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Presidente municipal do Livres em Foz do Iguaçu, Jackson Cabañas, agora filiado ao PODE e também bolsista do RenovaBR. Foto: Divulgação/Livres
Presidente municipal do Livres em Foz do Iguaçu, Jackson Cabañas, agora filiado ao PODE e também bolsista do RenovaBR. Foto: Divulgação/Livres| Foto:

O “Livres” tem outros planos a partir de agora. Com a entrada do presidenciável Jair Bolsonaro no Partido Social Liberal (PSL), anunciada há cerca de um mês, os militantes do Livres aprovaram imediata debandada da sigla de Luciano Bivar. E, agora, se espalham por outras legendas. A orientação é para que os desalojados se abriguem em partidos políticos que permitam autonomia aos novos filiados, inclusive para que eles possam continuar defendendo as bandeiras do Livres. Quem explica a estratégia é o presidente municipal do Livres em Foz do Iguaçu, o estudante e empresário Jackson Cabañas, de 22 anos, e que recentemente optou pelo PODE, do senador paranaense Alvaro Dias, para disputar as eleições de outubro. Cabanãs ainda é um dos 100 bolsistas do RenovaBR, outro movimento nacional cujo propósito, na definição dos próprios patrocinadores da ideia, é “acelerar a entrada de novas lideranças no Legislativo”. Dos 100 bolsistas selecionados (entre cerca de 4 mil inscritos), quase 20 pertencem ao Livres, revelou Cabanãs, durante entrevista concedida por ele à Gazeta do Povo, na sexta-feira (16). Leia abaixo os principais trechos:

Como e quando nasceu o Livres e em que momento você passou a fazer parte disso?

Hoje o Livres é uma associação suprapartidária. Nós optamos por esse caminho após a entrada do Jair Bolsonaro no PSL. Mas o Livres nasceu lá atrás, há uns 3 anos, incubado dentro do PSL. Houve um encontro de pessoas ali, mais liberais, que se juntaram, incluindo o Sergio Bivar, que é filho do Luciano Bivar, presidente nacional do PSL. E que ficaram de desenvolver um projeto de um partido 100% com viés liberal.

Vocês já nasceram, então, dentro do PSL?

Isso. O Livres vinha com a proposta de renovar o partido para depois renovar a política. Então a nossa intenção era conseguir renovar o partido, mudar o estatuto, mudar o nome. E isso foi um trabalho longo, até o Livres assumir o controle de todos os diretórios estaduais, o controle do programa de televisão partidária… O Livres ficou grande. Hoje nós estamos espalhados em todo país. Aqui em Foz do Iguaçu nós temos um grupo de 50 a 60 pessoas.

Qual o tamanho do Livres no Paraná?

No Paraná, temos de 200 a 300 militantes, espalhados em várias cidades. E hoje estamos trabalhando na ideia da associação, criando projetos de políticas públicas, projetos sociais. “Embaixadores de Zeis”, por exemplo, que ensinam empreendedorismo para pessoas em zonas especiais, em periferia. Nós temos que dar direção para aquilo que a gente acredita e para aquilo que a gente quer. E então, em cima disso, a gente ensina as pessoas que elas podem ser livres e também menos dependentes.

Dependentes do Estado? Vocês defendem o Estado mínimo…

Isso. Nós defendemos o Estado mínimo, a livre iniciativa, a liberdade individual.

São as principais bandeiras de vocês?

A liberdade em primeiro lugar. O objeto central do liberalismo é o indivíduo, e seu direito de fazer escolhas e tomar decisões. Por mais que elas possam ser nocivas a elas mesmas, nós não temos o direito, não podemos interferir no poder de decisão dos outros. Nós podemos debater, discutir, tentar convencer as pessoas das nossas ideias, mas não podemos impor a nossa verdade. Todo mundo tem suas ideologias, suas crenças, suas culturas, principalmente no Brasil, que tem muita diversidade.

