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Demóstenes Torres usou a tribuna do Senado quase diariamente para se defender nas duas últimas semanas. Na maioria das vezes falou para um plenário vazio. Ontem, na oportunidade derradeira de defesa, escolheu palavras pesadas para tentar sensibilizar os 80 colegas que compareceram à sessão – o único ausente foi Clóvis Fecury (DEM-MA).

De cara, disse que as denúncias contra ele eram como acusar uma mulher de “vagabunda”. “Como ela se defende disso?” Depois, disse que foi perseguido como um “cão sarnento”. Os termos resumem bem os bastidores do dia de sua cassação.

Demóstenes foi o primeiro a chegar ao plenário, sete minutos antes do horário previsto para o início da sessão, às 10 horas. Estava acompanhado do advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que sentou-se em uma cadeira improvisada ao lado do cliente. Ao redor deles, um clarão de poltronas vazias.

Os demais senadores foram chegando aos poucos. Raros cumprimentaram o acusado. Entre eles, Renan Calheiros (PMDB-AL), que escapou de dois processos de cassação em 2007, suspeito de ter as contas pagas por um lobista. Na época, Demóstenes disse abertamente que havia votado pela cassação de Renan.

O isolamento de Demóstenes tinha um sentido “midiático”. Como a sessão foi aberta à imprensa, cada expressão do senador goiano foi fartamente fotografada e filmada, já que o espaço destinado aos jornalistas fica a menos de dez metros do assento dele. A marcação foi cerrada até quando o acusado deixou a sessão para ir ao banheiro.

Pelo menos 15 jornalistas, parte deles de celular com câmera em punho, partiram atrás dele. Demóstenes conseguiu aliviar-se graças a um segurança que ficou plantado na porta do banheiro. Na saída, cumprimentou parte dos repórteres. “Será que ele não lavou a mão?”, disse um deles (famoso, por sinal).

Enquanto isso os discursos se sucediam para uma plateia angustiada. Um dia antes, o presidente José Sarney havia alertado os senadores para serem sucintos para que o julgamento não extrapolasse três horas – o que realmente aconteceu.

Todos tinham o direito de falar por dez minutos. Quinze dos 81 se inscreveram, mas dez acabaram desistindo. Nenhum dos dez oradores finais falou em defesa do Demóstenes, além dele mesmo e de Kakay.
O número não faria muita diferença, já que poucos se dedicaram a prestar atenção no que os colegas diziam – preferiam o papo em rodinhas bem no meio do plenário. O único que conseguiu atrair o foco e silenciar o ambiente foi Demóstenes. E após a proclamação do resultado, foi ele quem não quis companhia.

Em passos rápidos, levou menos de um minuto para cair fora. Não era mais um cão sarnento. Nem um senador da República.

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