que ali, a apenas 45 minutos de caminhada, encontram-se também curiosos painéis de pinturas rupestres, que um dia tiveram um significado completamente diferente para os nossos antepassados e hoje contam parte da história recente do nosso país.


Pinturas rupestres, no Parque Nacional Cavernas do Peruaçú.

Saindo das cavernas há apenas alguns quilômetros, vamos à praia do Rio São Francisco que margeia a cidade de Januária. A praia desaparece durante os meses de chuva, de setembro a fevereiro chega a subir em torno de 4 metros e toda a mata alta que vemos à sua margem fica inundada. O Primo é barraqueiro há 37 anos e nos contou que a geografia do rio em frente ao cais aqui em Januária já mudou muito. Ele já teve a sua barraca em três lugares diferentes e atribui estas mudanças à própria natureza. Porém, a principal mudança durante todos estes anos foi a diminuição do volume de água do rio, que se comparado ao que era antigamente, hoje é apenas um pequeno córrego. Além do desmatamento da mata ciliar que assoreou o rio, isso se deve também à Represa de Três Marias, próxima à cidade de mesmo nome.


O Rio São Francisco margeia a cidade de Januária.

Nossa próxima parada: Inhaí. Dirigimos quatro horas entre Januária, Montes Claros, Bocaiúva, Mendanha até chegar em Inhaí. E o que vamos fazer em Inhaí? Uma cidadezinha com pouco mais de 1 mil habitantes, fica próxima ao Rio Jequitinhonha e a majestosa Serra do Espinhaço. É a base para conhecer um dos mais novos Parques Nacionais brasileiros, o Parque Nacional das Sempre Vivas. O parque ainda não possui nenhuma infra-estrutura e até onde conseguimos descobrir, seu plano de manejo ainda não está pronto. As fazendas foram desapropriadas, porém os ex-proprietários ainda não foram indenizados. São 140mil hectares de área onde se destacam os campos de flores sempre-vivas.


Parque Nacional das Sempre Vivas, em Inhaí.

O parque possui uma área baixa, onde encontramos as cachoeiras do Borocotó, Gavião e depois a cachoeira do Vitorino, a mais distante e sem dúvida a mais linda delas. Na parte alta, onde ficam as nascentes e os Campos de São Domingos, estão as responsáveis pelo nome do parque, as sempre vivas. As flores possuem este nome, pois depois que florescem, em maio, se são colhidas na época certa elas secam e ficam exatamente com o mesmo aspecto de quando floresceram, parecendo que estão sempre vivas. Para chegar aos campos são pelo menos 4 horas de caminhada, não viemos programados para acampar lá, mas já ficamos com mais um programa na agenda Pós-1.000 dias: a travessia do Parque Sempre Vivas de Inhaí até Curimataí, 56km entre morros, rios, campos, sempre vivas e carrapatos.

Cruzamos a imponente Serra do Espinhaço de Inhaí até Diamantina. Descobrimos um caminho alternativo que ao invés de voltar à Mendanha, seguia por dentro do Parque Estadual de Biribiri. Uma pequena vila que cresceu em torno de uma indústria têxtil, Biribiri possui dentre seus atrativos turísticos uma vila particular que foi toda restaurada, com direito à uma igrejinha, restaurantes e bares, além de diversas cachoeiras como a dos Cristais e a Sentinela.


Cachoeira dos Cristais, no Parque Estadual do Biribiri, em Biribiri.

Mais alguns quilômetros e finalmente chegamos à Diamantina, terra dos diamantes, das serenatas e de um dos homens mais importantes na história do Brasil, Juscelino Kubistchek. JK nasceu em Diamantina em 1902, seu pai João Cesar, era da cidade vizinha de Mendanha. Seresteiro, inquieto e cidadão atuante na comunidade de diamante no início do século XX, faleceu pouco depois, quando JK possuía apenas 3 anos. Fato curioso foi que quando Juscelino nasceu, João Cesar correu à casa de seu tio e disse: “Acaba de nascer o futuro presidente do Brasil!”


Rodrigo na Rua São Francisco, no centro de Diamantina.

Os principais pontos turísticos de Diamantina são a Igreja do Rosário, o Caminho dos Escravos, a Praça JK, a Catedral Municipal e a Casa da Glória. Um cenário que faz pensarmos que ainda estamos no século XVIII, a não ser pelos carros afoitos que sobem e descem estas ladeiras de pedra. A Vesperata, serenata que acontece nas sacadas das antigas mansões na Praça Correa Rabelo, reúne diversos músicos regionais em uma antiga tradição dos diamantes. São centenas de espectadores, pagantes ou apenas curiosos que rodeiam a praça para ouvir as canções de um tempo de diamantes e JKs, que não mais voltarão.


A casa do ex-presidente Juscelino Kubistchek é uma das atrações de Diamantina.

A apenas 42km de Diamantina fica a cidade de Milho Verde, distrito da cidade de Serro, ladeada por muitos rios e cachoeiras. Reza a lenda que Chica da Silva, extravagante escrava alforriada, teria nascido aqui em Milho Verde. Chica quebrou todas as regras da sociedade na época, vivendo um romance com um dos mais importantes representantes da coroa portuguesa na região. Assim ela viveu uma vida de luxo e riqueza sendo conhecida por seu gênio impetuoso e nada piedoso com seus escravos e mucamas.


Representação de Chica da Silva, em exposição na casa onde ela morou.

Dirigimos mais 16 km e encontramos o povoado de Capivari, pequena comunidade com pouco mais de 500 habitantes. Porta de entrada ao Parque Estadual do Pico do Itambé, ponto mais alto da Serra do Espinhaço, com 2.055 metros de altitude. São 14 km de caminhada, por entre pastos e pedras escarpadas que formam um cenário quase lunar. Nesta vastidão encontramos diversas espécies de flores de cerrado, bromélias e orquídeas que compõe uma das mais belas vistas da região. No topo do Pico do Itambé, estão as nascentes de dois dos principais rios da região, o Rio Jequitinhonha e o Rio Doce. Lá de cima avista-se a cidade de Diamantina e os diversos povoados que se espalham pela região.


Rodrigo e Ana no alto do Pico do Itambé, em Capivari.

Minas Gerais realmente é um estado difícil de deixarmos para trás, com tantas atrações imperdíveis – de naturezas tão diversas e curiosas. Parques nacionais, estaduais e cidades históricas que em apenas uma semana nos levaram dos tempos das cavernas até a Diamantina de diamantes, escravos e Juscelino Kubistchek, e tem muito mais por vir.

Próxima Semana
Serra do Cipó, Parque Nacional do Caraça, Belo Horizonte, Inhotim e cidades históricas, e as Minas Gerais continuam!

Acompanhe a viagem de Ana Biselli e Rodrigo Junqueira todas as quintas-feiras em nosso blog. Também acesse o site dos aventureiros: www.mildias.com.

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