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Beto Richa. Foto: Antonio More/Arquivo Gazeta do Povo.
Beto Richa. Foto: Antonio More/Arquivo Gazeta do Povo.| Foto:

Beto Richa terminou seu primeiro governo com uma frase na ponta da língua: “O melhor está por vir”. Não é difícil entender o motivo da promessa. É que os quatro anos do primeiro mandato não tinham sido lá grande coisa da população. Mas, dizia Beto, era fácil explicar.

E a explicação era a de sempre. Ele pegou um governo quebrado. Recebeu uma herança maldita. Tudo estava um horror – usou todas as desculpas do manual. Mas no segundo mandato? Ah, tudo seria diferente porque agora, dizia ele, estamos com a casa em ordem!

Aparentemente Beto tinha crédito com a população, ou pode ser que simplesmente detestasse as duas alternativas que lhe foram apresentadas – Requião e Gleisi. Fato é que o governador, com 17 partidos e mais de 600 candidatos a deputado a seu lado, levou as eleição com a mão nas costas.

Mas logo em seguida ficou claro que o buraco era bem mais embaixo. O primeiro mandato não tinha sido apenas de falta de obras e realizações, como se imaginava. Tinha sido também um período de gastança desmedida, de quebradeira geral das contas públicas.

Caos

Assim que se reelegeu, Richa deixou claro que o Paraná cenográfico da campanha tinha de ser desmontado. Chamou um secretário da Fazenda encarregado de fazer a Derrama, agora tucanada com o apelidinho simpático de “ajuste fiscal”. Aumentou IPVA, ICMS, taxou aposentados.

Mesmo assim, a coisa era feia. Para pagar o décimo terceiro, o governador do “melhor está por vir “quase teve de vender sua meia dúzia de livros (ainda em bom estado, nenhum sinal de que tenham sido lidos) para um sebo. “Estamos contando os centavos”, disse Mauro Ricardo, que chegou admitindo a irresponsabilidade que corria solta no Paraná.

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O início do segundo mandato de Beto Richa entrará para a história como um dos piores momentos que um governante já proporcionou aos paranaenses. Na primeira semana de funcionamento do Legislativo, Beto e seu secretário da segurança enfiaram 33 deputados num camburão para aprovar a “reforma previdenciária” – um eufemismo para dizer que o governo passaria a retirar R$ 135 milhões por mês da poupança destinada a pagar os aposentados.

Para o folclore político foi uma maravilha. Vimos Francischini fugindo de um aposentado e se escondendo atrás dos PMs. Houve relatos curiosos do que aconteceu dentro do camburão. E o governo acabou tendo de admitir que o pior estaria por vir caso mantivesse a proposta. Acuados num restaurante, com o plenário já tomado, os deputados apelaram a Richa que tivesse piedade de suas almas, e o povo viu as medidas irem por água abaixo.

29 de abril

Em abril, a versão 2.0 do ajuste foi a votação num dia trágico, que terminou com 213 feridos. Não é preciso recapitular o tamanho da barbárie, que levou o estado a ser destaque no mundo todo. Pior ainda foi Beto ter a coragem de dizer que quem saiu mais machucado, coitado, foi ele. Todos imaginavam que tinha sido o cinegrafista mordido por um pitbull ou os professores baleados com projéteis de borracha, veja só.

Hoje, Beto tem a mania de dizer que fez a lição de casa, mesmo colocando sua popularidade em risco. Hora, pode perguntar aos professores que apanharam no Centro Cívico: nenhum deles passa como lição de casa descer o cassetete nos outros.

Lição de casa teria sido evitar o desperdício desde o primeiro momento – como aliás, o governador prometia na campanha (fazia num gesto com a mão, sempre igual, decorado como tudo que diz à tevê, de que “fecharia as torneiras do desperdício).

Problemas de todo tipo

Mas o governo teve muitos outros problemas além do fiscal. O segundo mandato foi marcado pela truculência da PM, não só no 29 de abril. Pela falta de funcionários em muitas áreas (como a Defensoria e a polícia científica, para ficar só em duas). Pelo descaso com os direitos humanos, com presos defecando em marmitas e amontoados em criames do PCC.

Foi um governo marcado pelo sigilo. Em que tratativas para prorrogar os contratos absurdos do pedágio eram feitas e negadas. Em que se pediam informações sobre os voos anteriores do governador e isso era negado porque, segundo a Casa Militar, a informação colocava em risco a segurança de Beto (como se fosse possível armar um atentado retroativo).

Foi um governo de escândalos. Escolas que nunca eram construídas mas eram pagas. Gente na Receita fazendo barbaridades entre uma corrida e outra ao lado do governador. Um parente (que de repente virou distante, mas que antes acompanhava Beto ao Líbano) que foi preso fraudando as licitações do governo do primo.

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Só denúncias de caixa dois na eleição, naquela do melhor está por vir, foram três. A Odebrecht diz que doou dinheiro ilegalmente. O dono da Valor diz que repassou dinheiro de escolas fraudadas. E há delatores dizendo que dinheiro da Receita foi parar na campanha. Dá para pedir música no Fantástico.

Sem contar a denúncia de que a primeira-dama forçava os auditores a cobrar cobertores de empresas para poder fazer caridade com o eleitor.

Mais erros

Claro que todo governo tem erros e acertos. Seria uma bobagem dizer que não houve nada de bom em quatro anos, quanto mais em oito. Criou-se a Defensoria. Houve modernização no porto. Terminou-se uma usina importante.

Mas o ponto é que, de longe, houve mais fatos negativos. E talvez o pior tenha sido o modo como Beto “resolveu” as finanças do estado. Pôs a mão em tudo. No dinheiro da previdência, em dinheiro de ações que ainda tramitam no Judiciário, no lucro da Copel e da Sanepar, que ao invés de investir mais ajudaram a pagar as contas do governo, e até no imposto dos anos seguintes – com a tal antecipação bilionária do ICMS.

Beto gastou muito e usou dinheiro de uma maneira insana para cobrir suas despesas. Foi perdulário: fez um contrato de helicóptero em que pagava mais horas do que pode usar. Pôde pagar pelas horas em que o equipamento está no chão, mas não pôde pagar para que os professores tenham uma hora a mais por semana para preparar suas aulas.

O melhor não veio. Nem virá em breve. Beto amarrou as coisas de um jeito que seu sucessor não poderá dar reajuste ao funcionalismo em 2019. E quem sucedê-lo terá R$ 3,4 bilhões a menos de ICMS para receber porque foi tudo antecipado para dar uma maquiada nas contas no novo ano eleitoral que vivemos.

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