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Eduardo Cunha. Foto: Lula Marques/Agência PT.
Eduardo Cunha. Foto: Lula Marques/Agência PT.| Foto:
Eduardo Cunha. Foto: Lula Marques/Agência PT.

Eduardo Cunha. Foto: Lula Marques/Agência PT.

Eduardo Cunha é um sujeito odiado. E fez por merecer o ódio. Desconte todas as acusações de propinas, desvios e escândalos: o que resta ainda é um político que parecer beirar a sociopatia, disposto a absolutamente tudo para chegar ao poder.

Nos dois últimos anos, quando ganhou notoriedade, Cunha se mostrou um homem sem escrúpulos e sem limites. Quando perdia uma votação, driblava o regulamento (e a democracia) e votava de novo, até ganhar.

Quando se viu nas cordas por causa das denúncias, mostrou ser um chantagista – alguém capaz de anular seus compromissos e de mentir descaradamente. Nada disso hoje parece questionável. Mesmo quem o apoiou apoiou por mera conveniência. Mesmo num Congresso sem limites, ele foi visto como inaceitável.

Por isso a comemoração de sua prisão. Os petistas e pró-PT comemoraram principalmente por verem nisso uma vingança. Os outros, por verem uma prova de que não há mais impunidade. Mas apesar de toda a felicidade da nação, é preciso alertar: há um lado perigoso na prisão de Cunha.

Esqueça que se trata de um sujeito abjeto. Numa democracia, os atos do poder público (de um juiz, por exemplo) têm de ser tomados independente do sujeito da frase. O que vale para Cunha necessariamente vale para qualquer um (seja Lula, seja você ou seja eu).

Esqueça Cunha. Esqueça Lula. Se prevalecer o entendimento de que os argumentos a favor da prisão de Cunha são sólidos, as garantias de liberdade de todos nós estarão mudando de patamar. Hoje é ele, amanhã não se sabe quem será.

Lembrando: Cunha não foi preso por nenhum de seus crimes, nem por nada de que está sendo acusado. Foi preso simplesmente para não atrapalhar a investigação – e para supostamente não continuar cometendo crimes.

Mas, como mostra o procurador aposentado Afrânio Silva Jardim, Sergio Moro não demonstrou que Cunha fora da Câmara tinha como cometer novos crimes. Nem demonstrou qualquer tentativa dele de intimidar testemunhas.

Para usar uma expressão que nunca foi dita mas que ficou célebre, não há provas de que Cunha tenha feito algo nos últimos tempos (desde que perdeu o cargo) para atrapalhar a investigação. Há apenas a convicção de que ele poderia fazer.

Mas se depender da intuição do juiz de que alguém pode fazer algo, as prisões poderão ficar cada vez mais arbitrárias. E se hoje você comemora a prisão de Cunha, o que vai dizer quando o sujeito da frase mudar e o preso for alguém que você acha que não merece? Ou nosso julgamento deve depender sempre do sujeito da frase?

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