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Por Chico Marés, interino.

No último dia 17, o vereador Bruno Pessuti (PSC) apresentou um projeto de lei que altera o formato de remuneração das empresas de ônibus. Hoje, a cobrança é feita de acordo com o pagamento das passagens. Grosso modo, a cada passagem paga pelo usuário, a prefeitura paga o equivalente à tarifa técnica às empresas de ônibus. Pela proposta de Pessuti, as empresas seriam remuneradas de acordo com a rodagem dos ônibus. Isso permitiria que a prefeitura cobrasse dos usuários por tempo, e não por bilhetes individuais.

Não é possível avançar no debate sobre o transporte público em Curitiba sem questionar o formato como a prefeitura cobra o usuário. É absolutamente irracional, injusto e ineficiente cobrar o passageiro apenas por viagens individuais. Hoje, em quase todas as grandes cidades do mundo, é possível comprar bilhetes temporais, que vão de algumas horas até uma semana ou um mês. Isso ocorre por um único motivo: é muito melhor para todos os envolvidos.

Um exemplo para mostrar como o modelo que usamos hoje é irracional: digamos que um sujeito mora perto do terminal do Boqueirão e trabalha na região da Praça da Ucrânia, no Bigorrilho. A forma mais fácil de se fazer esse trajeto é pegar o expresso, ou o ligeirão, descer na Eufrásio Correia, e de lá pegar o Centenário/Campo Comprido. Simples, rápido e direto. Só tem um detalhezinho: fazendo esse trajeto, o usuário paga duas passagens: R$ 6,60 para uma única viagem. Em um mês de trabalho, ele gastaria R$ 290, em média.

Agora, essa não é a única opção. Esse mesmo passageiro pode descer no terminal do Hauer, pegar o Inter 2, ir até o terminal do Campina do Siqueira (ou do Capão da Imbuia) e ali pegar o Centenário/Campo Comprido. Assim, paga só uma passagem, R$ 3,30 – em um mês de trabalho, R$ 145. O problema é que esse trajeto é bem mais longo e bem mais demorado – dependendo do horário, pode levar quase duas horas. É só olhar o mapa: ao invés de uma linha reta, nosso amigo vai percorrer um quarto de círculo ao redor da cidade.

Esse arranjo é ruim para o passageiro e ruim para as próprias empresas. Qual trajeto custa menos para ser feito? Obviamente, o primeiro. O passageiro percorre menos quilômetros e usa menos veículos. Ainda assim, paga o dobro. O sistema premia quem faz os trajetos mais onerosos para o próprio sistema, o que não faz sentido sob qualquer ponto de vista.

Sendo assim, é bem mais lógico que as empresas sejam remuneradas pelo quilômetro rodado e que os passageiros possam ter a opção de comprar bilhetes temporais, que permitam a troca de ônibus sem a necessidade de se estar em um terminal ou em um tubo específico – uma integração de verdade. Isso não colocaria Curitiba de volta na vanguarda do transporte coletivo, mas pelo menos tiraria a cidade da retaguarda.

Spoiler dos próximos capítulos: o projeto muito provavelmente vai ser barrado já na Comissão de Legislação e Justiça. O vereador está legislando sobre matéria de competência exclusiva do Executivo, no entendimento costumeiro da comissão – ou seja, haveria um vício de iniciativa. Uma pena. Que, pelo menos, a ideia sirva como um despertador para que a prefeitura saia da letargia e coloque essa mudança essencial no modelo de transportes na sua pauta de prioridades.

Plano Diretor
Além desse projeto, Pessuti, junto com os vereadores Jonny Stica (PT) e Hélio Wirbinski (PPS), apresentou uma emenda ao Plano Diretor determinando a criação de um bilhete único temporal e intermodal – já pensando no futuro metrô. A proposta foi apresentada em junho. Nesse caso, por ser uma emenda a um projeto da prefeitura, a suposta inconstitucionalidade não se aplica. Resta torcer e pressionar os outros vereadores para que a proposta seja aprovada.

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