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Aécio desistiu do “povão”. Convencerá a classe média?
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Cada vez vai ficando mais claro que o discurso de Fernando Henrique Cardoso vai prevalecer na campanha de Aécio Neves. Para quem não se lembra, FHC disse que o PSDB não deveria ficar disputando com o PT a influência sobre o “povão”. O ex-presidente disse em artigo publicado em 2011 que o caminho para as oposições seria tentar conquistar as classes médias. E isso, claro, exigiria outro tipo de campanha, outro tipo de discurso.

Veja um trecho do artigo:

“Enquanto o PSDB e seus aliados persistirem em disputar com o PT influência sobre os “movimentos sociais” ou o “povão”, isto é, sobre as massas carentes e pouco informadas, falarão sozinhos. Isto porque o governo “aparelhou”, cooptou com benesses e recursos as principais centrais sindicais e os movimentos organizados da sociedade civil e dispõe de mecanismos de concessão de benesses às massas carentes mais eficazes do que a palavra dos oposicionistas, além da influência que exerce na mídia com as verbas publicitárias.

 (…) Sendo assim, dirão os céticos, as oposições estão perdidas, pois não atingem a maioria. Só que a realidade não é bem essa. Existe toda uma gama de classes médias, de novas classes possuidoras (empresários de novo tipo e mais jovens), de profissionais das atividades contemporâneas ligadas à ti (tecnologia da informação) e ao entretenimento, aos novos serviços espalhados pelo Brasil afora, às quais se soma o que vem sendo chamado sem muita precisão de “classe c” ou de nova classe média.”

Agora, Aécio Neves, que já fala claramente como candidato, adotou um slogan que vai por esse caminho. “Quem muda o Brasil é você”, diz a mensagem. Isso significa que o discurso será “antipaternalista”. Que o PSDB não quer competir com o PT na atenção de quem ganha Bola-Família. Que quer ganhar a eleição conquistando uma classe média que, supostamente, estaria se sentindo sufocada por impostos que não trazem serviços de qualidade.

O discurso foi reforçado nesta segunda pelo marqueteiro de Aécio, Renato Pereira, em entrevista à Folha de S.Paulo. Ele reafirmou que a mensagem de Aécio será essa.

“Tem a ver com a agenda mais liberal que o PSDB carrega em relação à economia. É uma visão de que o agente da mudança não é essencialmente o Estado. O agente da mudança está na sociedade. São os indivíduos, são as empresas, é a sociedade civil organizada.”

É uma mudança de postura. Aécio tem tudo a ver com isso. Em Minas fez um governo que tem como principal marca a tentativa de aproximar a gestão pública de uma espécie de gestão privada eficiente. Se vai convencer os eleitores de que fez um bom trabalho, é outra história.

Aparentemente, há espaço para esse discurso. No Paraná, Beto Richa ganhou três eleições seguidas prometendo mais ou menos a mesma coisa. Aliás, baseou em grande parte o seu modelo de governo em Aécio Neves. Chegou ao governo e tem boa aprovação. Minas mantém o PSDB no governo.

Mas, por outro lado, sem o “povão” é difícil acreditar que alguém ganhe uma eleição. E parece complicado que o PSDB convença alguém da classe D a votar em Aécio com essa agenda. Os mais pobres são os que mais dependem do Estado. E não por causa de aparelhamento, nem de paternalismo. Mas simplesmente porque uma agenda liberal favorece quem tem mais e prejudica quem tem menos.

Menos impostos significam uma carga menor. Mas significam menos distribuição de renda. Ou Aécio terá de convencer que pode “fazer mais com menos”. Será?

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