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Foto: Felipe Lima/Gazeta do Povo.
Foto: Felipe Lima/Gazeta do Povo.| Foto:

Uma mulher foi presa na Arábia Saudita por usar uma saia logo acima do joelho e uma blusa que mostrava um pouco da barriga. A detenção ocorreu após um vídeo da jovem ser postado no Snapchat e se tornar viral.

Nas imagens ela caminha sozinha tranquilamente no vilarejo de Najd, a cerca de 150 quilômetros da capital Riade. Seis segundos é o tempo de duração do vídeo. Seis segundos. Foi o que bastou. A televisão estatal informou que ela foi presa pela polícia de Riade por usar “roupas sugestivas”.

O país exige legalmente que as mulheres se vistam com “abaya”, vestimenta que cobre todo o corpo. Elas devem também usar o hijab (véu muçulmano). Depois de ter a imagem exposta para todo o país parte da população exigia que a mulher fosse julgada por seu comportamento.

Alguns usaram o argumento: “se ela mora no país deveria respeitar as leis que ele impõe”. Outros disseram que jovem foi corajosa e citaram visitantes estrangeiras ilustres que não seguiram o dress code e saíram “impunes”. Como Melania e Ivanka Trump.

O destino da jovem saudita ainda é incerto, as autoridades policiais e religiosas dizem que estão analisando a questão.

Leia mais (em inglês): Mulher saudita que usou saia em vídeo viral é presa, diz televisão estatal.

A Arábia Saudita é um dos países mais rigorosos com relação ao comportamento feminino. É necessário ter um homem acompanhando a mulher caso ela queira trabalhar ou viajar pelo país. Elas são vigiadas constantemente. Não podem tirar carteira de motorista, portanto são proibidas de dirigir.

Numa pesquisa feita em 2014, 63% da população apoiava que as mulheres sauditas usassem hijabs que cobrissem todo o rosto, menos os olhos. Só 3% acreditavam que não cobrir a cabeça era apropriado para mulheres.

Mas não é só na Arábia Saudita que as mulheres são condenadas a penas duras por exercer um mínimo de liberdade sobre seus corpos. No Paquistão há cerca de um ano, Qandeel Baloch, de 26 anos foi estrangulada pelo irmão em crime considerado “de honra”.

Ela era conhecida por ser um webcelebridade que postava fotos sensuais e falava abertamente sobre sexo. Em uma sociedade extremamente conservadora, conseguiu inúmeros admiradores e inimigos. Quando foi preso, o irmão de Baloch, disse que não se arrependia de ter cometido o crime.

“Crimes de honra” são comuns no Paquistão, em 2015 foram 933 mulheres assassinadas para “limpar a honra” da família, como mostra reportagem do Nexo na época.

No Brasil, os crimes de honra também são conhecidos  como “crimes passionais”. O homem que mata a mulher por ciúmes, porque foi traído, porque foi abandonado, porque vê a mulher como uma posse. Já falamos aqui no blog sobre a lei do feminicídio e mesmo ela representando um avanço na questão legal, ainda são raras as condenações por esse tipo de crime.

Dados de 2015 – quando a lei foi implementada – da Organização Mundial da Saúde (OMS) colocam o Brasil como o quinto do mundo com maior taxa de feminicídios: eram 4,8 assassinatos para 100 mil mulheres.

Dois pesos, duas medidas para quem?

Mas a Arábia Saudita e o Paquistão estão longe do Brasil, uma realidade completamente diferente da que vivemos. Já imaginou um homem ser preso por andar sem camisa pela rua? Ou uma mulher por usar saia? Jamais aconteceria, não no Brasil. Mas com certeza você já deve ter ouvido – ou até falado – da roupa de alguma mulher que passou por você na rua, no trabalho, na balada.

Julgar uma mulher pela roupa que ela usa está tão naturalizado que não é visto como algo tóxico. A discussão é obviamente mais complexa e deve ser mais profunda que alguns exemplos, mas exemplos podem nos fazer refletir e isso já é um começo.

Veja bem, o que está em questão não é só o tecido que envolve um corpo, mas o comportamento da pessoa que o carrega. E a partir disso ela será categorizada, definida e decidirão se ela será – ou não – respeitada. Baseado na roupa que ela usar. E isso no Brasil. País tropical, bonito por natureza e que em fevereiro – ou março – tem carnaval e onde por uma semana nada disso importará.

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