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Por que Curitiba rejeita o cinema brasileiro?
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Xingu, épico de Cao Hamburguer sobre os irmãos Villas-Boas, é um dos fracassos do cinema nacional neste ano.

Uma suspeita: os curitibanos não curtem muito o cinema brasileiro. Há alguns indícios fortes que sustentam essa hipótese. A partir de dados coletados entre 1.º de janeiro e 31 de setembro de 2011 em dez cidades brasileiras (confira quadro nesta página), o site Filme B, o mais completo portal sobre o mercado cinematográfico do país, constatou que as produções nacionais respondem por apenas 8,9% da audiência curitibana, a menor média entre as praças analisadas, e nenhum dos longas-metragens brasileiros ficou entre os dez mais vistos na capital paranaense. O filme brasileiro mais bem colocado, Cilada.com, ficou em 19.º lugar, com 57.373 pagantes. O campeão de bilheteria em Curitiba foi Os Smurfs, 197.524 ingressos vendidos, batendo Rio, o mais visto no país até então.

Em 2012, a situação na melhorou:grandes lançamentos, como Xingu, de Cao Hamburguer, e Paraísos Artificiais, também naufragaram retumbantemente no nosso circuito.

Assim como Curitiba, Porto Alegre, onde o market share correspondente à produção nacional foi de 10,3%, também não teve nenhum longa brasileiro entre as dez maiores bilheterias no período. O diretor do Filme B, Paulo Sérgio Almeida, não acredita que haja exatamente um preconceito contra o cinema nacional no sul do Brasil, mas é fato que as produções feitas no país têm um desempenho pior na região. Em 2011, filmes brasileiros responderam por 14% do mercado, atingindo médias ainda maiores em cidades como Recife (19,5%), Salvador (19%), Rio de Janeiro (17,3%), Belo Horizonte (15,6) e Manaus (14,5%).

Embora não exista uma razão que explique o comportamento do público em Curitiba ou na capital gaúcha, há algumas hipóteses. A primeira delas, diz Almeida, está relacionada ao perfil dos filmes brasileiros mais vistos neste ano: De Pernas pro Ar, Cilada.com, Bruna Surfistinha, Assalto ao Banco Central e Qualquer Gato Vira-lata. Todos são produções que contam com copatrocínio, utilizado no lançamento e na divulgação, da Globo Filmes, e têm forte sotaque carioca, com o qual o público, tanto em Curitiba quanto em Porto Alegre, teria menor idetificação, afirma Almeida. “Sem falar que De Pernas pro Ar e Cilada.com são filmes muito escrachados, com um tipo de humor que eu acho que não cola aí no Sul.”

Para se ter uma ideia, Cilada.com, apesar de ser o brasileiro mais assistido do ano em Curitiba, teve, na capital paranaense, o menor público entre todas as cidades pesquisadas.

Mas há outros motivos que dificultam as carreiras dos longas brasileiros no Sul. Há, conta o diretor da Filme B, um consenso entre produtores e distribuidores de que Curitiba e Porto Alegre não são boas praças para o cinema nacional. Portanto, os filmes costumam demorar mais para serem lançados e não há tanto investimento na divulgação das produções. “Aqui no Rio, em São Paulo, e mesmo no Nordeste, os diretores e o elenco vão às universidade, às escolas, fazem um corpo a corpo com a comunidade. No Rio Grande do Sul, o Festival de Gramado já teve esse papel, mas não tem mais.”

Assim, cria-se uma espécie de círculo vicioso. Como o público é menor, investe-se menos no lançamento. E, se há uma divulgação mais tímida, a bilheteria é menor. “Quem teria de mudar esse quadro são os filmes, os produtores e distribuidores. Há mercado, mas é preciso investimento na formação de plateia”, afirma Almeida.

Filmes para a família

O mercado curitibano de cinema é um tanto paradoxal. A cidade teve em 2011 a quinta maior renda, entre as grandes cidades brasileiras, atrás de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília. E conta com um circuito bastante robusto: tem cerca de 15 mil assentos distribuídos em 70 salas de exibição espalhadas pela cidade.

Por outro lado, esse público de quase 4,3 milhões acumulados até a penúltima semana de dezembro, segundo dados da Filme B, parece concentrar seu interesse, primordialmente, em blockbusters, em filmes voltados para a família, crianças e adolescentes. “Detectamos em nossas pesquisas um desinteresse acentuado por filmes de arte em Curitiba, por exemplo.”

Com o fechamento, ao longo dos últimos anos, de cinemas que focavam sua programação nesse tipo de cinema, como o Groff, o Ritz e o Luz, todas salas administradas pela Fundação Cultural de Curitiba, o hábito de assistir a títulos mais autorais parece ter desaparecido em certa medida. “Essa é uma cultura que Curitiba tinha e parece ter se perdido”, diz Almeida.

Além da Cinemateca, apenas o Espaço Itaú de Cinema e o Cineplex Batel abrem algum espaço para essas produções, mas essas salas não chegam a corresponder a 10% do mercado exibidor local, já que nem todas só exibem filmes mais alternativos.

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