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JK,Brizola e João Goulart, o Jango, eram a via democrática e segura, mas houve o golpe e a democracia sucumbiu.
JK,Brizola e João Goulart, o Jango, eram a via democrática e segura, mas houve o golpe e a democracia sucumbiu.| Foto:
JK,Brizola e João Goulart, o Jango, eram a via democrática e segura, mas houve o golpe e a democracia sucumbiu.

JK,Brizola e João Goulart, o Jango, eram a via democrática e segura, mas houve o golpe e a democracia sucumbiu.

Os defensores do golpe de 1964 ainda hoje vivem a alardear que tudo foi feito para evitar o comunismo no Brasil. E a ladainha ainda recebe apoio de uma legião de brasileiros. A realidade dos fatos é que o regime de exceção mergulhou o país nas trevas. A nação regrediu décadas e décadas em civilidade.

Em 1989, quando o golpe efetivamente terminou, com a eleição direta para presidente da República, a taxa de analfabetismo beirava os 20% (19,7%), o PIB per capita era ridículo, de US$ 2.550, havia mais de 60 milhões de miseráveis no país, o salário mínimo era pouco superior a U$ 60. Os números são da ONU, do IBGE, do Ipea. O IDH, que mede o desenvolvimento humano, estava em 0,59 – hoje chega a 0,73, numa escala que quanto mais próxima de 1, melhor.

Se os dados forem de 1985, quando os militares perderam a eleição indireta no Congresso para Tancredo Neves, a situação não era melhor. O IDH não passava de 0,54, o número de miseráveis chegava a 60 milhões, o salário mínimo era de US$ 86 e a taxa de analfabetismo simbolizada uma de nossas tragédias sociais, de 26%.

O atraso que vivemos hoje tem como causa, em grande parte, esse passado de escuridão, de falta de democracia e exclusão de uma parcela significativa da população.

A história poderia ter sido outra. Estávamos a praticamente um ano e meio das eleições presidenciais, que seriam em 3 de outubro de 1965, de acordo com as regras democráticas.

Candidatos que se apresentavam à época com chances de vencer representavam uma via melhor para o Brasil que a dos militares. Juscelino Kubitscheck tinha um plano, “JK-65, a vez da agricultura”, e Leonel Brizola trazia no currículo a experiência de ter sido prefeito de Porto Alegre e governador do Rio Grande do Sul. O perigo morava com Carlos Lacerda, o governador do então estado da Guanabara, que, por várias vezes, se uniu a golpistas. Não é por menos que ele foi um dos líderes civis do golpe de 64.

E não se pode deixar de avaliar a hipótese da reeleição de João Goulart. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, hoje ferrenho opositor do PT e do governo petista, recentemente fez previsão de que Goulart, o Jango, se reelegeria em 1965.

Pesquisa do Ibope na época, levantada pelo historiador e professor da Unicamp Luiz Antônio Dias, mostra que, em junho de 1963, Jango era aprovado por 66% da população de São Paulo, desempenho superior ao do governador Adhemar de Barros (59%) e do prefeito Prestes Maia (38%) – o levantamento foi feito a pedido da Fecomércio, a poderosa Federação do Comércio. Mostra ainda que em março de 1964, o mês do golpe, caso fosse candidato no ano seguinte, Goulart teria mais da metade das intenções de voto na maioria das capitais pesquisadas. Apenas em Fortaleza e Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek tinha percentuais maiores.

As reformas que se buscava na época representavam um avanço na organização social e econômica do Brasil. Os países desenvolvidos do planeta haviam feito reformas semelhantes há muitos anos. O que se pretendia era uma reforma agrária, uma reforma tributária, uma reforma urbana, educacional e uma reforma eleitoral ampla, pelo voto do analfabeto, pela elegibilidade de todos os brasileiros. Resumindo, a nação queria aperfeiçoar sua democracia, mas tudo foi esmagado.

Todos os países que romperam com as regras democráticas se deram mal. Imagine se o Brasil tivesse garantido a democracia e feito todas as reformas necessárias ainda nos anos 60? Hoje poderíamos ter outro país, melhor e digno de se viver.

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