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Inri Cristo “causou” ontem em Brasília ao visitar o STF e pedir “justiça divina” no julgamento do mensalão. Talvez nem todo mundo lembre, mas antes de viver no Distrito Federal, Inri morava em Curitiba. Abaixo segue matéria que fiz sobre a nova morada dele, em setembro de 2007:

Uma chácara com piscina e 20 mil metros quadrados, a 35 quilômetros do Congresso Nacional, é a nova sede do reino de deus na Terra. Quem garante são os cerca de 20 moradores do lugar. Só que “deus”, na versão deles, é mais conhecido como pai de Inri Cristo, que há três décadas afirma ser Jesus reencarnado.

Inri e seus seguidores completam neste mês um ano no Distrito Federal, de onde pretendem não sair mais. Entre 1982 e 2006, viveram no Boqueirão, em Curitiba. A capital paranaense foi a primeira sede da Suprema Ordem Universal da Santíssima Trindade (Soust), organização religiosa comandada pelo “profeta”.

A mudança tem explicação. “Brasília é a Nova Jerusalém”, diz Inri. É do Planalto Central que ele pretende começar a sua maior e estranha empreitada: a realização de um plebiscito para que os brasileiros decidam se querem ouvi-lo ou não. “Se o resultado for negativo, simplesmente aceito e não falo.”

Apesar de vestir-se teoricamente como o Jesus de 2 mil anos atrás e falar enrolado, Inri não é tão estranho para os níveis de esoterismo de Brasília. Além de políticos e escândalos, a capital federal coleciona cerca de 2 mil grupos religiosos, digamos, pouco convencionais. A 100 metros da Soust, por exemplo, fica o Centro de Cultura Cósmica Paz e Amor, Suprema Luz.

Aos 59 anos, Inri admite que a mudança lhe caiu bem. Está mais calmo, faz piadas, brinca com os seguidores. Bem longe de ser o sujeito expulso da Inglaterra e que mobilizou 2 mil pessoas para a invasão da catedral de Belém do Pará, há 25 anos, acabando no xadrez. “Descobri que tenho o direito de ter humor, bom humor”, afirma.

O “messias” chama de “período de reprovação” o tempo que viveu em Curitiba. O nome deve-se aos maus bocados que passou tentando provar que era Jesus. Apesar disso, afirma que deixou bons amigos e, só por isso, mantém um espaço para encontros esotéricos na Avenida Affonso Camargo, no Jardim Botânico.

O antigo reino de deus na terra, no Boqueirão, foi vendido para a aquisição da nova sede da Soust, localizada no Núcleo Rural Casa Grande, na cidade-satélite do Gama. Imóveis similares na região são avaliados entre R$ 180 mil e R$ 300 mil. Os discípulos, porém, não comentam os valores, assim como o número de pessoas que moram na chácara. De onde vem o dinheiro? “Doações, mas não dízimo”, responde Inri.

O espaço tem piscina – utilizada, segundo os fiéis, para batismos – e algumas plantações prejudicadas pela aridez do cerrado. Há uma casa central com dormitórios e uma construção que abriga o altar de onde Inri discursa. Nada de muito ostentador, tampouco de tão humilde como o ambiente da vida do Jesus que morreu na cruz.

Cada habitante tem uma tarefa e pertence a um estágio de provação diferente dentro da Soust. Os discípulos – na maioria mulheres – vestem túnicas azuis. Já os beneméritos, que ainda não estão totalmente iniciados na organização, podem usar roupas “civis”.

Entre os beneméritos está um estudante de jornalismo, que recebe os ensinamentos de Alibera França, 29 anos. Ela e outros 12 discípulos são de Curitiba. Alibera exerce a função de relações públicas da Soust, entidade que tem registro como pessoa jurídica.

A RP explica que ninguém é obrigado a permanecer no grupo, mas que as visitas aos parentes são raras. “Se está aqui é por opção, aqui é a sua família”, diz a mulher, uma bela morena de pele clara. Entre os seguidores, não há negros ou índios e, curiosamente, nenhuma mulher feia.

Além de afirmar ter recebido uma indicação supostamente divina para a mudança a Brasília, Inri cita explicações que considera lógicas. Em 1982, no estatuto de fundação da Soust, ele já havia incluído um artigo dizendo que a sede central teria de ser Brasília. É claro que, como “negócio”, estabelecer-se na capital mística e política do país também ajuda.

Tudo isso para garantir que o tal plebiscito saia do papel. Inri reforça que não deseja promover nada que possa levantar suspeita de fraude. Vai batalhar para que a consulta seja oficial, tanto quanto o referendo sobre a venda de armas, realizado em 2005. Para obter sucesso, terá de convencer o Congresso Nacional a dar andamento à proposta.

Como estratégia preliminar de convencimento, as discípulas de Inri vão à Câmara dos Deputados distribuir panfletos sobre a Soust. Pelo jeito, Inri descarta usar a força divina para se aproximar dos parlamentares. Já aprendeu que, em Brasília, o jeitinho brasileiro é o que mais conta.

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