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Prefeitura de Curitiba erra a mão ao “questionar” direitos dos deficientes
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Se o objetivo era chocar, chocou. Desde esta segunda-feira, milhares de pessoas repudiaram o anúncio colocado em outdoors de Curitiba que pedia menos direitos para os deficientes. Naquele momento, não estava claro quem tinha pago os anúncios nem qual era exatamente o objetivo da campanha.

Agora, sabe-se que quem pagou a campanha fomos nós, curitibanos, por meio da prefeitura. E que a ideia é fazer uma segunda fase da campanha em que aqueles primeiros argumentos seriam contestados. Em que se mostraria que os “privilégios” dos deficientes não são na verdade privilégios, mas sim direitos.

Muita gente, porém, continuou chocada. Caso da União de Pais pelo Autismo, que via Facebook repudiou a campanha da “Prefs” mesmo depois de saber que se tratava de uma tentativa bem intencionada de chamar a atenção para o problema.

“Ninguém se sentindo aliviado. As horas em que a mensagem contra as pessoas com deficiência ficou estampada no outdoor para que o mundo visse acabou gerando muito desgaste e decepção. Mesmo quem antes ficava em silêncio aproveitou a deixa para insultar e humilhar pessoas com deficiência, piorando ainda mais o dia a dia que já é difícil para quem vive essa situação. Foi de fato uma mostra de o quanto a humanidade precisa evoluir”, diz o post.

Nas redes sociais da própria prefeitura também houve revolta. “De muito mau gosto, péssima ideia, lembrando que incitar o ódio é crime, e isso que foi feito foi incitar o ódio. Ainda que a intenção fosse boa, não gostei da forma que foi colocada, eu como mãe de criança especial não aprovei, não gostei, me senti atingida, nota zero”, disse uma internauta.

Houve inclusive quem cogitasse que o anúncio poderia ser considerado ilegal, como o professor de Publicidade André Tezza, que cita o artigo 1.º do código de ética do Conar: “Todo anúncio deve ser respeitador e conformar-se às leis do país; deve, ainda, ser honesto e verdadeiro.”

É claro que também houve apoio. Muita gente disse que se a intenção inicial era chocar para depois apoiar os direitos dos deficientes, a estratégia poderia estar correta.

Mas o maior problema mesmo da campanha parece ser o fato de ter colocado em questão a legitimidade de direitos que a sociedade não estava questionando. Os direitos dos deficientes são em geral aceitos pela população. E o “manifesto” lançado pela falsa associação criada pela prefeitura questionava pontos que em geral nem são discutidos – provavelmente porque já aceitos – como descontos em eventos culturais.

Até o momento, a prefeitura vem respondendo às críticas dizendo que quem criou a campanha foram os próprios integrantes do Conselho da Pessoa com Deficiência:

“Esses são os criadores da campanha, os integrantes do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência. Eles vão aproveitar o impacto gerado para divulgar mensagens afirmativas e educar sobre o tema. Infelizmente, esse assunto nem sempre recebe a atenção que merece.”

O lema da campanha a partir de agora é dizer que não se trata de privilégios, mas de direitos. A intenção é boa. Espera-se que, ao fim, a campanha da prefeitura traga bons frutos. No primeiro momento, só o que conseguiu foi causar mal-estar e questionamento de direitos das pessoas que mais necessitam deles.

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