O deputado federal pelo Paraná Alfredo Kaefer (que formalmente ainda está no PSL, embora também tenha anunciado desfiliação após a entrada de Jair Bolsonaro), já falou que o Livres confunde “liberdade com libertinagem”, que o Livres queria, ainda nas palavras do deputado Kaefer, “legalização de drogas, casamento gay, aborto, pena de morte, eutanásia”, e que isso “não cabe como bandeira de partido político, principalmente num país conservador como o Brasil”. De que forma vocês respondem à visão dele?  

Olha, o Kaefer se intitula liberal, e também conservador nos costumes. Mas, ele vem do PSDB, que é um partido social democrata, que é uma maneira mais delicada de dizer socialismo. Então, o Kaefer não entende muito de liberalismo. Até porque uma pessoa que de fato é liberal jamais votaria em algum projeto que vá contra a livre iniciativa, como ele fez. Ele se posicionou contra o Uber, defendendo o cartel, os taxistas, o monopólio. Então, o discurso não bate com a prática.

Agora, em relação às outras questões, como, por exemplo, pena de morte, eutanásia: nós somos pró-vida, a favor da vida, sempre. No caso do aborto, o Livres não se posiciona a respeito disso. Deixamos isso de forma mais aberta, para que cada um dos nossos associados tenha sua própria opinião. Eu, por exemplo, sou cristão, sou evangélico, e sou contra o aborto. Eu acredito mais na questão da prevenção, acho mais eficaz. E os casos de aborto permitidos a gente já encontra especificados na lei.

Acredito que o princípio, principalmente para quem é cristão, seja a liberdade, uma vez que Deus nos deu livre-arbítrio lá no começo da Bíblia, no começo da história do cristianismo. A liberdade precisa ser preservada. Talvez esse seja o problema do deputado Kaefer. Ele quer impor aquilo que ele crê sobre os outros. Nós somos contra isso.

Quando ele se posicionou sobre o Uber, a reação de vocês foi pela expulsão.

Sim, a expulsão. Naquele momento, o Livres tinha o Sergio Bivar como presidente nacional do PSL e nós anunciamos a expulsão. Mas, logo depois, o Luciano Bivar assumiu, colocou “panos quentes” na situação, e acabou ficando por isso mesmo. Mas, pelo Livres, ele foi expulso sim. Ele não representa as ideias e as bandeiras do Livres.

Bolsonaro representa tudo aquilo que nós combatemos

Seguindo adiante: de repente, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) anunciou sua entrada no PSL, lançado à presidência da República. Como foi a reação à entrada dele dentro do partido?

Olha, o Bolsonaro primeiro fechou um acordo com o Patriotas, o antigo PEN (Partido Ecológico Nacional). Deixou uma filiação pré-datada. Nesse momento, o Bolsonaro já começou a destituir diretórios estaduais dentro do PEN. O próprio presidente nacional do PEN [Adilson Barroso] falou em uma entrevista que o Bolsonaro nunca estava satisfeito com nada. Nós sabíamos que isso iria acontecer dentro do PSL. Além disso, o deputado Bolsonaro representa tudo aquilo que nós combatemos, o extremismo. Achamos que toda forma de extremismo é ignorante. Nós precisamos sentar, conversar, debater, dialogar. E uma coisa que o deputado Bolsonaro não faz é isso. Ele sempre parte para a agressão.

Quando houve rumor de que o Bolsonaro iria para o PSL, nós procuramos o Luciano Bivar, que nos garantiu, e nos deu total certeza de que o Bolsonaro não iria para o PSL. Já havia até uma negociação com mais de 10 deputados de outros partidos, para eles migrarem para o Livres. Aí passaríamos pela cláusula de barreira. Nos tornaríamos de fato um partido renovado por completo. E isso não aconteceu. Porque o presidente do PSL voltou atrás com a sua palavra. Aí o Livres saiu do PSL. E, agora, mais uma vez, o partido vai entrar na eleição como uma legenda de aluguel.

Com a saída de vocês do PSL, vocês pensam em apoiar algum outro nome à presidência da República?

