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Elvis & Madona é comédia romântica (e sexual) subversiva
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Igor Cotrim e Simone Spoladore: outra história de amor.

Há uma interessante combinação de subversão e romantismo na provocativa comédia Elvis & Madona, em cartaz desde a última sexta-feira em Curitiba. Não lhe faltam elementos recorrentes em filmes desse tipo, como a importância do acaso no encontro entre os protagonistas, os revezes do destino que podem impedir a felicidade do casal principal ou o vilão desalmado que fará de tudo para separar os amantes, colocando a mocinha em risco. Acontece que há dados fundamentais na história que serão capazes de dar um nó na cabeça do espectador mais conservador – ou desavisado.

O filme, escrito e dirigido pelo cineasta fluminense Marcelo Laffitte, é uma verdadeira aula sobre gênero. Explicando: Lady Madona (o ótimo Igor Cotrim), a personagem principal feminina do longa, é travesti. De dia, ganha a vida como cabeleireira e, à noite, completa o orçamento fazendo shows de transformista em boates. Já o galã, o “mocinho” da trama, na verdade chama-se Elvira (a curitibana Simone Spoladore, também excelente) e é uma garota lésbica, que prefere ser chamada de Elvis, por conta do cabelo curto, das roupas de couro retrô e de seu meio de transporte, uma motocicleta. Sonha se tornar fotojornalista no Rio de Janeiro, mas sobrevive fazendo bico como entregador de pizza.

Madona e Elvis, embora te­­nham identidades sexuais diversas daquelas atestadas por suas certidões de nascimento, acabam “colidindo” em plena Copacabana graças a uma travessura do acaso. Minutos antes de o seu amante, o abjeto traficante João Tripé (Sérgio Bezerra) lhe roubar todo o dinheiro que vem guardando há anos para a realização de um grande show, o transformista havia pedido uma pizza. Elvis chega, como não quer nada mas com pinta de príncipe encantado, e começa a mudar a sua vida.

Não falta a Laffitte ousadia, senão petulância, ao pedir ao espectador que acredite que um homossexual que se apresenta ao mundo como mulher se apaixone e viva uma grande história de amor com uma garota que gostaria de ser vista como rapaz. Isso mesmo: leia de novo e aceite os fatos! A boa notícia é que também sobra ao diretor e roteirista talento para, ao recorrer a uma modalidade consagrada de cinema, a comédia romântica, manipular as convenções, lugares comuns e clichês, ao ponto de tornar o potencialmente impensável verossímil.

E como ele consegue fazer isso? Os personagens centrais são bem construídos, nada superficiais, graças a um roteiro que tem o mérito de humanizá-los. A trama, propositalmente, é linear, previsível e, por isso mesmo, consegue envolver o espectador, apesar do estranhamento causado pelas particularidades dos protagonistas. Meio chanchada, meio love story, Elvis & Madona defende bem a ideia de que toda maneira de amor pode valer a pena. E cativa.

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