Sergio Moro está cansado da Lava Jato. Normal. Qualquer pessoa que estivesse na mesma função dele, teria ficado grisalho (ou careca) com seis meses de trabalho – e lá se vão três anos e meio de operação.
Moro (e o brasileiro médio contra a corrupção) tem uma rotina de Sísifo, aquele personagem da mitologia grega que todo dia empurra uma pedra montanha acima e, toda vez que quase alcança o topo, a pedra rola para baixo. O absurdo não apenas cansa, como enlouquece.
Não, Moro não está maluco. Mas, assim como o restante do país, parece cansado de teorias simplistas (e malucas). No franco bate-papo com jornalistas em São Paulo, na segunda-feira (3), soltou alguns recados para alertar gente que acha que um desfecho da luta contra a corrupção vai cair do céu.
O principal deles foi a declaração de que a ditadura militar foi um grande erro. Não há tergiversação nas palavras dele. Ditadura não é tratada como “intervenção”. Não há tentativa de torturar a Constituição para ver se acha alguma constitucionalidade em um golpe das Forças Armadas.
O que, por outro lado, não impede o reconhecimento de que outros problemas vieram com a redemocratização, a partir de 1985. “Houve abuso do poder público para benefício privado, e a democracia exige a regra da imposição da lei.”
Outro recado de Moro: “quem fizer pesquisa eleitoral que inclua meu nome perderá seu tempo”. Indiretamente, acaba não sendo um recado para os políticos, nem para os institutos de pesquisa, mas para quem acha que ele, em pessoa, pode salvar o país como presidente da República.
Por último, um choque de realidade: julgar traficantes dá “menos trabalho” que julgar políticos. Mais um recado para quem pensa que a glamourização da Lava Jato, por si, muda alguma coisa. É preciso ser mais sensato para admitir que a corrupção não acaba de uma hora para outra.
Todo o resto é perpetuar a rotina de Sísifo.
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