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O que um governo precisa fazer para dever R$ 1,1 bilhão?
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Jozélia

Ainda será preciso que alguém explique, no futuro, o que exatamente deu errado com as finanças do governo Beto Richa (PSDB). De uma coisa não há dúvidas: algo deu muito errado. Até agora, o que se tinha sobre o assunto de mais gritante eram a paralisação de serviços prestados ao Estado. Por pura falta de pagamento. Telefones cortados, viaturas sem gasolina e carros sem ter oficina que os conserte viraram notícia velha no Paraná. Agora, na sexta passada, a secretária da Fazenda colocou um número impressionante no rombo.

O fato, segundo a própria Jozélia Nogueira, é que o Paraná deve neste momento R$ 1,1 bilhão para fornecedores. Trata-se de um daqueles números que nós, leigos, temos até dificuldades em entender. (Ricardo Semler costumava dizer que pobre é o sujeito que não reconhece a diferença entre um milhão de dólares e dez milhões de dólares. Alguém aí?) Pois R$ 1,1 bilhão é muito dinheiro.

A comparação com o investimento que o Estado pode fazer é autoexplicativa: por ano, o Paraná consegue, no limite, R$ 1,7 bilhão para obras. A dívida está em dois terços disso. Ou, por outra: mesmo o multimilionário empréstimo que o governo espera do Proinveste, de R$ 817 milhões, só cobre três quartos do que se deve. A situação chegou a tal ponto que, para pagar o que deve, o estado precisaria ganhar na Mega-Sena da Virada meia dúzia de vezes, sozinho.

Curiosamente, tudo isso começou durante a gestão de Luiz Carlos Hauly na Secretaria da Fazenda. Um homem que já foi secretário de um governo conhecido pela austeridade, vejam só. O senador Alvaro Dias, que governou o estado entre 1987 e 1991, adora repetir uma fala de Joelmir Betting no Jornal Nacional. Veja o trecho:

“Apenas um estado brasileiro, apenas um, conseguiu fechar o ano sem déficit e até com superávit acima de seis bilhões de cruzeiros. Mesmo com recessão, que derruba a receita, o Paraná está com todas as contas em dia, sem cortar obras, sem atrasar pagamentos, sem antecipar receitas, sem lançar títulos. É um milagre operado por um par de santos: reforma administrativa e saneamento financeiro do estado. Com isso, o Paraná revela que a administração pública no Brasil ainda é viável.”

Hauly fez isso. E agora fez o quê? Jozélia disse que o problema foi que, à espera de empréstimos, o governo foi gastando por conta. Depois, a versão melhorou um pouco. Diz-se que o estado tinha de investir primeiro para ter direito a alguns dos empréstimos, destinados só se a contrapartida estivesse em andamento. Que seja: valeu a pena colocar serviços e salários em risco por empréstimos futuros? Não seria melhor esperar ou conseguir empréstimos sem essa estranha condicionante?

Fato é que austeridade não houve. Nem reforma administrativa. Nem saneamento financeiro do estado. A administração pública no Brasil continua sendo viável? Pode ser. Mas não é o Paraná que está demonstrando essa viabilidade ultimamente.

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