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Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo.
Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo.| Foto:
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O relatório da Oxfam mostrando que oito pessoas têm riqueza igual à de 3,6 bilhões de indivíduos é chocante – e ao mesmo tempo não chega a ser uma grande novidade. A concentração de riqueza não só é enorme como tem aumentado em anos recentes.

Pelo relatório (que está disponível na íntegra em português), basta você pegar as fortunas de oito pessoas e será necessário somar tudo o que acumulou ao longo de sua vida a metade mais pobre da humanidade para equilibrar a balança.

Oito pessoas contra 3,6 bilhões é um número impressionante. E não é o único número chocante. Se você pegar as fortunas dos 400 indivíduos mais ricos dos Estados Unidos (quase todos brancos e homens, assim como os oito bilionários da lista da Oxfam), vai descobrir que eles têm mais do que todos os 16 milhões de lares de negros no país.

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A Oxfam havia dito recentemente, inclusive, que ao final de 2016, o 1% mais rico do mundo teria, sozinho, mais riquezas do que os demais 99%. Por isso o nome do relatório, “Uma economia para os 99%”.

Para entender bem o que o relatório da Oxfam diz é preciso primeiro entender o que é “riqueza”. Não se está falando de renda – salário, por exemplo, não entra nesta conta. O que entra é aquilo que chamamos de patrimônio – ações, dinheiro em investimentos, imóveis etc. Nemk bens duráveis (como carros) contam aqui.

A maior parte da humanidade sequer tem “riqueza” neste conceito. Quem não tem casa própria vive de salário muito possivelmente apareceria como um “zero” nesta conta da Oxfam, a não ser que tenha dinheiro investido. Aliás, há quem tenha riqueza negativa (dívidas maiores do que o patrimônio).

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A concentração de riqueza é muito maior do que a concentração de renda (a maioria das pessoas que não têm patrimônio tem alguma fonte de renda, como um salário, uma aposentadoria ou uma pensão). E é evidente que sempre será assim.

O que o estudo da Oxfam tenta mostrar – por meio do choque do número – é que essa desigualdade não precisaria ser tão profunda. Aliás, já foi menos profunda. Desde os anos 1970, tem crescido significativamente.

O crescimento da desigualdade é o tema do belíssimo estudo de Thomas Piketty, em “O Capital do Século 21”. Lá, ele mostra que o grande problema da desigualdade é que ela sempre tende a crescer quando o crescimento da riqueza é maior do que o crescimento do PIB.

E isso acarreta um aumento permanente e cada vez mais acelerado da desigualdade. Porque quem herda dinheiro pode viver tranquilamente com ais riqueza do que alguém que vem debaixo jamais poderá sonhar em ter.

A solução, segundo Piketty, não seria acabar com o capitalismo nem nada semelhante, e sim instituir impostos que façam com que viver de renda e repassar heranças sejam algo menos pernicioso do que hoje – em termos de desigualdade, não há dúvida de que isso seja maléfico.

Ou seja: seria preciso cobrar mais imposto sobre heranças e sobre grandes riquezas, além de ter um controle mais sério sobra riqueza escondida, como dinheiro colocado em contas numeradas na Suíça, por exemplo.

Na verdade, segundo muita gente, o que põe o capitalismo em risco não são soluções como essa, e sim o excesso de desigualdade, que ameaça levar até mesmo a crises e rupturas, com revoluções à vista.

Na época da Primeira Guerra Mundial, quando havia uma concentração parecida com a de hoje, o que se fez, por exemplo, foi diminuir a rentabilidade de títulos de governo e instituir o Imposto de Renda progressivo.

Nada que hoje pareça radical. Mas um conjunto de soluções que ajudou a diminuir a concentração de riquezas por um século, antes de voltarmos a um abismo como o atual.

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