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Circo da Democracia. Foto: Antonio More/Gazeta do Povo.
Circo da Democracia. Foto: Antonio More/Gazeta do Povo.| Foto:
Circo da Democracia. Foto: Antonio More/Gazeta do Povo.

Circo da Democracia. Foto: Antonio More/Gazeta do Povo.

Da coluna Caixa Zero, publicada nesta quarta-feira, na Gazeta do Povo:

No picadeiro do Circo da Democracia, em Curitiba, Dilma afirmou que o fato de haver 35 partidos no Brasil e 25 no Congresso é o verdadeiro problema de nossa política. Com todas as letras, disse que isso é “o pai e a mãe do fisiologismo” no país. E disse que logo, logo teremos mais partidos ainda. Não por questões ideológicas (se fosse por isso, “teríamos uns sete”), mas porque ter um partido é, digamos, útil.

Útil para quê? Bom, fica subentendido. Quem tem representação no Congresso pode pedir algo em troca do voto. Se você comanda a bancada, ainda que pequena, tem como negociar. E num Congresso ultrafragmentado, a tendência é de que haja uma multidão de pequenas bancadas. Para quem governa (se é que governa), um inferno. Para quem criou o novo partido, o paraíso na terra

Dilma disse isso num discurso de 40 minutos em que tentou explicar o que aconteceu antes de ela ser expelida de seu próprio governo. Embora não tenha admitido malfeitos (para usar o jargão dela mesma), fica implícito que só se governa usando o velho sistema. É como se Dilma estivesse retomando a frase de Lula de que há 300 picaretas com anel de doutor no Congresso. E dizendo que foi vítima da tal picaretagem.

Faz sentido? Até faz. Dilma realmente foi derrubada, entre outros fatores, porque os deputados fisiológicos acharam que era mais vantagem tirá-la de lá e colocar alguém que os atendesse melhor – e com menos dor de cabeça. Mas seria ingenuidade ficar nessa primeira camada, sem ver que o PT sabia exatamente o que estava fazendo, onde estava se metendo, quando decidiu fazer o pacto com essa gente.

Até 2002, o discurso petista era o do sapo barbudo: contra tudo e contra todos. Goste-se ou não daquele Lula, parecia que ele realmente não queria compactuar com os 300 picaretas. Mas aí o PT teve seu insight, seu estalo de Vieira. Exatamente ao contrário do que acontece no Leopardo, o famoso romance italiano, para que algo mudasse era preciso que tudo ficasse como estava.

Para o partido implantar seu programa, era preciso manter o jogo como era. E se apropriar dele. Era preciso domesticar os picaretas e usá-los como se usa uma massa de manobra. Prometer aos deputados o mesmo que lhes era prometido por outros projetos. Jogar o mesmo jogo. Assim, ganhavam-se eleições, governava-se, implantava-se (ainda que não inteiramente) o programa petista. Deu certo? Pensando do ponto de vista pragmático, deu certo. Um casamento de 12 anos em que os dois lados estavam satisfeitos.

Mas o cálculo de Lula e de Dilma estava errado, não só pelos evidentes motivos éticos. É que o monstro que eles achavam ter domado era o mesmo de antes. E assim que viu a Lava Jato ameaçando sua sobrevivência, cuspiu fora quem achava ser seu dono. Os petistas se viram não só expulsos do poder como escarnecidos por terem caído na armadilha que achavam estar armando para os outros.

Dilma tem toda razão: o Congresso brasileiro é fisiológico, é absurdamente fisiológico. Mas em 13 anos, o PT nada fez para mudar isso, nenhuma reforma, nenhum mínimo esforço. Por 13 anos, ninguém foi chamado de picareta – porque os picaretas estavam ao lado do petismo. Agora, de volta à oposição, o petismo descobre que a picaretagem está viva e passa bem. Ao contrário do próprio partido, jogado na lama da História.

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