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Diário de bordo: como produzir um curta-metragem na marra (parte 2)
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Seguimos aqui no blog falando sobre a intrépida jornada para produzir um curta-metragem sem apoio profissional — seja em termos de equipamentos quanto em “mão de obra” qualificada. No post anterior, falamos especificamente sobre a escrita do roteiro . Nesta segunda etapa do “diário de bordo”, vamos comentar quais soluções pretendemos adotar para trazer um visual “diferenciado” para o curta.

2. CONCEPÇÃO VISUAL

Para lembrar: o curta-metragem que estou produzindo em parceria com o Ronan Turnes tem o nome provisório de O Vulto, e será uma espécie de thriller psicológico que conta com somente um protagonista. Não há diálogos no curta — a previsão é que ele tenha cerca de cinco minutos de duração.

curta visualDesde o primeiro momento, junto da escrita do roteiro, começamos a pensar como filmaríamos o curta-metragem. Nem eu nem o Ronan temos filmadoras ou câmeras digitais de qualidade. Chegamos a pensar em filmar com um iPad. Uma outra opção seria até o celular. Por fim, o Ronan teve um insight: fotografar as cenas com a câmera que ele possui e depois, com o auxílio de um programa para computador, reunir as fotos para dar a ilusão de movimento ininterrupto. A câmera que usaremos será uma Nikon D300. Esse modelo DSLR (sigla que identifica todas as câmeras digitais que trocam lentes) não produz vídeos, só fotos mesmo. Aí haverá um trabalho extra de edição depois.

Pedi para que o Ronan explicasse, com suas próprias palavras, como se dará na prática a opção por esse recurso visual:

Primeiramente abro um parêntese para explicar um conceito fundamental do cinema: filmes nada mais são que fotografias em movimentos. Para ser mais exato, 24 fotografias — ou frames — exibidas por segundo criam uma ilusão de ótica onde as imagens capturadas parecem se mover à uma velocidade semelhante ao que capturamos com nossos próprios olhos. Essa ilusão podia ser vista desde o início do século 19, quando invenções como o thaumatrópio e o fenacistoscópio ganharam vida. Graças a elas, cerca de 60 anos depois, nasceu o cinematógrafo, invenção dos famosos irmãos Lumière que deu vida ao cinema.

É por isso que hoje em dia temos o diretor de fotografia – profissional responsável pela captura da cena conforme a visão do diretor, cuidando da iluminação, ângulos e lentes usadas em cena -, e muitos cineastas usam o termo “fotografar” e não “filmar” uma cena.

Por limitações técnicas (e financeiras), quando Rafael me explicou a missão de produzir um curta-metragem, naturalmente sugeri que usássemos o fundamento básico descrito no parágrafo anterior para fazer o filme. Decidimos então que usaríamos uma câmera fotográfica digital que nos permitisse fazer várias fotos em um curto período de tempo (cerca de 9 fotos por segundo) e, na edição, criaríamos a ilusão de movimento ao reproduzirmos as fotos em velocidade acelerada.

Essa opção é a mais interessante para o projeto por duas razões principais: as fotografias aceleradas criarão um efeito estético que é pertinente à ideia do roteiro a ser filmado e também pela facilidade de manipulação e criação de efeitos especiais que podem vir a ser incluídos no curta.

Na prática, o resultado dessa alternativa que o Ronan explicou fica assim (o vídeo foi feito por ele mesmo, como um teste pro curta):

Uma das nossas referências para este trabalho, tanto em termos de visual quanto conteúdo, é o curta-metragem Vinil Verde, dirigido pelo Kleber Mendonça Filho, responsável pelo elogiadíssimo O Som Ao Redor (2012). Confiram o curta completo abaixo:

Observem que no curta do Kleber não há diálogos — apenas uma narração em off — e a filmagem também foi feita com fotografias sobrepostas que dão a ilusão de movimento. Só que no Vinil Verde essa “filmagem” das cenas é muito mais fragmentada, sendo que o espectador percebe claramente que se tratam de fotografias. Já no caso do nosso curta, a ilusão de uma filmagem “tradicional” é bem maior. Essa acaba se tornando, então, uma opção viável para quem tem uma câmera DSLR que não filma, mas tira boas fotos.

Uma outra referência visual para o nosso curta-metragem é o filme Pi (1998), de Darren Aronofski — inclusive já escrevi sobre o filme aqui no blog. A estreia de Aronofski em longa-metragens usa e abusa de um preto e branco de alto contraste, com uma fotografia meio granulada até. Isso contribui para o clima bem típico que cerca o filme, de opressão, estranhamento, claustrofobia — justamente o clima que, em parte, queremos trazer para o curta-metragem. Confira um trecho do Pi abaixo:

A intenção de apostar em um visual soturno e estilizado para o nosso curta-metragem, escancarando essa fotografia em preto e branco, não deixa de ser uma forma de compensarmos outras deficiências que teremos no processo. Como comentei no post anterior, não teremos a ajuda de atores profissionais, tampouco teremos equipamentos específicos para fazer captação de som ou produzir efeitos especiais. Assim, pelo menos tentaremos fazer com que o espectador seja impactado visualmente pela obra. Se a trama em si do curta vai agradar ou fazer sentido, é outra história. Até porque o roteiro ainda não está finalizado.

Por hoje é isso. No próximo post, falaremos sobre DESIGN DE PRODUÇÃO!

Você já filmou algum vídeo usando o mesmo sistema detalhado aqui? Que outras opções você acha viáveis para quem não tem uma filmadora profissional? Tem dúvidas de como usar seu celular, tablet ou câmera DSLR para filmar? Deixe seu depoimento aqui no blog!

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