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(Foto: AFP Photo Presidency)
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Em notável crise política, a Venezuela tornou-se um campo de batalha entre as forças governistas, representantes da política “bolivariana”, e a oposição de múltiplas expressões, que alternam manifestações legítimas e atos de condenável violência, além da diversidade de posições ideológicas. Os flagrantes excessos de ambas as partes motivam que mesmo organizações de direitos humanos, como a Anistia Internacional – normalmente crítica aos governos –, no caso venezuelano, também dirijam duras críticas à oposição, convocando-a a se comprometer com o caráter pacifico das manifestações.

A crise venezuelana tem início, antes de tudo, na desestruturação da economia daquele país, excessivamente dependente do petróleo, produto que vive um contexto de grande desvalorização a motivar problemas semelhantes em outros países produtores. A Venezuela vive uma crise de escolha: de um lado, a posição política que reivindica a liderança do país na conjuntura da América Latina; de outro, a posição que mobiliza a insatisfação com os problemas de abastecimento de comovem o país.

Nestes quase 20 anos no poder, o grupo político organizado em torno de Hugo Chávez, hoje denominado Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), conduziu marcantes transformações. Segundo o Banco Mundial, a pobreza caiu de mais de 60%, em 2003, para 30% em 2011. A nacionalização do petróleo e suas receitas destinadas aos programas de distribuição de renda, saúde pública e moradia se tornaram um legado reconhecido do período. Depois da morte do ex-presidente, o sucessor Nicolás Maduro deu sequência ao projeto anunciado, mas se enfraqueceu diante da dependência do petróleo e da dificuldade de diversificação da economia. Neste contexto, a oposição, que já em 2002 tentara um golpe de Estado com amplo apoio dos Estados Unidos, viu uma nova oportunidade de derrotar o chavismo, tomar o poder e mudar os rumos do país.

Anunciando uma saída para o impasse político, Maduro convocou Assembleia Constituinte, medida extraordinária que contou com o voto de mais de 8 milhões de eleitores. A oposição questiona a intenção do governo, denunciando que a constituinte não passa de uma manobra para reverter a derrota sofrida nas eleições legislativas há dois anos, quando a oposição conquistou maioria absoluta no parlamento. Como contraponto, um plebiscito popular convocado para questionar a constituinte mobilizou o apoio de cerca de 7 milhões de pessoas, o que representa menos votos que a eleição oficial deste fim de semana, mas não é um número desprezível.

Esse quadro revela que, dentro e fora da Venezuela, o processo tem sido marcado por muita tensão. Os atos generalizados de violência apontam as dificuldades para uma saída democrática e pacífica. Os Estados Unidos declaram que Maduro seria um ditador, mas preservam os negócios entre os dois países no setor de petróleo.

A crise venezuelana prenuncia o quadro de instabilidades na América Latina. Há cerca de dez anos, a hegemonia de governos alinhados ao discurso bolivariano marcava a tônica anti-EUA e a posição de alinhamento do continente com países da Ásia e da África. Agora, novos governos críticos dessa posição política ganham espaço, mas o movimento coincide com a conjuntura em que os Estados Unidos parecem não manifestar o mesmo interesse no continente. Trump se vê em problemas internos mais graves, e o esforço de resolver a crise econômica motiva uma posição de superar animosidades externas.

Assim, a América Latina se vê polarizada, de um lado, pelo grupo chavista, desarticulado pela falta de liderança, e, de outro, pelos setores conservadores, também órfãos de uma estratégia norte-americana.

(Post com a colaboração de Guilherme Daldin)

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