Clube e torcidas organizadas são indissociáveis
Agravou-se a crise entre a diretoria do Atlético e as torcidas organizadas – Fanáticos e Ultras. Pior: milhares de associados não se dispõe a fazer a biometria exigida de forma autoritária pela diretoria.
A Arena da Baixada ficou vazia no último jogo do Furacão.
No embalo, a oposição política está juntando assinaturas para convocar uma Assembléia Geral com o objetivo de tentar passar o clube a limpo.
Não é pouca coisa acontecendo ao mesmo tempo, se ainda considerarmos a campanha insatisfatória da equipe durante toda a temporada.
A meu ver, o que os atuais mandatários atleticanos que, diga-se por imperativo de justiça, realizaram relevantes serviços na parte patrimonial e organizacional do clube, ainda não conseguiram entender é que as pessoas não são obrigadas a associar-se.
Elas são levadas pela paixão, simpatia ou simplesmente pelo desejo de colaborar, mesmo que modestamente, para satisfação do seu coração.
Mas um clube de futebol provoca sensações distintas em quem que se filia a uma sociedade recreativa e de lazer.
O perfil do sócio do Clube Curitibano ou do Country Club, por exemplo, é completamente diverso da maioria que se associa a um clube de futebol. Mesmo que centenas de membros das duas entidades sociais citadas integrem os quadros dos nossos representantes futebolísticos, e freqüentem assiduamente os jogos, o ambiente nos estádios e nas modernas arenas é descontraído e livre para o mais variado tipo de manifestação.
No círculo social fechado, que seleciona os candidatos a sócio e chega a dar bola preta para muitos interessados, a esfera é completamente diferente.
Muitos adquiriram mais de uma cadeira na Arena da Baixada com o espírito de cooperação, passando as carteirinhas para parentes ou amigos. Com a biometria restringiu-se a utilização do espaço e desagradaram milhares de colaboradores espontâneos que optaram pelo pay-per-view sem stress.
Clube de futebol não tem dono e quem se acha proprietário da história e dos feitos de algum deles está completamente equivocado. Por mais que se dedique, por mais que se faça e por mais que realize, todos os dirigentes são passageiros. Só a instituição é permanente.
Os verdadeiros donos são os sócios e os torcedores.
Clube e torcidas organizadas são indissociáveis.
As torcidas de times de futebol organizam a festa, os cânticos, as alegorias, a criatividade repentista e constroem rituais e simbologias, marcas da nossa cultura popular, de nossas identidades coletivas.
Não às gangues infiltradas nas torcidas. É preciso separá-las do coletivo historicamente legítimo de jovens que frequentam os estádios movidos pela paixão e, sobretudo, pela alegria de viver. Popular e democraticamente.
Os atos de violência das organizadas devem ser punidos e a prevenção no planejamento de segurança é imprescindível.
Com inteligência, humildade e bom senso o Atlético conseguirá superar a sua mais grave crise de relacionamento interno.
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