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Nuno Mindelis traz a alma do blues para Curitiba
| Foto:
Marcos Anubis/Cwb Live
Nuno Mindelis e sua Gibson SG

O blues é, talvez, o estilo em que a alma do músico se expressa de forma mais direta. O show do bluesman Nuno Mindelis em Curitiba, no último sábado (4) no Teatro Bom Jesus, dentro do projeto “No improviso”, foi uma celebração da boa música.

O angolano Nuno tem uma simplicidade em seu blues muito parecida com a sua personalidade. Se expressando de forma tranquila e carismática, o músico conquistou o respeito da plateia sem esforço. É muito revigorante ver o teatro quase lotado para assistir artistas dessa qualidade e que conduzem a sua carreira sem os grandes mecanismos de divulgação que outros “músicos” menos talentosos possuem.

O guitarrista reconhece esse carinho que os fãs demonstram. “O curitibano tem um nível de exigência e de critério mais alto, de forma geral. É um pessoal que ouve, com atenção, gêneros que geralmente são nichos ou que ninguém mais está ouvindo, como clássico, jazz, blues e derivados”, explica.

Segundo ele, não é somente para o seu trabalho que Curitiba dedica essa atenção. “São pessoas, normalmente, mais informadas e, culturalmente, bastante evoluídas. Isso faz com que o local seja um celeiro bom para quem executa estilos que não possuem a mínima condição de disputar com gêneros ‘culturais’ que a gente vê por aí na grande mídia”, afirma.

O show teve início com “Funky Mama”, de Danny Gatton, seguida de “Te Ni Ne Ni Nu”, de Slim Harpo. O estilo de tocar que Nuno desenvolveu é um dos diferenciais da sua música. Ele não usa palheta, fato raro entre guitarristas. Um dos poucos músicos que fazem uso desse artifício é Mark Knopfler, do Dire Straits. Esse estilo de execução confere timbres e sonoridades muito específicas ao seu som. Sua banda, formada por Marcos Klis no baixo, Humberto Ziegler na bateria e Flávio Naves nos teclados, mantém a base para os solos e vocais de forma brilhante.

Em “Texas bound”, Nuno convidou algumas pessoas para assistirem ao show sentadas em três mesas que estavam colocadas no palco. De certa forma, o público foi levado para algum bar esfumaçado no delta do Mississipi do começo do século passado.

Na última música antes do bis, “I know what you want”, Nuno desceu do palco e passeou no meio da plateia. Essa relação mais próxima com os fãs é muito interessante, pois hoje, cada vez mais, os artistas são colocados em pedestais que não condizem com a realidade.

Para fechar o show, Nuno tocou “Tenho medo”, do álbum “Outros Nunos” e fez um medley de “Big boss lady” de John Lee Hooker, “You don’t have to go” de Otis Rush, “You got me runnin” de Jimmy Reed e “Before you Accuse me” de Eric Clapton.

Tradição e ousadia

Nuno lançou, em 2010, o seu trabalho mais recente. “Free blues” é uma espécie de sequência do disco anterior, “Outros Nunos”, de 2006, onde o músico faz uma incursão por outros ritmos musicais, como o rap e a música eletrônica, contando com as participações de Rappin Hood e de Zélia Duncan, entre outros convidados. Essa iniciativa de renovar o estilo não foi bem vista por alguns críticos e fãs, segundo Nuno. “Você está condenado a ser ‘o guitarrista de blues’. Ninguém quer saber se você leu Camões, Eça de Queirós ou faz poesia, também”, explica.

O músico, porém, acredita que é necessário revigorar o gênero centenário. “O blues, na forma em que anda sendo feito, é tecnicamente perfeito, é o samba dos caras, eles arrepiam. Mas não sai daquilo há 40 anos!”, afirma.

A capacidade, e a coragem, para reciclar um estilo tão enraizado como o blues, fazem de Nuno Mindelis um músico, antes de ser um bluesman. Se não fossem visionários como João Gilberto na MPB, Sex Pistols e The Clash no punk e Kraftwerk na música eletrônica, tudo viveria estagnado. Como diz o velho provérbio, “pedras que rolam não criam limo”.

Confira a entrevista completa em vídeo e três músicas do show.

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