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Poucos concordariam que o poder público utilizasse o dinheiro dos contribuintes – que deveria ser investido em educação, saúde e saneamento básico – para bancar a construção de restaurantes, casas de show privadas ou shoppings. São empreendimentos particulares, que buscam lucro. Assim funciona o capitalismo. Se fosse diferente não seria capitalismo, seria comunismo ou outra forma de organizar a sociedade.

Da mesma forma, não justifica tirar recursos de áreas de primeira necessidade – o país não tem ensino integral, creches suficientes, hospitais, escolas públicas de qualidade – para construir estádios particulares e outras obras privadas só para atrair uma Copa do Mundo.

E nesse quesito, de gastos públicos com um Mundial de Futebol, o Brasil já é um exemplo, e um mau exemplo. Os números mostram claramente os exageros para um país pobre e atolado em problemas sociais.

A Prefeitura de Curitiba revelou ter gastado R$ 219,7 milhões com a Arena da Baixada e obras diretamente relacionadas ao estádio do Atlético. Com todas as obras ligadas à competição, que só terá jogos desinteressantes na capital paranaense, o município torrou R$ 572 milhões. Isso sem contar os R$ 8,5 milhões de despesas que eram de responsabilidade da Fifa e a prefeitura diz ter assumido.

Quando somados outros recursos do governo do estado e da União, que evitam vir a público fazer uma prestação de contas, os números ampliam o absurdo. E há ainda falta de clareza nos gastos, conforme um relatório de indicadores de transparência apresentado pelo Instituto Ethos.

Dos 12 municípios que sediarão a Copa, nove receberam mais repasses federais para seus estádios do que recursos para a educação no período entre 2010 e setembro de 2013. O levantamento é da Agência Pública a partir de dados da Controladoria-Geral da União (CGU). E Curitiba está entre essas cidades.

A realidade é que o Mundial será caro e bancado quase exclusivamente pelo contribuinte. Dos R$ 8 bilhões investidos em estádios, apenas R$ 133,2 milhões não envolvem os cofres públicos.
Uma matéria publicada no jornal espanhol El Pais destaca que o Brasil chegará à Copa de 2014 como campeão de gastos em estádios. A matéria informa que no mundial da Alemanha (2006) foram gastos R$ 3,6 bilhões de reais para o mesmo número de estádios. Na África do Sul (2010) o valor aproximado foi de R$ 3,27 bilhões para 10 estádios.

Quando começou-se a falar em gastos com a competição no Brasil, o governo federal estimava em pouco mais de R$ 20 bilhões. Hoje beira os R$ 30 bilhões. E os cálculos mais realistas preveem um teto de R$ 35 bilhões. Desse total, pouco mais de 10% virá da iniciativa privada.

Os absurdos não param aí. O plano de segurança da Copa vai custar R$ 1,17 bilhão ao governo federal. Enquanto isso, mais e mais brasileiros morrem todos os dias não só nas cidades-sedes da Copa vítimas da falta de segurança. A cada minuto residências e estabelecimentos são assaltados e carros são roubados. As pessoas de baixa renda sucumbem por falta de atendimento médico-hospitalar.

Depois do Mundial deveria haver uma apuração rigorosa, de poderes independentes do Executivo, de todos os descaminhos com o Mundial (com a palavra o Ministério Público, em todas as suas instâncias). E, se confirmadas irregularidades, os governantes e outros responsáveis deveriam ser punidos com todo o rigor da lei.

Se metade do que está sendo gasto com a Copa fosse para educação, saúde, moradia, estímulo à produção e exportação, tecnologia e outras áreas, o país certamente estaria em melhor situação.

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