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Lula se preocupa com a República de Curitiba; o medo mesmo devia ser da República da Intolerância
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Da coluna Caixa Zero, publicada nesta quarta-feira, na Gazeta do Povo:

Por vezes, só o humor nos salva do caos. Dia desses, um site que brinca com política disse que um motorista tentou agredir o semáforo quando ele ficou vermelho. É de rir, mas também de chorar, porque as coisas estão realmente chegando ao ponto do absurdo nessa crise política.

Cada dia, vem uma notícia nova de intolerância. Em Curitiba, recentemente, já houve casos de:

– Gente tendo o carro chutado porque se recusou a buzinar contra Lula;

– Professor ameaçado porque disse que acusados de corrupção não devem ser assassinados;

– Professora que precisou pedir demissão depois que os pais dos alunos acharam que suas postagens no Facebook eram coisa de comunista.

Nesta terça, professores da UFPR e juristas marcaram um ato na universidade. São críticos em relação ao processo de impeachment de Dilma Rousseff e a alguns atos do juiz Sergio Moro. Ato político, mas do tipo que pretende usar argumentação.

Assim que souberam do fato, manifestantes ligados ao Movimento Brasil Livre foram à internet e começaram a recrutar militantes para ir melar o evento com apitos e bandeiras. Não apenas se diziam contra a manifestação como iam bem mais longe. Colocaram uma foice vermelha sobre o símbolo da universidade, chamaram os professores de “golpistas marxistas” e encerraram perguntando: “Quem estes medíocres pensam que são para atacar a honra de Sergio Moro bem aqui na República de Curitiba?”

A resposta poderia ser simplesmente: são pessoas. São cidadãos. Em uma democracia.

A ideia de que é preciso “ser alguém” para se manifestar já é ridícula em si. (E as pessoas que estavam lá têm lá um belo currículo a oferecer.) Tentar impedir um ato democrático é muito pior. Quando tenta se calar quem pensa diferente caminha-se para o fim da democracia. O MBL se intitula Brasil Livre. Livre do quê? Pelo que se viu nesta terça, pode-se imaginar que seja livre de quem pensa diferente deles. O nome que se dá a isso não é bonito.

O clima no país anda tal que você mal pode falar com a pessoa do lado sem receio de ser mal entendido. Há gente que apanhou ou foi ameaçada sem nem falar, só por causa da cor da sua roupa.

O pior de tudo isso parece ser o impedimento à dúvida, que é a base de qualquer exercício intelectual. Quem não assume uma posição radical e se mantém nela fica parecendo traiçoeiro. Ouvir os dois lados com real interesse assume cores de perigosa indecisão. Ou você está de um lado, ou de outro. Decida-se: e ao decidir-se, ataque os adversários.

É claro que tomar posição, ainda mais em um momento crucial da vida nacional, é relevante. Se informar, ler, descobrir com qual lado você se identifica, defendê-lo. Mas, de preferência, sem demonizar os outros. Sem querer chamar de nazistas ou comunistas os demais.

Evidente: você tem todo o direito de ficar só odiando as pessoas e tendo certezas inabaláveis sobre os santos que estão a seu lado. Ou você pode ser uma pessoa racional. As duas coisas, infelizmente não dá.

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