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Crédito: Viola Jr./Agência Câmara

Crédito: Viola Jr./Agência Câmara

Quando a torcida brasileira queria provocar os argentinos durante a Copa, apelava para uma musiquinha com o lembrete de que “só” Pelé fez mil gols. Não é bem assim. Pelo menos outros dois ex-jogadores têm (ou pelo menos alegam ter) marcas similares – Romário e Túlio Maravilha.

Curiosamente, ambos embarcaram na política. Túlio ainda atuava pelo Vila Nova (GO), em 2008, quando foi o terceiro mais votado para a Câmara de Vereadores de Goiânia. Na incessante busca pelo milésimo gol, renunciou ao mandato em 2011 para jogar pelo Bonsucesso (RJ).

Romário foi mais longe tanto nos gramados quanto nas urnas. Em 2010, foi eleito deputado federal pelo PSB do Rio de Janeiro. Agora, desponta como favoritíssimo na disputa pelo Senado.

De acordo com pesquisa Datafolha* divulgada na quinta-feira, o ex-atacante largou com 29% das intenções de voto, contra 23% alcançados pelo ex-prefeito da capital fluminense César Maia (DEM). Há uma combinação de fatores que explicam o sucesso, mas um deles é fundamental: o Baixinho aplica na política o mesmo oportunismo que usava para balançar as redes.
Você com certeza já elogiou ou ouviu alguém elogiando a postura combativa dele contra os gastos públicos para a realização da Copa no Brasil. Passado o Mundial, aplaudiu a “ética romariana” ao criticar a cartolagem que controla a CBF. Aposto que você seria capaz de fazer os mesmíssimos comentários, com a diferença de que não tem mil gols no currículo.

A tática é tiro e queda. O que um torcedor quer? Gols. O que um eleitor quer? Alguém que fale exatamente o que ele deseja ouvir.

Como em tudo na vida, entretanto, há um enorme abismo entre falar e fazer. Romário é um exemplo bem acabado disso. Em 2008, quando o Brasil havia acabado de ser escolhido como sede da Copa, ele foi garoto-propaganda do primeiro elefante branco produzido com dinheiro público – o estádio Bezerrão, no Distrito Federal.

Na propaganda de televisão paga pelo governo local, o ex-atacante ajudou a vender a ideia de que a obra (que na época custou R$ 55,4 milhões) seria fundamental para que Brasília fosse escolhida sede da Copa. O tal espaço que serviria como centro de treinamentos não foi utilizado por nenhuma das 13 seleções que passaram em Brasília. E o Bezerrão entrou pela história pelo gasto, sem licitação, de R$ 9 milhões para a realização do jogo de inauguração, entre Brasil e Portugal, num escândalo que envolveu o ex-presidente do Barcelona Sandro Rossel e que ajudou a derrubar o ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira.

Aliás, um dos grandes “peixes” de Romário é o ex-presidente do Vasco e ex-deputado federal Eurico Miranda. Para quem não lembra, Eurico se notabilizou nos anos 1990 e 2000 como líder da “Bancada da Bola”. O grupo defendia com unhas e dentes no Congresso os interesses, veja da CBF.

Romário, claro, não é o único a agir dessa forma. O Brasil – e o Paraná – está cheio de candidatos-artilheiros. Prepare-se para ouvir político que adora jatinho público ou que acumula aposentadorias pagas com o seu dinheiro posando de guardião da moralidade. Esse pessoal quer muito mais que mil votos.

*Metodologia
O Datafolha ouviu 1.317 eleitores em 31 cidades do estado do Rio, 15 e 16 de julho. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%. A pesquisa foi encomendada pela TV Globo e pelo jornal Folha de S.Paulo e foi registrada no TSE com o número RJ-00009/2014.

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