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Guerra comercial entre Trump e China ameaça a economia global
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Política protecionista de presidente dos Estados Unidos e retaliação do governo chinês provocam retrocesso na abertura dos mercados mundiais

A campanha eleitoral de Donald Trump foi marcada pela defesa da construção de muros não só contra imigrantes ilegais. O presidente do Estados Unidos venceu nas urnas com uma proposta clara de proteger as empresas americanas. Em outras palavras, o republicano construiu sua vitória defendendo o protecionismo. E, ao que tudo indica, vai levar em frente sua plataforma, mesmo que isso contrarie a postura defendida pela Organização Mundial do Comércio (OMC) de abertura dos mercados mundiais e provoque um impacto negativo na economia mundial.

As mais recentes ofensivas de Trump e a retaliação do governo chinês causaram alvoroço em todos os continentes e desencadearam uma onda de instabilidade nos mercados mundiais. No dia 2 de março o líder republicano anunciou uma nova tarifa global de 25% para a importação de aço e de 10% para o alumínio comprado de vários países. Três semanas depois voltou à tona. Assinou um memorando para impor tarifas sobre US$ 50 bilhões em produtos de tecnologia importados da China por suposto roubo de propriedade intelectual.

Trump argumenta que as medidas são necessárias para reduzir o déficit comercial dos Estados Unidos com a China, que hoje beira meio trilhão de dólares. E não descarta novas medidas restritivas às importações.

“Desde 2008, com a crise financeiro mundial, começou a acontecer um recrudescimento do protecionismo. Aumentaram as barreiras não tarifárias, que são mais difíceis de perceber [questão de certificação, rotulagem, por exemplo]. Agora houve um recrudescimento.”

Renata Vargas Amaral, diretora de Comércio Internacional da Barral M Jorge Consultores.

A China reagiu. Um dia depois do anúncio de Trump o governo chinês declarou estar pronto para aplicar tarifas a importações norte-americanas no valor de US$ 3 bilhões. E não parou por aí.  Nesta quarta-feira (4), o governo chinês decidiu criar novas tarifas sobre produtos americanos, também de 25% e no valor de US$ 50 bilhões. Os produtos afetados pela medida chinesa incluem automóveis, soja, produtos químicos, derivados de milho e aeronáuticos.

A “guerra comercial” elevou o temor do erguimento de barreiras por vários países. Mesmo antes do acirramento da disputa entre Trump e o governo chinês, a Europa já havia entrado na briga contra o aumento de impostos. No dia 7 de março, Bruxelas anunciou que retaliará em até três meses se Washington cumprir a ameaça de impor tarifas para a importação de aço e alumínio.

Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais na FGV, em São Paulo, vê um grande risco de Trump ampliar as medidas protecionistas para outros setores da economia. “Trump foi eleito com essa retórica protecionista, tem muita gente nos Estados Unidos cobrando ele, é um risco grande de que isso seja apenas o começo”, alerta.

Para Stuenkel, no entanto, a grande pergunta é como os outros países vão responder. “Não há interesse entre outras potências, sobretudo a China, em adotar medidas protecionistas. Há uma compreensão clara de que isso poderia afetar a todos.”

Renata Vargas Amaral, diretora de Comércio Internacional da Barral M Jorge Consultores, avalia as iniciativas de Trump como um grande retrocesso na política global de abertura de mercados acordada pelos países no âmbito da OMC.

“Desde 2008, com a crise financeiro mundial, começou a acontecer um recrudescimento do protecionismo. Aumentaram as barreiras não tarifárias, que são mais difíceis de perceber [questão de certificação, rotulagem, por exemplo]. Agora houve um recrudescimento, com as medidas do Trump, a reação da China e a manifestação da União Europeia se manifestando sobre salvaguardas unilaterais”, observa.

Para a diretora, neste momento o mundo passa por uma expansão da política do ‘toma lá dá cá’. “As duas grandes guerras do século passado foram por razões econômicas, fundamentalmente. Não é por menos que foram criados o Banco Mundial, o FMI, o Gatt (Acordo Geral de Tarifas e Comércio), tudo após a Segunda Guerra Mundial. É lógico que preocupa uma regressão, ninguém ganha com isso. Ninguém sabe medir aonde isso vai chegar, quais efeitos colaterais essa guerra comercial vai ter”, diz, ao acrescentar que o cenário atual é preocupante.

“As medidas protecionistas a qualquer produto têm um impacto sistêmico, prejudica todo mundo. Hoje em dia a produção está toda interligada, um carro por exemplo, tem peças de mais de 20 países.”

Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais na FGV.

Todos perdem, dizem especialistas

Para quem acompanha o comércio internacional há uma sensação de que a ofensiva do presidente dos EUA, Donald Trump, vai trazer prejuízos para todos os países.

“As medidas protecionistas a qualquer produto têm um impacto sistêmico, prejudica todo mundo. Hoje em dia a produção está toda interligada, um carro por exemplo, tem peças de mais de 20 países”, explica Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais na FGV.

Renata Vargas Amaral, diretora de Comércio Internacional da Barral M Jorge Consultores, ressalta que os EUA é o país com empresas mais internacionalizadas do mundo, está completamente inserido em cadeias globais de valor. “Quem conhece a economia norte-americana sabe que foi uma estupidez do Trump. Não vai resolver o problema da falta de competitividade da indústria nacional norte-americana e vai aumentar os preços internos”, prevê.

A consultora lembra, no entanto, que Trump pode não parar por aí. “A técnica de negociação do Trump é essa. Ele é o mais agressivo possível para abrir espaço para negociação. Esse é o tom dele, sempre vai chegar batendo na mesa, agressivo, para abrir margem de negociação”, diz.

Brasil fica de fora

As tarifas de 10% e 25%, impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para as importações de alumínio e aço respectivamente, entraram em vigor no dia 23. Mas o presidente Donald Trump deixou seus parceiros comerciais do Nafta – Canadá e México– fora das medidas, assim como Brasil, Austrália, Coreia do Sul e Argentina, além de países da União Europeia (UE.

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