O apresentador de televisão Luciano Huck voltou a escrever sobre política nesta quarta-feira (18), em artigo publicado pela Folha de S. Paulo. Na primeira imersão no assunto, em maio, abriu o texto com um “não, não sou candidato a presidente da República”. Desta vez, começa falando sobre o bem de “cada um expressar sua opinião”, perpassa pelo compromisso de participar da “renovação política no Brasil” (com a ressalva de uma atuação de “fora do dia a dia”) e desemboca numa interpretação de que “tanto faz” ser de esquerda, centro ou direita.
O que se extrai de tudo isso? 1) Huck está definitivamente com um pé na política; 2) A estratégia traçada até agora permite que ele coloque o outro pé quando (e se) quiser; 3) O apresentador do Caldeirão da Rede Globo é muito mais esperto que o reserva de apresentador do Aprendiz da Record, João Doria (aliás, o titular, Roberto Justus, também tem demonstrado interesse no cenário eleitoral).
O passo a passo da inserção de Huck na realpolitik é realmente novo. A ideia parte do princípio (correto) de que é necessário driblar os podres partidos e oferecer um caminho por fora do sistema. A solução de Huck é uma espécie de start-up política, o Agora, “em que profissionais respeitados e competentes das mais variadas áreas de atuação, todos com vocação pública e experiência, estão se mobilizando para criar uma onda positiva de engajamento, escuta popular e lançamento de candidaturas alternativas ao que temos por aí”, conforme está escrito no artigo desta quarta.
A iniciativa ataca de frente o problema notório da qualidade dos eleitos para o Congresso Nacional. Todos sabemos que essa é a gênese do câncer que se alastrou por Brasília, mas na hora da realidade das eleições nos deixamos seduzir pelas brigas entre bem e mal pela vaga de presidente da República e escolhemos terrivelmente mal nossos parlamentares. Teoricamente, a missão número 1 de Huck e de empresários é financiar e treinar gente disposta a romper com esse ciclo.
Não é exatamente uma novidade. Movimentos como o MBL e o Acredito! estão em uma linha similar. E com o mesmo dilema prático: terão de formar pactos com partidos na ativa para respeitar a legislação eleitoral e conseguir participar da disputa de 2018. No caso do Agora, de Huck, a barriga de aluguel mais provável é o PPS.
Ao se posicionar como um ator político “externo”, Huck mantém duas portas abertas. Uma de saída, caso se dê conta de que não tem estômago para o horror do jogo político (ou se dê conta de que é uma vidraça maior do que imaginava) e outra de entrada. Nesse caso, pode alegar que a candidatura foi algo inevitável.
Mas, afinal, por que Huck é mais esperto que Doria? Justamente por manter uma distância saudável que o eleitor menos deseja: um candidato que represente mais do mesmo. Doria virou político. Não pode desvirar mais.
Huck é uma celebridade que atualizou o status para o de alguém que quer ajudar o Brasil. E que pode virar político. Para a audiência, pega bem melhor.
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