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Prometheus é uma espécie de antítese de Os Vingadores
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Divulgação/Warner
Michael Fassbender é o androide David: melancólico como Wall-E.

O preâmbulo de Prometheus, novo filme do diretor britânico Ridley Scott, é enigmático para quem ainda não viu o restante do filme: uma criatura com características físicas semelhantes às dos humanos, mas com altura e musculatura avantajadas, e uma pele que o faz parecer uma estátua de mármore, ingere um líquido escuro à beira de uma gigantesca cachoeira. O efeito é imediato. A sequência, rodada em deslumbrante cenário natural na Islândia, sugere que esse ser humanoide sofre mutações genéticas instantâneas que terminam por, aparentemente, destrui-lo.

A trama de Prometheus antecede a de Alien — O Oitavo Passageiro (1979), longa fundador de uma série de quatro filmes, todos muito interessantes, cada um realizado por um cineasta diferente: Ridley Scott, James Cameron (Aliens), David Fincher (Alien 3) e Jean-Pierre Jeunet (Alien: A Ressurreição). A conexão mais forte, no entanto, é mesmo com o longa-metragem original, assinado por Scott, que realizaria outro clássico do gênero, Blade Runner — O Caçador de Androides (1982).

Prometheus, que entra em cartaz na próxima sexta-feira, mas já pode ser visto neste fim de semana em sessões de pré-estreia, pode ser encarado como uma prequel. O filme se torna mais interessante para quem tiver vivos na memória detalhes da trama de Alien — O Oitavo Passageiro, mas seu roteiro foi pensado para que o filme se sustente sozinho, podendo agradar a novas gerações. E aí reside um problema: talvez seja soturno, instrospectivo e até filosófico demais para um público que prefere entretenimento de digestão mais imediata, como o fenômeno de bilheteria Os Vingadores, feito sob encomenda para o paladar “adultescente” que tem pautado a indústrial cultural em tempos recentes.

O título de Prometheus se refere a uma nave espacial que se desloca em direção a um planeta distante, em uma rota que tem como referência mapas pré-históricos recém-descobertos. Neles, há a indicação de um local onde a raça humana teria sido concebida, o que pode lançar por terra, por exemplo, toda a Teoria Evolucionista de Charles Darwin e pelo menos problematizar a do Creacionisamo, defendida por setores mais conservadores do Cristianismo, por exemplo.

Quem lidera o grupo de cientistas que empreendem essa cruzada espacial é a corajosa Elizabeth (Noomi Rapace, da versão sueca de O Homem Que Não Amava as Mulheres). Ela está a bordo por razões muito profundas: deseja se ver frente a frente com o Criador, seja lá quem ou o quê ele seja. E acredita que, nesse planeta, encontrará seres superiores, que ela chama de “diretores” (ou “engenheiros”, na tradução em português), responsáveis pela criação da Terra e da humanidade. Pode estar certa, ou muito errada.

A personagem, obstinada e cuja linguagem corporal por vezes flerta com o masculino, tem conexão direta com Ellen Ripley, protagonista da quadrilogia Alien, importalizada pela atriz Sigourney Weaver.

Os demais integrantes da tripulação participam da missão por razões um tanto distintas das de Elizabeth. O namorado dela, vivido por Logan Marshall-Green, é destituído de fé, a não ser pela Arqueologia. Chalize Theron, já em cartaz como a rainha má de Branca de Neve e o Caçador, interpreta a representante da corporação que financia a missão — suas reais intenções são no mínimo ambíguas. Assim como as de seu patrão, Peter Weyland (Guy Pearce), supostamente já falecido, que teria optado bancar a expedição em nome da ciência.

Além de Elizabeth, o personagem mais interessante do filme, contudo, é mesmo o androide David (o surpreendente Michael Fassbender, de Shame), que, como o robozinho de Wall-E, busca referências de humanidade assistindo a filmes antigos: ele se espelha ao Peter O’Toole de Lawrence da Arábia, de quem copia os cabelos muito loiros.
Como se vê, Prometheus é um filme cheio de camadas a serem desvendadas. Só isso já é um bom motivo para conferi-lo.

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