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Crédito: Jonathan Campos
Crédito: Jonathan Campos| Foto:

Sérgio Moraes/Reuters

Eduardo Campos gostava de dizer que seria o primeiro presidente pós-1964. A colocação casa com a constatação de que o Brasil carece de líderes jovens. Há tempos o país sente a falta de novidade, mas é uma lástima que estejamos sempre à espera de um messias para nos salvar da política que nós mesmos construímos.

Campos teve uma biografia de cinema. Nasceu em 1965, mesmo ano em que o avô, Miguel Arraes, foi para um exílio de 14 anos na Argélia. De volta ao Brasil, Arraes lançou o neto para a política e o resto da história de final trágico todos conhecem.

Campos podia sim ser considerado o novo, só que forjado pelos velhos conceitos do caciquismo regional brasileiro. Não se trata de um exemplo único: toda “renovação” presenciada nos últimas décadas segue o mesmo modelo. No Paraná, há pelo menos algum Richa, Dias ou Requião nas eleições estaduais desde 1978.

Trocando em miúdos, o fato é que os sobrenomes se sobrepõem aos partidos. É triste ver que, após o desastre que vitimou Campos, o PSB não tenha qualquer quadro para substituí-lo. E não dá para contar Marina Silva, que entrou na legenda apenas de passagem, até que a situação de sua Rede Sustentabilidade esteja regularizada.

É de uma bizarra tradição nacional votar no candidato e não no partido. O curioso é que, no papel, todo sistema político brasileiro é calcado nos partidos. O que existe na hora do voto é um me-engana-que-eu-gosto – o candidato esconde a sua legenda e o eleitor finge que não percebe (apesar de digitar na urna eletrônica o número do partido).

Daí saem pérolas do gênero: gosto do Lula, mas não do PT; Requião está há mais de três décadas no PMDB, mas não tem nada a ver com Sarney e Renan; Aécio Neves é mais neto do Tancredo que tucano. O resultado é um processo de infantilização do debate. Cada político tenta aparecer como “pai” de determinada ação para ser identificado como alguém que “dá” algo à população.

Claro que não é uma questão de “dar”, mas de administrar algo que é público, ou seja, de todos. Esse círculo vicioso impede que o país tenha um desenvolvimento duradouro. E quando se fala em duradouro, se fala em décadas de constância – passamos por uma janela fantástica de oportunidades entre 2005 e 2010, com todas as conjunturas conspirando a favor, mas damos sinais de que podemos cair do trem a qualquer momento.
Semana passada, em uma conversa com o pós-doutor em Administração Pública e professor da PUCPR Denis Alcides Rezende ouvi um raciocínio que ajuda a matar essa charada. A profundidade do problema está no fato de o poder público no Brasil simplesmente abrir mão do planejamento estratégico de longo prazo e viver às custas de programas de governo de quatro anos. Depois do quadriênio, assume uma outra gestão que promove um ambiente de terra arrasada e começa tudo de novo.

Essa descontinuidade existe para deixar tudo como está. Na base do jeitinho, o uso da política para interesses pessoais desta ou daquela família e não para uma discussão de projetos claros de futuro leva a um interminável ciclo de voos de galinha. O país do futuro não consegue se livrar dos tempos das capitanias hereditárias.

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