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Piscina compartilhada nenhum juiz merece
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Da coluna Caixa Zero, publicada nesta quarta-feira, na Gazeta do Povo:

Os juízes do Paraná receberão ao menos R$ 3,2 mil a mais por mês em suas contas bancárias. São 15% adicionados a uma remuneração que já começa em R$ 21 mil. Segundo eles, não se trata de salário: a verba servirá meramente como auxílio-moradia para a categoria. Ao longo da carreira, um magistrado é transferido muitas vezes e precisa arranjar casa nas cidades onde chega. Curiosamente, o Judiciário decidiu que o sujeito não terá de demonstrar que gastou aquele dinheiro com moradia (o que faz crer que possa simplesmente ser embolsado como salário).

A pergunta básica nesse caso talvez seja: quanto custa morar no interior do Paraná? A coluna fez a pergunta em imobiliárias de várias cidades que são sede de comarca e que, portanto, recebem juízes e promotores ao longo de sua carreira. Muitos corretores mal sabiam o que dizer quando se perguntava o que seria possível alugar na cidade por um valor mensal de R$ 3,2 mil.

Na pequena Mallet, no Centro-Sul do estado, a corretora disse que sequer consegue conceber um imóvel que possa ser alugado por mais de R$ 600. Na maior parte das vezes as casas boas (de três quartos, com terreno) têm aluguel de R$ 450 ou R$ 500. Nesse caso, o juiz (ou promotor) embolsaria mensalmente pelo menos R$ 2,6 mil, ou mais de 80% do “auxílio-moradia”.

Em Arapoti, nos Campos Gerais, o corretor informou que por R$ 1,2 mil (pouco mais de um terço da verba mensal), é possível alugar uma casa com “três quartos, três banheiros, sala com dois ambientes, copa, cozinha, lavanderia, quintal amplo, garagem e churrasqueira e condomínio fechado”. A casa mais cara do município, segundo ele, custaria R$ 2 mil por mês e, além de todas as características acima, viria mobiliada. Sobrariam, mesmo nessa hipótese, R$ 1,2 mil por mês.

Mesmo em cidades um pouco maiores (para juízes e promotores que já têm mais tempo de carreira), não há como encontrar imóveis de R$ 3,2 mil mensais. Em Apucarana, por exemplo, um imóvel de quatro quartos (sendo uma suíte), três salas, cozinha com armários planejados e garagem tem aluguel de R$ 2 mil. Em Pato Branco, a coluna encontrou uma casa de três quartos (1 suíte), três salas, edícula com churrasqueira e banheiro. O aluguel mal consome metade da verba: fica em R$ 1.750 por mês.

Para juízes mais perto do topo da carreira, a preocupação seria com o preço das casas em cidades de grande porte, como Maringá. Mesmo lá, no entanto, suas excelências terão dificuldade em gastar o total da verba caso queiram alugar uma casa de luxo. Por R$ 2,3 mil é possível locar um sobrado grande, de quatro quartos, com área de lazer. Questionada sobre o que seria possível fazer com R$ 3,2 mil, a corretora para e responde: acima de R$ 3.000 seria uma casa com piscina.

No último passo da carreira, em Curitiba, o juiz ou promotor finalmente conseguiria gastar toda a verba com aluguel (caso ainda não tivesse conseguido comprar uma casa própria com salários mensais acima de R$ 20 mil durante toda a carreira). Na imobiliária Greenville, especializada em casas e apartamentos de luxo, a corretora informa que os R$ 3,2 mil seriam suficientes para um sobrado grande em condomínio fechado em um bairro como o Boa Vista.

A coluna perguntou se o imóvel poderia ter piscina. A resposta foi um pouco frustrante. Sim, mas compartilhada com os outros moradores do condomínio. Por sorte a essa altura os juízes e promotores, em fim de carreira, já ganham mais, e os 15% do auxílio-moradia passam dos R$ 4 mil. Porque piscina compartilhada, convenhamos, ninguém merece.

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