Como o Livres saiu do PSL e se transformou agora em uma associação suprapartidária, nós liberamos todos os nossos associados para, de acordo com a conjuntura local, a realidade de cada um, nas suas cidades, se filiarem a algum partido no qual eles possam ter independência para trabalhar, para defender as bandeiras do Livres. Então, o Livres hoje não está mais concentrado em um único partido. Há três semanas, por exemplo, eu me filiei ao Podemos (PODE). Outros estão indo para o Partido Novo. Uma grande parte migrou para o Partido Novo. Mas tem gente nossa no PPS, no PMN…

Então, o Livres não vai apoiar nenhum candidato, nem se posicionar a favor de nenhum. Vamos nos posicionar contra ideias ou contra pessoas que representam… Por exemplo, o Lula é uma pessoa que hoje representa a corrupção. É lógico que a corrupção sempre houve, mas o governo do PT institucionalizou isso.

Vocês desistiram de se viabilizar como partido de fato? Isso ainda está nos planos? Vocês buscam assinaturas?

Neste momento, não discutimos essa hipótese. O Livres, hoje, se organiza como uma associação, com CNPJ, com uma diretoria, com um conselho deliberativo, e ideias claras, para que as pessoas possam entender. Mas, não descartamos a hipótese de, mais adiante, iniciarmos um processo para fundação de um partido.

Porque, sem a legenda, vocês ficam, por exemplo, sem fundo partidário, sem o “fundão eleitoral”, para as campanhas. Como vocês se viabilizam financeiramente? A associação recebe dinheiro? De quem? Como funciona?

Nós acreditamos que a gente tem ideias. E precisamos investir naquilo que nós acreditamos. Então, a grande maioria dos nossos projetos, dos nossos planos, serão bancados por pessoas que acreditam nas nossas ideias, que queiram fazer doações, que queiram entrar em contato. E nós também vamos nos autofinanciar, com recursos próprios.

Agora, em relação ao fundo partidário, muitos não chegam nem a ter acesso a ele. Muitos dos nossos diretórios estaduais [no PSL] funcionavam com a cara e a coragem. O Augusto Peluccio, que é um empresário de Rondônia, por exemplo, ele praticamente bancou os projetos que ele acreditava.

A maioria de vocês do Livres é empresário?

A maioria tem um perfil empreendedor. Tem muito advogado, muito empresário, tem jornalista. É bem amplo.

No Paraná, as administrações vão passando de pai para filho

Na sua visão, quais os obstáculos para a entrada de gente nova na política?

Primeiro, a política é sempre o caminho. Não adianta a gente querer achar outra solução. A política é o único caminho de transformação social, o instrumento que rege nossa vida em sociedade. O que nós tentamos, então, não é outro caminho, é corrigir os passos. Mas há dificuldades, claro. Por exemplo, gente nova, gente que não tem apadrinhamento, que é o meu caso, recebe críticas. A grande maioria vê o fato de eu ser jovem como um defeito. As pessoas têm uma ideia de que idade mede competência. Não é por aí. Falta espaço para pessoas novas, com novas ideias.

E tem o “carreirismo” político. No Paraná tem muito isso. As administrações vão passando de pai para filho. O deputado federal Francischini, por exemplo, tem o filho como deputado estadual. O Beto Richa é mais um. O pai também foi governador do Paraná, o Marcelo Richa seguindo o mesmo caminho. Vai de geração em geração. O “carreirismo” político prejudica. Essa maneira velha de fazer política é o que mais atrapalha.

Você se filiou ao PODE. Vai se candidatar para a eleição de outubro?

Eu sou um dos selecionados do RenovaBR. Um dos requisitos para entrar no RenovaBR é que os bolsistas sejam pré-candidatos a deputado estadual ou federal. Essa é a maneira de renovar a política. Então, eu sou pré-candidato a deputado federal. Não adianta a gente sentar numa sala, discutir ideias, e não tirar isso do papel. A gente tem que ir para a rua e dar a cara à tapa, falar com as pessoas, conseguir apoios que são fundamentais.

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