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Ricardo Pozzo
Ricardo Pozzo| Foto:

1 – Por quase cinquenta dias estive diariamente escrevendo sobre cultura, especialmente literatura e artes visuais;

2 – Foi, certamente, o período em que mais fui exigido intelectualmente e mais estive deparado com a extensão da minha própria ausência de conhecimento e autoridade, a constatação de que mal sei algo sobre três ou quatro coisas;

3 – Como leitores, temos a tendência (talvez acadêmica e dualística) de enquadrar a prática jornalística sob um viés específico, o jornal como isso, o jornal como aquilo. Não me parece adequado interpretar uma editoria de cultura ao plano raso da manipulação e do esnobismo, por exemplo – como se a imprensa fosse a responsável direta pela fraqueza ou força de uma cena, termo que, em sua essência, já me incomoda. Percebi na prática, no habitus, como as coisas são difíceis e os esforços são expressivos. Por outro lado, somos, sim, responsáveis, em certa medida, pela legitimação cultural de um tempo. Repetindo: não é fácil;

4 – Escrevi pouco além do que esteve no impresso. Mal respondi emeios. Cometi duas crônicas interinas. Algumas mensagens de textos. Até bebi pouco. Entretanto, considero que estive afetivamente presente em todas as matérias que assinei, sobretudo, nas quase vinte resenhas realizadas no período. É uma outra espécie de registro do que somos e de nossa singularidade. Fui feliz e me contradigo;

5 – É sobre isso que quero te falar. Descobri, nestes quase dois meses, uma paixão tardia pela crítica literária que me levou basicamente a dois eixos de interpretação: a) É gratificante traduzir jornalisticamente um livro ao sabor de seu tempo. Resenhar lançamentos é perigoso e satisfatório, ainda mais reconhecendo que tenho mão pesada e sou meio dado aos galicismos e palavras que caíram em desuso; b) Cada resenha foi bem representativa da minha limitação enquanto ser pensante e da minha duvidosa bagagem intelectual – fui pior onde pensei que mais sabia, onde não sabia, sofri de medo. O que quero dizer, enfim. Preciso me retirar por um tempo e estudar mais. Talvez em breve eu volte, talvez demore um pouco, talvez surja um caminho que me leve novamente à produção pública constante. Por ora, preciso descansar-me da minha própria ignorância e recomeçar, passo a passo, o ofício que o grande cronista Humberto Werneck chama de preencher os ovos do cesto.

Até breve.

Com carinho,

Daniel Zanella

P.S.: Onde posso escrever as palavras exatas que deem a dimensão da gratidão que devo e sinto pelos colegas e amigos de redação que me acompanharam e tiveram paciência comigo neste período tão intenso e repleto?

Ricardo Pozzo

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