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O prefeito Luciano Ducci (PSB) terá de fazer uma campanha para reeleição atípica neste ano. Como não tem vice (ele assumiu após a candidatura de Beto Richa a governador, em 2010), não poderá se licenciar do cargo. Pedir votos, só fora do expediente ou no horário eleitoral.

É um pequeno ônus perto do bônus de ter a máquina administrativa na mão. E não se trata de uma estrutura qualquer – Curitiba tem um invejável orçamento que supera os R$ 5 bilhões ao ano e um calendário de obras grandiosas cuja conclusão curiosamente desemboca nos próximos meses.

Além disso, há o combustível extra do apoio irrestrito do governo do estado.
Apesar disso, o fato de permanecer amarrado ao trabalho de gabinete enquanto a campanha pega fogo nas ruas pesou na escolha de Rubens Bueno (PPS) como vice. A ideia é que o deputado federal percorra a cidade de dia, enquanto Ducci faz o contraturno. O problema é que Bueno também afirmou que não vai pedir licença da Câmara.

Na prática, o segundo semestre de anos com disputas eleitorais costuma ser um marasmo no Congresso Nacional. Há apenas votações esparsas, enquanto candidatos e não candidatos dedicam-se às suas “bases”. Mas nenhum parlamentar deixa de receber o salário no fim do mês.

A situação gera um subgênero do financiamento público de campanha. Você paga o congressista para elaborar leis e fiscalizar o governo, mas ele está preocupado em ganhar uma nova eleição, que não tem qualquer ligação com o Parlamento. Justiça seja feita, não foi Bueno quem inventou o costume.

Principal rival de Ducci, Gustavo Fruet (PDT) também não se licenciou do mandato de deputado federal em 2010, quando concorreu ao Senado. Outro nome forte no páreo curitibano, Ratinho Júnior (PSC) até cogitou afastar-se da Câmara dos Deputados a partir deste mês, mas ainda não formalizou a decisão.

Quanto ao uso da máquina para fazer campanha, Lula talvez tenha sido o maior exemplo de como fazer isso na cara-de-pau sem se dar mal. Entre 2008 e 2010, toda e qualquer inauguração serviu de palanque para promover a pouco carismática ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. O sucesso de Lula fez escola.

Em suas defesas, políticos vão sempre dizer que é impossível dissociar o exercício do mandato da prática política. Parlamentares também vão alegar que distanciar-se do cargo é uma traição aos seus eleitores. São meias-verdades.

Em primeiro lugar, porque também é perfeitamente possível interpretar como traição eleger-se para um cargo e logo depois candidatar-se a outro. Os eleitores de Campo Mourão que votaram em Bueno para deputado federal, por exemplo, não ganham absolutamente nada caso ele seja eleito vice-prefeito da capital. Está aí mais uma deturpação do sistema, que só poderia ser resolvida via reforma política (e como a reforma é um conto da carochinha, melhor esperar sentado).

Cobrar que os eleitos cumpram as atribuições para as quais foram escolhidos deveria ser uma tarefa básica dos eleitores. Pode parecer chato, mas é só um pequeno exercício de reflexão. Sem falso moralismo, fazer política não é o problema – o errado é fazer campanha eleitoral o tempo inteiro.

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